A pandemia tem impactado consideravelmente a economia global e acelerado transformações nas cadeias produtivas, comerciais e no setor agro. O uso de novas tecnologias e o ambiente mais digital - realidade para algumas grandes propriedades rurais - tem se tornado também alternativa para pequenos produtores, na busca por otimização de produção e melhor desenvolvimento de atividades. Mas como aproximar os pequenos produtores rurais e as soluções digitais voltadas para o agronegócio?
No Brasil, por exemplo, 77% dos estabelecimentos
agropecuários foram classificados como de ‘Agricultura Familiar’, de acordo com
o último Censo Agropecuário. Isso corresponde a cerca de 3,9 milhões de
propriedades rurais em todo o país em que, de alguma forma, os produtores
familiares necessitam de apoio para a travessia do mundo analógico para o
digital.
Um exemplo positivo de inclusão desses indivíduos -
com iniciativas de imersão em ecossistema de inovação e com presença em um dos
principais hubs de inovação do agronegócio mundial - se encontra na cidade de
Piracicaba, interior de São Paulo, conhecida como o “Vale do Silício" do
segmento. Nesse ambiente, o Sicredi, tem aproveitado a proximidade com seus
mais de 600 mil produtores rurais associados para formação de uma rede com o
acompanhamento constante sobre novas tecnologias que podem gerar transformação
e facilidade no dia a dia da lavoura. Ao mesmo tempo, fomenta no ecossistema de
startups o desenvolvimento de tecnologias adequadas à necessidade deste público
tão específico.
Para esse desenvolvimento, mostra-se essencial o
entendimento sobre a realidade dos pequenos e médios produtores de maneira
profunda, ao envolvê-los no processo de exploração e criação de soluções. O
cooperativismo de crédito tem utilizado a proximidade construída com os
produtores rurais, ao longo de sua história de atuação, para identificar, por
meio de sua rede de colaboradores, os desafios das pequenas e médias
propriedades, além de pesquisas para ouvir diretamente dos produtores as principais
dificuldades encontradas.
Essa proximidade tem possibilitado mais acerto no
processo, ao mesmo tempo, demonstrando que alguns entraves ainda distanciam o
pequeno produtor de novas tecnologias para o Agro. Isto posto, vivemos em um
país continental e com diversas realidades e, se observarmos a realidade deste
público, podemos perceber algumas dificuldades que perpassam pela distância
entre pequeno produtor e os polos de tecnologia, a falta de conhecimento e
habilidade para uso das soluções, a pouca conectividade no campo, a carência de
apoio técnico para escolha de ferramentas mais adequadas, além da falta tempo
para conhecer ou testar novas soluções. Também é preciso identificar questões
culturais e tradições familiares, uma vez que alguns produtores ainda são
desconfiados em relação às inovações que coloquem em dúvida o conhecimento
empírico, principalmente aquele transmitido por gerações.
Nesse sentido, movimentos como os promovidos pelo
Sicredi têm ajudado a diminuir as lacunas ainda existentes. As iniciativas de
aproximação têm sido pensadas a partir de etapas fundamentais que contemplam a
inclusão digital, com auxílio a produtores na construção de uma infraestrutura
necessária para adoção de tecnologias; o conhecimento e a habilidade de uso com
capacitação para utilização de celulares e computadores e até ferramentas mais
desenvolvidas, como drones e análise de imagens georreferenciadas; o acesso a
tecnologias por meio da conexão com ambientes em que as inovações estão sendo
antecipadas e, por fim, o apoio e suporte para a escolha da solução que melhor
corresponda às necessidades da propriedade e atividade.
Esse trabalho colaborativo tem demonstrado que,
para avançarmos nesta jornada, precisamos superar tanto barreiras culturais
como estruturais. Por isso, é fundamental a cooperação dos agentes da cadeia do
agro para auxiliar os pequenos e médios produtores na transição para o digital.
Sem essa proximidade, estaremos criando um grande número de soluções, mas com
pouca utilidade e adoção prática.
Anderson Soares Pivotto - Hunter de Inovação do
Sicredi e atua na área de Open Baking & Inovação da instituição financeira
cooperativa.
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