Tradicionalmente associadas a profissões das ciências humanas e biológicas, meninas precisam ser incentivadas desde cedo a ter interesse por física, química e matemática, dizem especialistas
Boneca, casinha, escolinha. A lista de brincadeiras
para as quais as meninas são estimuladas desde cedo é conhecida e costuma se
repetir. Em geral, são atividades relacionadas ao cuidado consigo e com os
outros, voltadas a um papel social que, por séculos, foi designado como única
ocupação possível para o gênero feminino. Enquanto isso, os meninos recebem
muito mais incentivos para se envolver em atividades que, no longo prazo,
ajudam a desenvolver uma maior habilidade e interesse em números, programação e
outras áreas ligadas às ciências exatas.
Para a oficial de Programas de Educação da
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco)
no Brasil, Mariana Braga, é preciso parar de reforçar os estereótipos de gênero
que pregam que o homem e a mulher têm papéis distintos a cumprir. “É como se
houvesse padrões de carreira para meninas e outros para meninos. Mudar isso
também cabe às escolas, elas têm a missão fundamental de trabalhar pela
equidade de gênero. É na escola que se começa a garantir o acesso das meninas a
melhores condições no mercado de trabalho”, explica.
De acordo com a especialista, isso pode ser
modificado por meio da desconstrução dos papéis designados às meninas, com
atividades simples que mostrem a importância da participação de todos - meninos
e meninas - nos trabalhos domésticos, por exemplo. “Confio muito na
criatividade dos professores brasileiros para chamar os estudantes a uma
reflexão profunda. Assim, eles poderão entender que as meninas são capazes de
entrar nas carreiras científicas, da mesma forma que os meninos podem encarar
outras carreiras historicamente vistas como femininas”, afirma.
O caminho da experimentação
Segundo dados da Organização das Nações Unidas
(ONU), apenas 35% dos estudantes matriculados em carreiras de ciências,
tecnologia, engenharias e matemática (STEM, na sigla em inglês) são mulheres.
Quando se foca nas engenharias (produção, civil e industrial) e na tecnologia,
o cenário é ainda pior: elas não chegam a 28% do volume total de estudantes.
Isso se reflete também no universo corporativo. Apenas 13% das empresas têm
CEOs mulheres no Brasil, de acordo com pesquisa divulgada pela consultoria Talenses
e pelo Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) em 2019.
A gerente de produto do Sistema de Ensino Aprende
Brasil, que atende a mais de 200 municípios brasileiros, Damila Bonato,
ressalta que os materiais didáticos e atividades propostas desde a Educação
Infantil são fundamentais para estimular o interesse das meninas em áreas que,
historicamente, foram vetadas a elas. “Os instrumentos didáticos e pedagógicos
usados durante a infância precisam ser desenvolvidos para despertar a
curiosidade por questões ligadas à tecnologia e à ciência. Atualmente há muitos
recursos tecnológicos que podem ser aplicados desde cedo e que,
combinados com uma equipe pedagógica preparada, permitem que as meninas se
sintam encorajadas a se aprofundar nesses assuntos”, avalia.
Sônia Elisa Marchi Gonzatti é professora de física
e coordenadora do projeto Meninas na Ciência, na Universidade do Vale do
Taquari (Univates), no Rio Grande do Sul, além de integrar o grupo de pesquisa
“Ciências Exatas, da Escola Básica ao Ensino Superior”. Para ela, o que falta
no Brasil é apresentar as meninas às muitas possibilidades das ciências desde a
Educação Básica. “Precisamos trazer mais atividades experimentais para a escola
básica, desde os anos iniciais. O Brasil não tem tradição em ensino experimental
e investigativo, que é importante para meninas e meninos”, destaca. No entanto,
como as meninas já são minoria em cursos de graduação em STEM, elas precisam de
uma atenção pedagógica ainda mais cuidadosa. “Elas precisam se sentir incluídas
nessas atividades. É normal que os meninos tomem a frente porque recebem mais
brinquedos voltados à lógica, então é papel dos professores permitir que as
meninas coloquem a mão na massa, treinem suas habilidades, mexam nos
experimentos”, pontua. Colocá-las em uma posição de protagonismo e liderança em
projetos científicos e de experimentação é fundamental, nesse sentido. Outra
maneira de permitir que elas sonhem com carreiras em STEM é levar para
encontros e palestras de mulheres cientistas que já se destacam em suas áreas
de estudo e atuação.
No episódio nº 26 do podcast PodAprender, Mariana e
Sônia falam sobre como a escola pode estimular meninas a atuar em áreas ligadas
às ciências exatas e à tecnologia. Todos os episódios do PodAprender estão
disponíveis no site do Sistema de Ensino Aprende Brasil (sistemaaprendebrasil.com.br),
nas plataformas Spotify, Deezer, Apple Podcasts, Google Podcasts e nos
principais agregadores de podcasts disponíveis no Brasil.
Sistema de Ensino Aprende Brasil
http://sistemaaprendebrasil.com.br/
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