Na data em que o bem-estar e estilo de vida saudável são celebrados, é importante entender os mecanismos de ação e possíveis efeitos colaterais de cada medicamento
O Dia Internacional do
Autocuidado, comemorado anualmente em 24 de julho, foi criado para promover o
bem-estar e estilo de vida saudável em todo o mundo e simboliza que os
benefícios do autocuidado são vividos 24 horas por dia, sete dias por semana. O
uso de medicamentos que aliviam dores sem a necessidade de prescrição médica -
como os analgésicos e anti-inflamatórios - pode ser um aliado na promoção do
bem-estar e qualidade de vida quando utilizados de acordo com a posologia
correta. Entretanto, existem diferenças entre os dois tipos de medicamentos que
precisam ser consideradas no momento em que a dor aparece.
Analgésicos e
anti-inflamatórios estão entre as classes de medicamentos mais utilizados no
Brasil. Segundo a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, estudos
brasileiros relatam que o consumo de analgésicos e anti-inflamatórios por
automedicação costuma ocupar efetivamente um lugar de destaque para o alívio da
dor entre os idosos, sintoma comum nessa fase da vida. Porém, além das duas
classes de medicamentos possuírem mecanismos de ação diferentes, eles também
podem causar eventos adversos distintos e apresentam interações medicamentosas
divergentes, o que pode impactar na saúde da população mais envelhecida.
Para fazer a escolha
correta do medicamento, é necessário conhecê-lo e entender como eles atuam na
dor e no corpo. Em linhas gerais, existem três classes de analgésicos: os
comuns, como paracetamol e dipirona; os opioides, como morfina, codeína e
tramadol; e os anti-inflamatórios não esteoidais, como aspirina, ibuprofeno e
diclofenaco. Há, ainda, os anti-inflamatórios esteroides, como os corticóides,
indicados para doenças como asma e as inflamatórias autoimunes.
Os analgésicos, como o
paracetamol, por exemplo, circulam na corrente sanguínea e identificam o local
onde estão sendo produzidas as prostaglandinas - substâncias sintetizadas pelas
células lesionadas. Essa substância é a responsável por sinalizar a dor para o
cérebro. O princípio ativo do analgésico bloqueia os receptores sensoriais,
fazendo com que o cérebro deixe de reconhecer o incômodo, seja uma dor de cabeça
ou uma dor nas costas. O medicamento reduz a febre atuando no centro regulador
da temperatura no Sistema Nervoso Central (SNC) e diminui a sensibilidade para
a dor. Seu efeito tem início 15 a 30 minutos após a administração oral e
permanece por um período de 4 a 6 horas. Já os anti-inflamatórios não
esteroidais (AINEs), como o ibuprofeno e o ácido acetilsalicílico, agem através
da inibição da síntese de prostaglandinas, atuando na redução da dor
inflamatória e da febre.
Para a médica Fania
Cristina Santos, geriatra e coordenadora do Comitê de Dor no Idoso da Sociedade
Brasileira para o Estudo da Dor (SBED), os anti-inflamatórios não esteroidais
podem apresentar riscos para a saúde de pacientes idosos, ainda que eles
estejam acostumados a usá-los. "Eu sempre indico os analgésicos simples
como primeira opção, por segurança gastrointestinal e renal. Para os idosos
acima de 80 anos, que é uma população diferenciada e de maior risco, o uso de
um AINE é ainda mais preocupante", afirma.
Dentre as
características clínicas mais importantes dos idosos, destaca-se o fato desta
população apresentar respostas a medicamentos diferentes daquelas apresentadas
por pacientes mais jovens. As conseqüências de tais alterações no idoso são
mais pronunciadas e mais severas em relação a determinados medicamentos,
principalmente os que apresentam alto risco de eventos adversos e muitas
interações medicamentosas.
"Os pacientes
procuram o cardiologista por conta de doenças crônicas associadas, como
hipertensão ou doenças cardiovasculares. Meu papel é desmistificar o uso do
AINE como analgésico, muitas vezes induzido por indicação incorreta. Minhas
principais preocupações com o uso são a disfunção renal e o agravo da
hipertensão", explica Jaqueline Scholz, cardiologista e especialista em
tratamento de tabagismo, dislipidemia e prevenção de doenças cardiovasculares.
Segundo ela, os pacientes confundem o uso do anti-inflamatório com o
analgésico, o que pode ser prejudicial à saúde.
Na opinião da geriatra
Fania Santos, o único impedimento para não usar analgésico simples como
primeiro degrau da analgesia são em dores agudas de moderada e forte
intensidade. "Em geral, tanto para dores crônicas quanto para dores agudas
de primeiro degrau, é recomendado analgésico simples", complementa.
Paracetamol é um
analgésico simples e uma opção segura para tratamento de dor e febre em pessoas
que já fazem algum tratamento medicamentoso contínuo para as doenças mais
prevalentes nos brasileiros com mais de 50 anos, como diabetes, hipertensão,
problemas cardiovasculares ou gastrointestinais, por ser a molécula de
analgesia que apresenta baixos eventos adversos associados e poucas interações
medicamentosas.
Apesar dos
medicamentos isentos de prescrição serem vendidos sob orientação do
farmacêutico, é sempre importante consultar um médico em caso de sintomas
dolorosos, principalmente aqueles que se prolongam e que são intensos, já que
podem ser sinal de uma condição de saúde mais grave. Já os medicamentos
indicados para a dor crônica, dor pós-operatória ou outros casos de dor mais
severos, devem ser exclusivamente prescritos pelo médico.
Johnson & Johnson
Consumer Health
Referências: 1. Bula
do Produto. 2. Melo LA, Lima KC. Factors associated with the most frequent
multimorbidities in Brazilian older adults. Cien Saude Colet. 2020 Oct;25(10):3879-3888.
Portuguese, English. doi: 10.1590/1413-812320202510.35632018. Epub 2019 Jan 6.
PMID: 32997020.
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