Dados
apontam que 1 em cada 20 pessoas pode apresentar algum problema relacionado ao
processamento sensorial.
Embora ir
ao parque seja diversão garantida para a maioria das crianças, para algumas
pode não ser uma experiência tão agradável. Isso, na verdade, pode ser um sinal
de que há alguma alteração no processamento sensorial vestibular e
proprioceptivo.
Mas, o que é isso?
Segundo a fisioterapeuta Walkíria Brunetti, especialista na área de neurologia,
o sistema vestibular é responsável pela percepção da posição da cabeça no
espaço, bem como pela movimentação, mudança de velocidade e direção do
movimento.
“O que poucas pessoas sabem é que esse sistema tem bastante influencia no
processo auditivo, de linguagem, assim como no aprendizado, nos comportamentos,
na função óculo motora e no esquema corporal”.
“Já o sistema proprioceptivo permite, sem a ajuda da visão, o posicionamento de
uma parte do corpo no espaço ou ainda a percepção do movimento. Na prática, é a
capacidade de saber e controlar em qual posição estão as partes do corpo em
cada momento e movimento”, explica Walkíria.
Medo do balanço
Walkíria comenta que, em geral, são crianças que se sentem desconfortáveis com
atividades que demandam movimentos rápidos. “Costumam ter medo de altura e
precisam manter os pés no chão. Portanto, balanços, gira-gira e gangorras, por
exemplo, são brinquedos que podem causar pavor nessas crianças”.
É importante dizer que embora a condição seja mais comum no autismo, crianças
com desenvolvimento neuropsicomotor normal também podem ter essa alteração no
processamento sensorial. “Muitos pais nem imaginam que a recusa de certas
brincadeiras pode ter relação com essas alterações sensoriais”.
Sinais precoces
Quando bebês, podem não gostar de serem tirados do berço, do carrinho, muito
menos ninados. Mais tarde, no aprendizado da marcha, podem ter dificuldade de
se manter em pé, arrastar-se, engatinhar e andar. Claro, a recusa em ir para o
playground deve ser um sinal de alerta.
“Na escola, precisam apoiar o queixo na mesa, esbarram na mobília e caem quando
o centro da gravidade muda. Podem ter dificuldade para olhar para o quadro e de
volta para a mesa, ou ainda apresentar dificuldades para ler, especialmente
quando há alteração na capacidade de coordenar os olhos à direita e à
esquerda”, explica Walkíria.
A especialista ressalta que, como todas as informações sensoriais são
processadas de acordo com a referência das informações vestibulares, caso esse não
funcione corretamente, haverá impacto na interpretação das demais sensações.
“Isso quer dizer que essa alteração no processamento sensorial prejudica o
desenvolvimento global da criança”.
Terapia de integração sensorial
Quando os pais perceberem algum desses sinais, o ideal é procurar um
especialista em desenvolvimento neuropsicomotor para uma avaliação. Caso a
alteração seja confirmada, o tratamento pode ser feito com a terapia de
integração sensorial.
"A terapia de integração sensorial vai ajudar a criança a organizar o
processamento das sensações vestibulares e proprioceptivas. Ela irá aprender a
diferenciar e a reagir com respostas motoras mais adequadas aos movimentos.
Também irá treinar o equilíbrio, a orientação espacial e outras habilidades
necessárias para corrigir o problema”, reforça Walkíria.
Quando procurar o especialista?
O sucesso no tratamento depende da precocidade da intervenção. Isso devido à
neuroplasticidade, que é a capacidade do cérebro em fazer novas conexões.
A plasticidade cerebral é mais intensa nos primeiros anos de vida,
especialmente até os dois anos de idade. Nas crianças maiores,
também é possível aplicar métodos terapêuticos que irão melhorar essas
alterações.
"O tratamento precoce, portanto, é fundamental para que a criança tenha
todas as oportunidades de um desenvolvimento neuropsicomotor adequado, sem
repercussões futuras”, conclui Walkíria.
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