Famílias
brasileiras comprometeram mais de 10% da renda com juros, segundo estudo
R$ 278,8 bilhões. Esse foi o montante que o sistema financeiro recebeu pelos
juros cobrados de pessoas físicas e jurídicas no Brasil no primeiro semestre do
ano. É o que indica estudo realizado pela FecomercioSP, com base em dados do
Banco Central (BC) – um valor 1,6% maior em comparação ao primeiro semestre de
2019.
De forma proporcional, o montante representa 7,7% do Produto Interno Bruto
(PIB) semestral – tudo isso no período mais agudo da pandemia de covid-19 no
País, num cenário econômico cuja taxa Selic manteve o patamar de 2% a.a. e a
inflação permaneceu na faixa dos 2,5% a.a.
A inadimplência (total de dívidas acumuladas acima de 90 dias), que atingiu R$
78,8 bilhões em junho, foi 254% menor do que o valor transferido, de fato, para
as instituições financeiras no mesmo intervalo de tempo – o que, para a
Entidade, evidencia o espaço que há para redução de taxas e para mais
equilíbrio entre o endividamento do setor privado e o seu real padrão de
solvência.
No total, o sistema financeiro emprestou R$ 1,76 trilhão para pessoas físicas e
jurídicas no País no primeiro semestre, valor equivalente a quase o total dos
R$ 2,13 trilhões do saldo de crédito em carteira do sistema no fim de junho de
2020. Isso significou também que o volume de concessões acumuladas entre
janeiro e junho deste ano cresceu 2,3% em relação ao mesmo período de 2019,
quando foi de R$ 1,728 trilhão.
Pessoas físicas
No período analisado, grande parte do montante de juros foi transferido para as
instituições financeiras por pessoas físicas: R$ 201,5 bilhões, um crescimento
de 1,1% em relação ao primeiro semestre do ano passado (quando foram pagos R$
199,4 bilhões em juros).
No entanto, em meio a um contexto pandêmico, a taxa de inadimplência registrou
uma variação significativa para cima: 17,1%, passando de R$ 49,8 bilhões nos
primeiros seis meses de 2019 para R$ 58,3 bilhões agora.
De acordo com a análise da FecomercioSP, com renda semestral média de R$ 1.971,
as famílias brasileiras comprometeram 10,22% de tudo o que receberam para pagar
juros.
No período estudado, o sistema financeiro emprestou R$ 866,4 bilhões a pessoas
físicas no Brasil, praticando uma taxa de juros média mensal efetiva de 3,27%.
No acumulado do semestre, essa taxa foi de 21,3%.
Pessoas jurídicas
As empresas, por sua vez, transferiram R$ 77,3 bilhões em pagamentos de juros
para as instituições financeiras no primeiro semestre do ano. Chama a atenção
principalmente que, embora o montante pago tenha crescido 2,8% em relação ao
mesmo período de 2019 (R$ 75,2 bilhões), a taxa de inadimplência registrou uma
queda significativa de 8,7%: de R$ 22,4 bilhões no ano passado para R$ 20,5
bilhões agora.
Em outras palavras: as pessoas jurídicas pagaram mais juros em um cenário de
menos endividamento.
Segundo a FecomercioSP, o total transferido em juros do setor produtivo para o
sistema financeiro representa 2% do PIB semestral, o que seria, em comparação,
o mesmo valor usado para financiar o programa de auxílio emergencial do governo
federal em meio à pandemia por dois meses, atendendo em torno de 63 milhões de
pessoas.
O juro médio mensal praticado foi de 1,36% (retração de 12,5% em relação ao
primeiro semestre de 2019), enquanto o acumulado do período foi de 8,4%
(redução de 12,9%) – o que, para a Entidade, ainda é muito acima do padrão de
2% da Selic.
PRINCIPAIS NÚMEROS DO ESTUDO SOBRE JUROS
Total de juros pagos por pessoas físicas e jurídicas no primeiro semestre de
2020
R$ 278,8 bilhões (alta de 1,6% em relação ao mesmo período de 2019)
Total de juros pagos só por pessoas físicas no primeiro semestre de 2020
R$ 201,5 bilhões (alta de 1,1% em relação ao mesmo período de 2019)
Total de juros pagos só por pessoas jurídicas no primeiro semestre de 2020
R$ 77,3 bilhões (alta de 2,8% em relação ao mesmo período de 2019)
Taxa de inadimplência entre pessoas físicas e jurídicas no primeiro semestre
de 2020
R$ 78,8 bilhões (alta de 9,1% em relação ao mesmo período de 2019)
Taxa de inadimplência só entre pessoas físicas no primeiro semestre de 2020
R$ 58,3 bilhões (alta de 17,1% em relação ao mesmo período de 2019)
Taxa de inadimplência só entre pessoas jurídicas no primeiro semestre de
2020
R$ 20,5 bilhões (queda de 8,7% em relação ao mesmo período de 2019)
Nota metodológica
O estudo quantificou o volume de recursos destinados nos primeiros seis meses
de 2019 e de 2020 para o pagamento dos juros dos empréstimos obtidos pela
tomada de crédito de recursos livres, tanto pelas empresas (PJ) como pelas
pessoas físicas (PF). Ao mesmo tempo, quantificou e expôs a evolução dos níveis
de inadimplência das PF e PJ nesse mesmo período. O dimensionamento dessas duas
variáveis – juros pagos e valores de crédito em atraso – permite se ter a noção
clara da importância do impacto das taxas de juros praticadas teve sobre o
comportamento da liquidez do setor privado ao longo da pandemia vis a vis com o
ocorrido no mesmo período do ano anterior.
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