Nas eleições
do ano passado, o eleitorado deu giro de 180 graus no conjunto de suas opiniões
sobre a situação nacional. Durante 25 anos, a direita ficou sem partido e sem
voz. Essencialmente antipetista, renasceu vigorosa nas redes sociais após os
achados da Lava Jato e se identificou com o discurso conservador de Bolsonaro.
Era evidente, e o tempo veio oferecer prova, que o combate da grande imprensa
ao candidato antes e durante o período eleitoral não iria amainar após a
eleição. Os gigantes da comunicação não
iriam se dar por vencidos e, menos ainda, reconhecer que erraram em suas
avaliações sobre o que viria a ser um governo do capitão. Como ficam tais
veículos se o governo for bem sucedido? O que dirão "lá em casa?"
Isso explica
muita coisa. Mas não explica suficientemente tudo. Veja, leitor, o que está
acontecendo ante as mais recentes decisões do STF, notadamente na invencionice
processual de "que o delatado fala por último nas alegações finais do
processo" e na deliberação que, na prática, acabou com a prisão após
condenação em segunda instância. Ambas aconteceram num país que saiu das urnas
com a tarefa de acabar com a cultura da impunidade, com a insegurança e com a
corrupção. Lugar de bandido é na cadeia. A sociedade sabe que muitos crimes
contra ela praticados não ocorreriam se os criminosos estivessem neutralizados,
contidos onde lhes sobram motivos para estar: atrás das grades.
Enquanto o
STF toma decisões das quais até Deus duvida, o Congresso Nacional vem na
contramão da vontade social, surdo à voz das ruas, atropelando os urgentes
anseios da sociedade. Legisla velozmente em causa própria, aprova leis que
inibem a persecução penal e revela total inapetência ante o cardápio
legislativo que o governo e a sociedade lhe propõem. Seus dois presidentes,
Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre respondem às iniciativas moralizadoras
balançando a chave do arquivo - destino prometido a todas que possam colocá-los
em risco.
Quadro de
terror. Bandidos sendo soltos, chefes de quadrilha, corruptos e corruptores,
festejando a liberdade e a leniência do Congresso. Insensibilidade do STF, que
se desdobra beneficiando a cultura da impunidade.
Voltemos,
então, às primeiras linhas deste artigo. O que faz a grande imprensa perante
fatos tão graves? Lava as mãos em água suja? Qual a opinião de tais veículos
sobre a desconsideração dos poderes à vontade de seus leitores, fregueses da
indústria da informação? Que opinião têm sobre a conduta de Rodrigo Maia e Davi
Alcolumbre? Onde sumiram os adjetivos que lhes seriam corretamente aplicáveis?
Onde as urgentes matérias para constranger o Centrão e seu chefe Arthur Lira,
réu perante o STF? Nada! Que jornalismo é esse, surdo à sociedade, que só tem
opinião ácida e desmedida sobre o presidente da República?
Se pequena
parcela do esforço que dedicam para atacá-lo fosse usada com o intuito de
colocar o país nos eixos da decência e do efetivo combate à impunidade, o povo,
o público, os leitores, os aplaudiriam e não precisariam sair às ruas para
expor os fatos do alto de um carro de som.
Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
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