Confesso-me
impressionado com o poder da máquina publicitária montada em torno do
ambientalismo. De repente, como se tivessem recebido uma revelação espiritual,
pessoas de quem se espera discernimento reverenciam uma adolescente de 16 anos
que fala sobre um apocalíptico fim do mundo. Com frêmitos de ira, chicoteia
supostos vendilhões do planeta expulsando do templo da mãe terra qualquer um
que ouse acender um lampião de querosene.
Ela mesma, para dar exemplo, perdeu 21
dias de aula viajando de Lisboa a Nova Iorque a bordo de um veleiro. Verdadeira
multidão de repórteres a aguardava. Parecia uma tribo de selvagens de i-phone
recebendo a visita de uma navegadora vinda do passado. Com Greta, chegava a
redenção daquela turma motorizada. Com ela, retomavam-se as Grandes Navegações
e os sete mares se fariam coloridos pelos velames da nova versão pop da marinha
mercante. Milhões de toneladas de alimentos embarcadas em tonéis. Uma nova
logística para a humanidade. Alelulia!
"How dare you!". Essa expressão - "Como vocês se
atrevem!" - saída da boca de uma adolescente, impressionou o mundo mesmo
que não esteja muito claro de onde lhe vêm as credenciais se não do discurso
decorado. O mundo é muito impressionável. Greta tem uma autoridade
autorreferida, produto de um pânico implantado, endossado por uma mídia pronta
para abraçar qualquer tese que sirva aos grandes negócios da agenda
ambientalista e/ou aos interesses políticos da esquerda. A inimizade dessa
imprensa com o progresso, com o desenvolvimento econômico e com a geração de
empregos é mais do que declarada. Contudo, na ausência da trinca - progresso,
desenvolvimento e empregos -, sobrevêm miséria e fome.
Com
efeito, miséria e fome são males que frequentam o fim da estrada para as
dezenas de experiências esquerdistas ao longo de um século inteiro. E eu não
vejo como não esperar por ambos num cenário econômico movido a vento, onde os
aeroportos (1), politicamente incorretos, todos, precisam esvaziar-se. O
aplaudido antagonismo com a livre iniciativa deveria disparar, isto sim, um
sinal de alerta, em direção inversa, a toda a humanidade. O ser humano não é
ecológico. Nem os índios o são plenamente. Ao contrário da exclamação de Greta,
nós é que deveríamos interpelar seus apoiadores: "How dare you!". Não
a utilizem para tais fins!
Muito
mais realista do que o discurso que lhe ensinaram, longe do qual, sem a prévia
redação ela já deu sinal de ficar sem conteúdo,
é saber que os próprios navios da ONG Greenpeace se movem a óleo diesel e que,
portanto, essa histeria contra combustíveis fósseis tem boa dose de hipocrisia.
Faz o que eu digo, não faz o que eu faço.
{c(1)
Há, na Suécia, um movimento com o
intuito de criar constrangimento ético a quem viaja de avião. Chama-se
"Vergonha de voar" (em sueco flygskam)...
Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
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