Em meados de julho, o
ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, enviou para análise do Congresso
Nacional um projeto para a criação do programa Médicos pelo Brasil. O texto,
avalizado pelo Governo Federal, foi muitíssimo bem recebido pela sociedade por
atacar de frente alguns problemas sérios da assistência à população.
De forma geral,
solucionaria vários desvios do programa Mais Médicos. A começar pelo
estabelecimento de regras transparentes e obrigatórias para a revalidação de
diplomas dos graduados fora do Brasil.
Assim, teríamos sempre
boa probabilidade de o profissional a nosso dispor, se formado no exterior, ser
de fato capacitado para a boa prática, pois passara por avaliação e comprovara
qualificação.
Enfim, um dos focos do
Médicos pelo Brasil era colocar ponto final no passe livre que alguns
aventureiros usaram para vir a nosso País e exercer a Medicina, em anos
recentes, sem comprovar aptidão, uma perigosa lacuna do Mais Médicos.
Como destaquei
inicialmente, a propositura do Ministério da Saúde e do Governo Federal mereceu
aplausos da classe médica e de todo o universo da saúde. Isso por também
elencar critérios sólidos com vistas a resolver o histórico problema de falta
de profissionais para assistir à saúde das populações de regiões remotas e periferias.
Era de se esperar,
portanto, que fosse acolhida no Congresso Nacional sob aplausos. Lógico seria
transformá-la rapidamente em lei, de maneira a garantir mais resolubilidade ao
Sistema Único de Saúde e a combater com rigor uma máfia de diplomas que age
acintosamente nas áreas fronteiriças do Paraguai, Bolívia, Argentina e por aí
afora.
Só para ter ideia, as
faculdades de Medicina localizadas nessas localidades já ultrapassam 65 mil
estudantes brasileiros, reunidos em 39 instituições, o que representa mais de
1/3 do total de vagas para alunos de Medicina no Brasil, segundo o Censo da
Educação Superior de 2018. Em regra, a formação é de baixíssimo nível, já que a
maioria tem estrutura precária, não possuindo laboratórios, bibliotecas e
nenhum local para a prática clínica.
Detalhe: as mensalidades nestas
localidades estão, em média, entre R$ 700 e R$ 2.000, enquanto no Brasil o
valor gira entre R$ 5.000 e R$ 12.000. Várias nem exigem vestibular para a
matrícula.
Explicara está, então, a ida de
tantos sonhadores para fora. Só que os mesmos, independentemente de suas
vontades, viram bombas relógios. Malformados serão risco aos cidadãos, quando
na linha de frente do atendimento.
Ocorre que os parlamentares
acionaram o artefato durante a análise da proposta do Ministério da Saúde pela
Comissão Mista da Câmara dos Deputados. Retalharam o texto original e adensaram
centenas de emendas nocivas à prática adequada da Medicina. Ao documento
mutilado, batizaram-no de Projeto de Lei de Conversão 25/2019.
Semana passada, essa versão
desfigurada foi aprovada, pela Câmara e o Senado, trazendo péssimas notícias
aos brasileiros. A mais grave é a possibilidade de as faculdades privadas
participarem do processo de revalidação, fazendo avaliações e validando diplomas
obtidos no exterior.
É a brecha para que pessoas sem
formação adequada, graduadas em outros países, tenham diplomas revalidados e a
consequente autorização legal para atuar como médicos, mediante pagamento.
Lamentavelmente, fez-se do Revalida um balcão de negócios. Teremos mais médicos
e menos saúde.
Antonio Carlos Lopes - presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica
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