Assistimos em meados de 2017
a uma das maiores tragédias de Portugal. Pedrógão Grande, do Distrito de Leiria
e próximo a Coimbra, a uma temperatura de mais de 40 graus centrígrados e
ventos devastadores, quase que sucumbiu por inteiro a um incêndio implacável da
bela floresta que rodeava o vilarejo.
Os moradores ficaram
sitiados. Somente duas estradas comuns os vinculavam à saída do forno que se
fez inescapável. Noticiada a obstrução de uma das pequenas estradas,
demandou-se a outra, que se encontrava nas mesmas condições de impossibilidade
de fuga. 47 vítimas foram encontradas mortas naqueles caminhos.
O resultado final apontou 66
mortes, 254 feridos, 500 habitações destruídas e prejuízos de 500 milhões de
euros. Até hoje a paisagem desértica exibe as marcas da tragédia.
A analogia é aceitável à
análise do atual quadro político brasileiro. Um imenso e amado - nosso - país,
posto num cenário político estreito e labiríntico semelhante a Pedrógão. Duas
únicas estradas simplórias e tomada pelos matos o circunscrevem. A extrema
direita feroz e a esquerda demagógica e corrupta. Assim o indicam as últimas e
tristes pesquisas de intenção de voto.
Bem sabem os brasileiros de
boa fé - inclusive os candidatos não alinhados a esse desastre - que o povo não
suporta mais o fogo incandescente e demolidor da atual crise.
A vitória presidencial de
quaisquer dos segmentos apontados será a raiz do prolongamento de uma crise
generalizada cujos efeitos não mais suportamos. Votaremos para dizer que somos
mais perceptivos, inteligentes, bons intérpretes, ou para salvar - sim, o termo
é esse - nossa Nação de um incêndio que deixará marcas por anos e décadas?
Pouco importa se os demais
candidatos compreendam a gravidade desse cataclisma e demonstrem a grandeza
necessária para pôr o Brasil antes de suas vaidades pessoais e partidárias. O
povo, por mais que tenha sido surrado em seu direito básico à educação, tem
aquele saber intuitivo e incontestável do poeta das ovelhas, Alberto Caieiro. O
sol é o sol e a chuva é a chuva, não há vertigens do pensamento quando estamos
sob eles.
E o povo não suporta mais o
sofrimento. Nesse estado, a história diz que, além daquelas duas estradas
estreitas, poderemos encontrar, no terreno democrático, uma ampla e moderna
rodovia. O povo de Pedrógão, que escapou do pior, permaneceu no centro da vila,
cercado por cimento sólido que o poupou. O século passado criou as teorias dos
extremos - direita e esquerda -. Não doutrinou sobre a filosofia do centro, mas
o continente e a unidade europeia deu exemplo suficiente e prático de sua
eficiência ao criar o estado do bem-estar social em clima de liberdade e
respeito absoluto à liberdade e aos direitos humanos.
Ainda há tempo para
escaparmos do inferno se optarmos pela razão - simples -, das mulheres e
homens, ditada pela intuição que trouxemos ao nascer.
Amadeu
Garrido de Paula - Advogado, sócio do Escritório Garrido
de Paula Advogados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário