Tá louco. Você fala uma coisa e o povo entende outra. Escreve sobre uma coisa e o povo entende outra. Parece que a cada dia a comunicação entre os seres se torna mais difícil e os deuses agora devem estar é tampando os ouvidos para não se afetarem por tanta besteira vinda de um certo país da América do Sul
Conta a Bíblia, no Gênesis,
que a uma determinada altura dos acontecimentos os homens quiseram subir até
bem perto do céu para demonstrar sua tecnologia e capacidade de instalar-se
perto de Deus. Imagine, eles lá no bem bom dando ordens e nós aqui embaixo só
levando pedradas. Também queriam ficar conhecidos, ganhar poder. Teriam então
se disposto a construir uma gigantesca e colossal cidade em uma torre de barro,
pontuda, semelhante a uma lança, desafiadora, que chegasse até lá em cima.
Tarefa a que deram início em conjunto porque inicialmente ali todos se
entendiam, falavam a mesma língua. Não era igual obra ou reforma de hoje em dia
que você pede para fazer uma coisa e te entregam outra.
Teria então o Senhor,
irritado com a arrogância e soberba dos construtores, decidido mostrar quem é
que que mandava ali (ou aqui nisso tudo). Não gostou nada do que viu, embora
tenha até se espantado com a capacidade humana, até a achado bonitinha, mas
quis parar logo com tudo aquilo, prevendo que dali sairia uma espécie de
poderosa empreiteira que poderia mandar em tudo.
Não deu outra. De uma só
canetada acabou com a brincadeira. Desceu, confundiu a língua de todos, e os
dispersou sobre a Terra. A maior confusão.
Nesse pisão – maior barata voa da história -
pode ter escorregado e empurrado aqui para esse continente umas turmas muito
estranhas. A brasileira, entre elas. Assim, não há Cristo que faça com que nos
entendamos século após século, década após década, dia após dia, principalmente
quando perto de períodos eleitorais ou quando se trata de jogos e times de
futebol e escolas de samba, entre outros competitivos assuntos.
Aqui tenta ganhar quem
grita mais alto. Se bate no peito quando fala em outro idioma, mesmo que seja
esquecido o próprio, natural. Somos criativos até para mudar o sentido das
palavras, ou para impostá-las, fazendo firulas que as tornam formas de poder e
domínio, vide contratos de seguradoras, bancos, leis, tratados e teses que não
se entende nada desde seu próprio título, muito menos ao que se referem e para
o que podem servir.
Aqui se fala e não se
cumpre o que se fala. A palavra dada não tem valor. Palavras lançadas como
flechas apenas pairam no ar, como se fossem, hora dessas cair bem em cima das
nossas cabeças. Esqueçam o que se falou. esqueçam o que se escreveu. Esqueçam o
que foi prometido. Mentiras são como praga de gafanhotos, devastadoras.
O problema é que está chegando a hora de tentarmos nos entender. De ser dada informação e uma educação suficiente para que a população consiga raciocinar, discernir, compreender sozinha o que é que está sendo dito, o que significa e aonde levará. Hora de usarmos uma linguagem clara e comum. Agora, sim, tipo a daquele locutor de tevê que durante o jogo fica o tempo inteiro dizendo exatamente o que está acontecendo, como se não fôssemos capazes nem de enxergar e precisássemos de sua santa ajuda para entender o que se passa ali naquela partida.
Agora, sim, entraremos em outro campo, precisaremos saber tudo
sobre os jogadores, o seu passado e o que pretendem de futuro com suas jogadas
e estratégias, quais bandeiras levantarão, se as jogadas serão individuais ou
coletivas, como se movimentarão no cenário global. E, principalmente, quais
serão os seus salários. E os nossos.
Que tudo isso seja dito em linguagem bem clara, olhos nos olhos. Inclusive utilizando sinais - bem simples, para todos poderem entender, e com as mãos poderem apertar as melhores opções nas teclas. Confirmar.
Marli Gonçalves -jornalista – Como a música de
Caetano, (...)“A língua é minha Pátria/ eu não tenho Pátria: tenho mátria/ Eu
quero frátria”...”(...)“Gosto
de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões/ Gosto de ser e de estar E quero me
dedicar a criar confusões de prosódia/ E uma profusão de paródias/ Que encurtem
dores/ E furtem cores como camaleões”(...)
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