No dia 2 de agosto o Rio de Janeiro sediará a
edição brasileira do Diálogo Talanoa, iniciativa global ligada à
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) que busca
discutir alternativas e pensar ações efetivas para a redução das emissões de
gases de efeito estufa e combate à intensificação do aquecimento global por
consequências antrópicas. A UNFCCC estimula a realização desses diálogos antes
da 24ª Conferência das Partes (COP 24), que será realizada na cidade de
Katowice, na Polônia, em dezembro. O principal objetivo é incentivar países e
sociedade a incrementar esforços para que os objetivos do Acordo de Paris sejam
atingidos.
Iniciativas como essa são importantes para
relembrar o que temos feito para enfrentar a mudança global do clima. Mas, será
que nossos esforços estão sendo suficientes? Pelo Acordo de Paris, ratificado
por 179 países para conter as emissões de gases de efeito estufa e garantir o
desenvolvimento sustentável, o governo brasileiro colocou como sua meta de
contribuição a redução de 37% das emissões até 2025. Além disso, indicou uma
contribuição indicativa subsequente de redução de 43% em 2030. No entanto, é
importante relembrar que o País usou como referência 2005, ano em que foi
registrado o recorde de emissões do País e de desmatamento na região Amazônica.
Na época, a destruição da área chegava a 30 mil quilômetros quadrados por ano.
Hoje, o desmatamento no local fica em torno de 7 mil quilômetros quadrados/ano.
Números esses que praticamente garantiram a meta de redução de emissão de
gases, quando a mesma foi estabelecida.
Apesar do avanço da entrada em vigor do Acordo de
Paris, estamos longe de ter somente motivos para comemorar. O
Observatório do Clima – rede que reúne mais de 40 instituições brasileiras
atuantes na agenda climática – propõe um teto para emissão de gases de efeito
estufa no Brasil. O valor máximo seria de 1 giga tonelada/ano em 2030. Em 2016,
foi emitido 1.58 giga tonelada/ano (GtCO2e/ano). A distância da meta reflete
que ainda é preciso somar muitos esforços. Além disso, o Brasil é o País que
mais desmata florestas tropicais no mundo. Fator que, juntamente com as
mudanças de uso do solo, é responsável por metade das emissões nacionais. É
preciso enfrentar esse dilema e aproveitar melhor as áreas que já são
utilizadas para a produção. Mais de cem milhões de hectares desmatados para a
agropecuária estão abandonados no País e o investimento em tecnologias
garantiria um melhor aproveitamento dessas áreas, possibilitando um aumento significativo
da produção sem a necessidade de novos desmatamentos.
Apesar de praticamente cumprir as metas propostas
no Acordo de Paris, o Brasil ainda carece de políticas claras de redução de
emissão com a diminuição do desmatamento, fortalecimento de tecnologias e
iniciativas que promovam o uso de energias limpas e reduzam o consumo de
combustíveis fósseis. Não podemos esquecer também da importância de conservar
as áreas naturais que ainda resistem à expansão urbana e da agropecuária. As
Soluções baseadas na Natureza são a chave na busca pela melhoria da qualidade
de vida. Quanto mais equilibrado estiver o ecossistema, menos impacto a
sociedade vai sentir em relação às mudanças climáticas.
É preciso pensar em soluções agora. As alterações
climáticas não são consequências que deixaremos apenas para as futuras
gerações. Em várias regiões, vemos problemas gerados por chuvas excessivas ou
secas extremas. Em relação à biodiversidade, há o risco de que várias espécies
sofram os impactos das alterações do clima. Assim como nós, que já sofremos com
tantos eventos climáticos extremos como as fortes chuvas que assolaram a região
serrana do Rio de janeiro, em 2011, ou a estiagem que secou torneiras no estado
de São Paulo, em 2015. Pensar em ações de adaptação para enfrentar as mudanças
que já ocorrem são essenciais, assim como políticas eficientes capazes de frear
o aquecimento global. E a resposta para conseguir esse salto está na própria
natureza. O uso de Soluções baseadas na Natureza para aumento da capacidade adaptativa
de regiões vulneráveis pode também ser parte das ações de mitigação, uma vez
que florestas absorvem carbono durante seu desenvolvimento, contribuindo para o
atingimento das metas do Acordo de Paris de forma estratégica.
André Ferretti - gerente na Fundação Grupo
Boticário de Proteção à Natureza, membro da Rede de Especialistas em
Conservação da Natureza e coordenador geral do Observatório do Clima.
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