No ano de 1900, a expectativa de vida de um
brasileiro ao nascer era de apenas 33 anos. Em 1940, era de 43 anos. Apesar de
o país ser pobre e atrasado, a expectativa de vida no Brasil em 2016 atingiu
75,8 anos. As pessoas estão vivendo mais, muito mais. É uma mudança radical,
que tem impactos no mercado de trabalho, na previdência, na saúde, nas finanças
pessoais e, de resto, em todos os aspectos econômicos e sociais. Praticamente
nenhum setor deixará de ser impactado pelas mudanças demográficas e pela
expectativa de vida. Viver mais pode ser uma dádiva, desde que você entenda o
que está acontecendo e saiba lidar com as consequências.
Em relação às empresas abertas no território
brasileiro, 60% delas morrem antes de completar cinco anos. Em setembro de
2016, a revista Exame publicou matéria sobre as empresas instaladas no Brasil
que tinham mais de 100 anos idade: eram apenas 34. No atual mundo instável e de
revolução tecnológica constante, as empresas estão vivendo menos. Hoje, até
mesmo gigantes, como a General Motors, estão morrendo mais cedo. Há seis ou
sete décadas, as empresas duravam mais, os trabalhadores ingressavam em um
trabalho e só saíam ao se aposentar. Esse tempo acabou.
Duas perguntas se impõem: (a) por que esses
fenômenos estão ocorrendo? (b) quais as consequências para nossa vida pessoal?
Quanto à primeira pergunta, há algo interessante: os dois fenômenos que estão
fazendo as pessoas viverem mais são os mesmos que fazem as empresas viverem
menos. Esses fatores são: o progresso da ciência e a revolução tecnológica. A
explosão de conhecimentos científicos que se seguiu à descoberta do antibiótico
por Alexander Fleming em 1928 e a revolução tecnológica no mundo da
farmacologia, das ciências médicas e das condições sanitárias mudaram por
completo a expectativa de vida dos humanos. Muito breve teremos uma legião de
pessoas com mais de 100 anos.
Pois a evolução das ciências e a monumental
explosão das tecnologias estão jogando uma multidão de empresas no leito de
morte. Os exemplos são muitos. As grandes fábricas de automóveis – General
Motors, Volkswagen, Ford e outras – nasceram com a revolução na eletricidade no
fim do século 19 e a invenção do motor a combustão interna, e viveram
tranquilas por décadas. A maioria não previu que, nos anos 1980, os japoneses
viriam a ferir de morte a indústria automobilística norte-americana dentro do
próprio Estados Unidos. O deslumbre com o sucesso impediu que os executivos do
setor de automóveis percebessem a onda tecnológica que vinha em sua direção.
No mundo atual, algo parecido está ocorrendo. A
explosão de descobertas e invenções vem criando uma revolução tecnológica
permanente, sem data para acabar, que vai sangrar milhões de empresas em todo o
mundo. Uma consequência é certa: milhões de trabalhadores perderão seus
empregos mais de uma vez durante sua vida. Como a vida está mais longa, é
recomendável questionar sobre como se preparar para enfrentar essa realidade e
construir uma aposentadoria tranquila.
Em verdade, primeiro devemos pensar sobre como
resolver o problema de sustentar a nós e nossa família durante o tempo de
trabalho, que não será mais de apenas 35 anos; para quem tiver saúde, o período
de trabalho será de 50, 60 anos. Os sistemas de previdência social tal como
existem hoje vão desaparecer, é uma questão de tempo. Mais cedo ou mais tarde,
as duas previdências, a do INSS (trabalhadores privados) e a dos servidores
públicos, vão ser reformadas. Ou fazemos isso ou o país vai afundar na pobreza.
Não é uma questão ideológica. É imposição da realidade dos fatos.
Não há nada mais antigo e mais atrasado do que esse
embate tosco entre esquerda e direita (se é que existe isso no Brasil), uns
dizendo que a previdência está falida e tem de ser reformada e outros dizendo
que não. É o caso de perguntar quantos dessa gente observam o mundo, estudam,
analisam e adquirem conhecimentos necessários para um debate inteligente.
Certamente, bem poucos.
Quanto aos empreendedores, eles também devem pensar
sobre como prolongar a vida de suas empresas. As mudanças pelas quais o mundo
está passando exigem que as pessoas se adaptem e as empresas também. Teimar
contra os fatos não é bom caminho.
José Pio Martins - economista e reitor da Universidade Positivo
(UP).
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