A loucura da vaidade e avidez por mudanças para aparecer bem, de
bonita ou de bonito, nas redes sociais, nas selfies e etceteras faz surgir uma
nova sorte de criaturas, meio humanas, meio alguma coisa grotesca indefinível.
A situação está tomando um rumo que faz com que muitos virem também mortos nas
mãos de despreparados, ou, quando têm sorte e não ficam aleijados, apenas
patéticos sendo enganados por promessas de milagres.
Antes era bem mais
difícil fazer alguma transformação mais radical no corpo. Era preciso e
indispensável procurar um bom cirurgião plástico e seu hábil bisturi, com custo
em geral muito alto, e a clara necessidade de ficar em estaleiro por alguns
dias. Não era coisa de você entrar por uma porta de um jeito e sair de outro
como o que vêm sendo proposto ultimamente por todo tipo de malandros prontos a
lucrar com a sandice alheia. Dr.
Bumbum é grão de areia nesse zoológico sobrenatural.
A coisa vem num
assustador crescendo: primeiro foram as lipoaspirações. Enfia um cano e puxa
gordura daqui, dali. Pega dali, põe lá atrás. Muitas vítimas acabaram foi sem
gordura nenhuma; literalmente, ossos. Enterrados, inclusive.
Apareceram então
as aplicações de botox e ácidos com nomes proparoxítonos. Rugas e expressões
esticadas, paralisadas, bocas parecendo que acabaram de levar uma ferroada de
vespa. Peles do rosto amarradas, meio que costuradas com fios de ouro – sempre
tem algum elemento assim, nobre, sendo propagandeado - esticadas, atrás da
orelha.
Agora até que anda um
pouco mais suave e calmo, mas o comércio de próteses de silicone para os seios
também causou um belo estrago na paisagem humana que habita a terra quando
começaram a aparecer umas mulheres que dificilmente avistam seus próprios pés
diante daquela dupla frontal anexada, de bolas que chegam a conter até 750 ml.
Teve umas pondo mais de litro. A pessoa chega, mas o peito vem antes, abrindo
portas. Coisas de moda. “Alguém” determina o padrão e lá vai o trenzinho
seguindo. Os traseiros cresceram.
(E, vejam, tudo isso sem
falar no criminoso avanço de venda de hormônios, anabolizantes e outras drogas
para os que querem parecer saudáveis nas fotos feitas em academias. Daí saem
aquelas mulheres com acentuadas vozes travestidas que eu ainda não sei o que
virarão depois de alguns anos – talvez muxibas).
O problema não é, claro,
o importante avanço da medicina e das pesquisas na área de cosmética,
aperfeiçoamento do corpo humano, retardamento da velhice, busca de auto estima
e valorização estética. Isso é direito. Que fique claro.
O problema é a mentira,
a proliferação indiscriminada de aproveitadores profissionais, alguns nem um
pouco profissionais ou qualificados, prometendo mágicas. Tem dentista aplicando
botox, descascando dentes para enfiar uma tal lente de porcelana sem exatamente
informar consequências e quanto tempo aquele efeito lindeza vai durar. Tem
salões de cabeleireiros, ops,
esteticistas ou outros títulos super rebuscados, prontos a injetar, furar,
puxar, pintar, tatuar as caras das pessoas, inclusive com sobrancelhas de fazer
inveja aos melhores diabos e monstros da história da humanidade. Coisas
permanentes. Ficou bom? Que bom. Puxa, deu errado, não gostou? Que pena. Não
tem volta. Nem em dinheiro, nem em satisfação.
Esses dias o caso do Dr. Bumbum (!!!) e sua mãe
trouxe à tona na imprensa alguns depoimentos assustadores de outras vítimas,
muitas que estavam caladas, algumas até sem convívio social e envergonhadas depois
da barbeiragem pela qual pagaram bem caro. Meninas, gente jovem, que se
submeteram a esse açougueiro. Quase todas (inclusive a que morreu) queriam
ficar bonitas para as fotos nas redes sociais.
Repara que agora tudo
quanto é criancinha, adolescentes ainda imberbes, postam fotos com batonzinho e
fazendo boca de pato.
Vamos falar sobre bullying estético? Seria
necessário o quanto antes ressaltar para a geral que muitas destas celebridades
e subcelebridades que vemos todas serelepes nas fotos passaram por verdadeiras
transformações, mas não “no
real”, sim no banho de loja, no dinheiro que entra na conta, no
tratamento da imagem, em maquiagens ou photoshops?
Que elas não são exatamente daquele jeito, quase impossível?
Cinturas sem osso, peles translúcidas, barrigas negativas, dentes
resplandecentes, cabelos de boneca.
Além das fake news, teremos de
nos preocupar também com as fake
pessoas, as fakensteins.
Marli
Gonçalves - jornalista – Ah, se houvesse um
passe de mágica! Mas até Cinderelas têm limite. Meia noite. E olhe lá.
SP, agosto vem aí
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