Vou dar os números rapidamente e seguir
em frente para que você não desista de prosseguir na leitura. Segundo dados do
PISA, divulgados nesta quinta-feira (19/07), referentes a um conjunto de 70
países, 61% dos estudantes brasileiros desistiram no decorrer da prova (foram
18% na Colômbia e 6% na Finlândia). Os estudantes brasileiros conseguiram o 65º
lugar em ciências, o 63º em matemática e o 58º em leitura.
Pronto, pronto, o pior já passou. Agora,
segure essa tristeza cívica, seque as lágrimas e vamos examinar o fato em si. A
imensa maioria dos pedagogos brasileiros está convencida de que isso se resolve
com mais Paulo Freire, aquele autor a quem você só critica em público se
estiver a fim de ouvir desaforos. Eis o motivo pelo qual, mesmo os que dele
divergem silenciam em vez de denunciar os danos que já produziu à educação
brasileira. Jamais use o nome desse deus em vão. Diante do lead deste texto, os fiéis seguidores do “padroeiro” da educação
nacional afirmarão que o PISA é um parâmetro bom para a realidade do aluno da
Finlândia, mas não “dialoga” com uma sociedade em que os jovens precisam ser
“conscientizados” de sua condição oprimida e de sua necessidade de libertação.
Deu para entender, ou quer que o professor barbudinho lá do quadro negro
desenhe?
Cresça e apareça, PISA! Quando a turma
de vocês estiver interessada em “problematizações” que não envolvam aritmética,
ou em medir a qualificação e preparação de alunos para a cidadania, venham
todos ao Brasil. Antes não. Elaborem um questionário sério sobre oprimidos e
opressores, machismo, feminismo, racismo, preconceito, politicamente correto,
ideologia de gênero, ditadura militar e conscientização política. Aí sim, vocês
ficarão conhecendo a força da educação à brasileira. Não apareçam mais aqui com
raiz quadrada, regra de três, propriedades do oxigênio e compreensão de texto,
que é mera submissão do leitor à intenção do autor. Raus! Get out!
Não me digam o quanto dói o que acabei
de expressar porque machuca a mim enquanto escrevo. Sei que apesar da má
remuneração, da carência de meios, da pressão dos sindicatos e dos colegas que
fizeram curso e concurso para militantes políticos, milhares de professores
acolhem diariamente suas turmas mobilizados pela sublime intenção de educere, nos dois sentidos em que o
vocábulo latino tanto diz à educação: dar vazão às potencialidades, aflorando
seus talentos, e encaminhá-los para uma vida proveitosa no mundo real.
Milhões de crianças e adolescentes
brasileiros, porém, são recebidos em sala de aula como se fossem seres de quem
não se pode cobrar sequer conduta civilizada, disciplina e respeito às
autoridades escolares porque são mal nascidos, inferiores, incapazes de
absorver qualquer conhecimento que exceda os limitados contornos do mundo em
que vivem. Creio que nem na estreiteza dos países totalitários exista opressão
igual.
Percival Puggina - membro
da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e
titular do site www.puggina.org, colunista
de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do
Brasil, integrante do grupo Pensar+.
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