Aumento de 465% em prescrições de opiáceos no
Brasil chama atenção para a necessidade de dados e transparência
O Instituto Igarapé lançou hoje guias para ajudar pais e professores a
abordar o tema drogas com crianças e adolescentes. Os materiais são baseados em
pesquisas internacionais que mostram que estratégias baseadas no medo e que se
prendem simplesmente ao “diga não” não são eficazes.
“Tudo começa pela prevenção, mas não podemos insistir no erro. O medo
vence a capacidade de passar informação e criar confiança, em uma conversa honesta.
Os pais precisam entender que os jovens têm muito mais informações que nós”,
resume Ilona Szabó, diretora do Instituto Igarapé e autora do livro Drogas: as
histórias que não te contaram, que inspirou a Proposta Pedagógica, um
dos guias lançados hoje durante debate na Casa do Saber do Rio.
O guia para professores, com propostas de atividades para jovens, tomou
como base um estudo da Agência da ONU para drogas e crimes (UNODC) e da
Organização Mundial da Saúde, ainda inédito no Brasil, com recomendações de
especialistas de 47 países, sobre programas e estratégias de prevenção
adequadas para diferentes faixas etárias.
O outro guia lançado pelo Igarapé, Proteção em Primeiro Lugar: uma
abordagem honesta sobre a questão do uso de drogas por adolescentes, é um
roteiro para pais sobre como abordar o tema com adolescentes. Elaborado pela
doutora em sociologia médica Marsha Rosenbaum para a Drug Policy Alliance, o
material já foi traduzido para outros sete idiomas e é agora adaptado ao
contexto brasileiro pelo Igarapé.
Outra pesquisa, comandada por Francisco Inácio Bastos, do Instituto de
Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo
Cruz, balizou o debate de lançamento dos guias. O pesquisador descobriu o
aumento de 465%, em seis anos, no número de opiáceos prescritos no Brasil. “E é
apenas uma fração do problema, que o governo consegue capturar. Nos
surpreendemos também com o crescimento no uso de opiáceos e opióides sem
prescrição entre os jovens”.
“Nos Estados Unidos, há uma
crise de medicamentos prescritos. É o maior índice de mortes por overdose. Aqui
não estamos acompanhando essa epidemia. Precisamos exigir melhores dados e
transparência para poder fazer prevenção focalizada”, comentou Ilona, em
referência à pesquisa realizada por Francisco Inácio, que, embora premiada
internacionalmente, ainda não foi divulgada “por questões ideológicas”. “A
polarização está impedindo a gente de pensar e resolver problemas com
seriedade. Assim, continuaremos enxugando gelo e perdendo 29 adolescentes por
dia para a violência”, completou.
“Vivemos uma divisão profunda na sociedade também no que diz respeito à
percepção sobre riscos ligados a diferentes substâncias. Isso atrapalha a
regulação de temas como álcool e maconha medicinal, por exemplo”, concordou o
pesquisador.
Luciana Phebo, coordenadora nacional da Plataforma dos Centros Urbanos do
Unicef, que participou do debate, reforçou a importância da pesquisa para mudar
o modo como lidamos com a violência decorrente do tráfico de drogas.
“O Brasil é o país que
mais mata adolescentes no mundo. Estamos perdendo esse jogo. Precisamos fazer
alguma coisa diferente. E precisamos fazer urgente. Precisamos ir além da
proteção social e avançar na prevenção da violência. Isso significa que temos que
ter evidências”, concluiu.
>>>Assista o
debate na íntegra: https://www.facebook.com/InstitutoIgarape/
>>>>Baixe os
guias: https://igarape.org.br/precisamos-saber-falar-sobre-uso-de-drogas-com-nossos-adolescentes/
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