As
oportunidades que a vida moderna oferece hoje para as famílias fazem com que a
grande maioria dos pais comece a criar, cada vez mais cedo, agendas intensas
com atividades e compromissos para seus filhos. Percebemos, muitas vezes, certa
ansiedade dos pais que querem preencher, o quanto antes, todo o tempo livre dos
filhos. A intenção é sempre a melhor possível. Num mundo conectado e altamente
competitivo, há pais com receio de que seus filhos fiquem em desvantagem em
relação a outras crianças se não tiverem acesso aos conservatórios de música,
aulas de gastronomia e robótica ou outras atividades intelectuais, artísticas e
esportivas. O resultado disso pode ser desastroso: crianças com uma agenda
sobrecarregada, capaz de gerar um stress emocional que mais paralisa do que
ativa sua capacidade de se apropriar do mundo que a cerca.
Não
é o caso aqui de condenar as atividades complementares, longe disso. O que
precisamos colocar em discussão é o verdadeiro papel dessas atividades na
formação das crianças e jovens. Se bem dosadas, essas atividades podem,
inclusive, mudar o futuro de um indivíduo, ajudando-o a descobrir talentos que
nem sempre a escola consegue dar a devida atenção, em virtude do tempo que
dispõe. Vale lembrar aqui que boa parte dos países do mundo investe na educação
básica de período integral. Isso também reforça o fato de que fazer aulas para
além do currículo escolar regular, dentro ou fora da escola, é uma forma de
aprimorar as diferentes competências das crianças, facilitando o trabalho de
autoconhecimento e de escolha da carreira, no futuro.
Para
que essas aulas extras não demandem apenas dinheiro e tempo de pais e filhos, e
tragam benefícios concretos, é preciso tomar alguns cuidados na hora de definir
o curso ou atividade, levando em conta o perfil da criança. Não basta apenas
escolher para o seu filho o esporte da moda ou aquela atividade que o melhor
amigo dele está fazendo ou, pior, aquela cujos horários sejam mais convenientes
para nós, adultos. É comum vermos pais em busca de completar a agenda dos
filhos com a intenção apenas de preencher os dias da criança a fim de
ocupá-las. E desculpa mais ouvida é a de “aproveitar” bem o tempo. E aí, acabam
definindo de forma aleatória o que a criança ou o adolescente vai fazer. Ao
escolher o que eles vão praticar enquanto não estiverem na escola, a prioridade
dos pais deve ser responder à seguinte pergunta: quais os verdadeiros
interesses do meu filho? A principal parte interessada nessa história é a
criança - e, por isso, ela deve ser considerada e co-responsabilizada nessa
escolha.
É
preciso prestar atenção na criança, incluindo seus interesses e necessidades na
definição da sua agenda semanal. Somente assim ela poderá ser cobrada pelas
suas responsabilidades e entregas. Observamos com frequência que, quando
permitimos que elas participem das escolhas, há um envolvimento maior e um
melhor aproveitamento. O que acaba criando oportunidades reais de
desenvolvimento de habilidades que poderão fazer a diferença no futuro pessoal
e profissional desse estudante. Por fim, para definir uma agenda de
atividades extracurriculares é preciso ter em mente que a diferença entre o
remédio e o veneno é somente a dosagem! Se, nem mesmo nós, adultos, conseguimos
lidar bem com uma agenda sobrecarregada, que dirá crianças que precisam, entre
outras coisas, continuar a serem crianças. Com tempo livre para o cultivo da
curiosidade, das descobertas e do descanso necessário para o crescimento
saudável. Portanto, escolha junto com o seu filho o que ele irá fazer ao longo do
ano, garantindo uma agenda e rotina que o permita aprender e evoluir mas também
brincar e encarar a vida com a leveza e encantamento essenciais para essa fase
da existência.
Acedriana Vicente Sandi - diretora pedagógica da
Editora Positivo.
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