Buckminster
Fuller, visionário e cientista multifacetado, costumava chamar a atenção para a
diferença entre o cérebro e a mente. Ele dizia que o cérebro vê os objetos
tangíveis, mas só a mente pode enxergar o que não é tangível nem perceptível
aos olhos. Porém, para enxergar o que não é tangível e compreender suas
propriedades, há complexidades científicas e técnicas que exigem uma mente
treinada na educação, na pesquisa e no conhecimento. Um dos objetos não
tangíveis é o futuro e tudo que ele trará, especialmente a nova onda
tecnológica.
Não
é fácil saber para o onde o futuro conduzirá a humanidade, mas dá para imaginar
certas ocorrências que serão inevitáveis, sobretudo porque muitas são
consequências de fatos e situações do presente. Tanto no plano individual como
no social, há um turbilhão de mudanças em ebulição que vão explodir de forma
irremediável, e afetarão nosso modo de produção, trabalho e bem-estar. Quem
deseja participar da nova onda precisa estar preparado, primeiro para
enxergá-la e, segundo, para compreender o que é e quais suas consequências. A
partir daí, fica mais fácil traçar o plano de carreira e sobrevivência.
Fuller
dizia que “você não pode se desviar de coisas que não vê movendo em sua
direção”, e dava como exemplo a substituição do cavalo pelo automóvel. Leonardo
da Vinci – para mim, o maior gênio que já passou pelo planeta – projetou um
triciclo em 1478, movido a corda, como um relógio, mas coube a dois engenheiros
alemães, Karl Benz e Gottlieb Daimler, já perto de 1900, a viabilização do
automóvel de combustão interna. Na época, muitos acreditavam que o automóvel
seria uma novidade passageira, uma coisa de ricos.
Simultaneamente,
surgiu a indústria do petróleo, e o automóvel substituiu o cavalo como
transporte de massa e foi a tecnologia que fez a transição do transporte da Era
Agrária (o cavalo) para o transporte da Era Industrial (o carro com motor). A
consequência – uma onda que a maioria não viu – foi uma montanha de prejuízos à
criação de cavalos, que perderam valor de mercado. Se naqueles anos o automóvel
foi resultado de uma longa e lenta evolução, hoje as mudanças são rápidas e
profundas.
Há
muito modismo por aí, e muitas inovações vão dar em nada, especialmente nessa
febre de disrupção – ou disruptura, como querem alguns, já que esse substantivo
vem do verbo “derruir”, que significa desmoronar, destruir. Entretanto, o que
vai sobrar de novas tecnologias, novos inventos e inovações será suficiente
para balançar os alicerces de empresas, processos, funções, trabalho e emprego.
Até
há pouco tempo, as grandes mudanças tecnológicas e as inovações se davam
precipuamente nas atividades produtoras de bens físicos e tangíveis, sobretudo
na agricultura e na indústria. Agora, a nova onda que está se formando e vindo
em nossa direção vai atingir amplos setores que produzem serviços intangíveis.
Educação, saúde, lazer, telecomunicações, segurança, justiça e mais uma lista
de serviços não escaparão da revolução tecnológica e das inovações prestes a
explodir e inundar o mercado.
Tentar
fugir ou retornar ao nacionalismo xenófobo é um erro de graves proporções, que
talvez nem os mais atrasados esquerdistas vão defender, como fizeram nos anos
70 apoiando a trágica lei de reserva de mercado da informática brasileira; esta
proibia a importação de computadores e qualquer equipamento contendo
componentes eletrônicos, vetava a compra de tecnologia internacional e não
permitia que produtores estrangeiros viessem produzir suas máquinas no Brasil.
Não havendo espaço para esse tipo de política, é melhor que governos, empresas
e trabalhadores se preparem para enfrentar as mudanças. Antes, porém, é preciso
conhecê-las, estudá-las e saber como se ajusta a elas.
José Pio
Martins - economista,
é reitor da Universidade Positivo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário