Essa dependência está, de alguma forma, exercendo
influência na construção do conhecimento? Acredito que sim e faço aqui alguns
comentários. Parece claro que, hoje, uma pessoa, diante de um problema, pensa
muito pouco sobre a questão antes de partir para a comodidade da “busca”
na internet. Assim, resolver um problema qualquer, atualmente, está diretamente
ligado ao ato de beber da fonte das mídias eletrônicas, de saber como
acessá-las, de fazer bons filtros, de compartilhar com tantos outros que também
estão antenados.
Encontrada a solução, ela é socializada de forma exponencial
por meio de grupos que formam verdadeiras redes.
Dessa forma, a dependência desses apetrechos parece
estar justificada: preciso ter um smartphone sempre por perto, pois nunca
se sabe quando vou precisar.
Vou deixar dentro da bolsa ou dentro da pasta.
Acho que no bolso é melhor.
Não, vou carregar numa das mãos. O resultado disso
é que encontramos pelas ruas pessoas que passam lado a lado, que se esbarram,
mas que não trocam olhares. Pessoas caminhando num belo parque num domingo de
sol, sem notar quem está ao seu lado, sem observar que as árvores foram podadas
ou a grama foi cortada. Não notam a beleza de ver uma criança aprendendo a
andar de bicicleta, caindo e sendo incentivada a recomeçar. Alguns dos nossos
sentidos não estão sendo valorizados e, pior, não estão sendo nem mesmo
utilizados.
Quais são os sentidos? Basta digitar a palavra...
E na sala de aula? Alunos próximos de completar 18
anos foram criados nesse contexto, estando, portanto, reféns dessa dependência.
Constatamos isso ao observar a imensa quantidade de estudantes que, ao lado do
livro didático e da lapiseira, mantém um aparelho celular sobre a mesa. Está
desligado ou no modo avião? Difícil saber. Só sabemos que o aparelho precisa
estar lá, questão de segurança, ferramenta de buscas de soluções, mecanismo de
dependência. E essa dependência está sendo nefasta!
Diante de uma aula de Matemática, ainda que os
alunos prestem atenção, que o professor consiga transmitir um encadeamento
lógico, uma boa explicação, parece que algo está faltando. O aluno, acostumado
a ter na palma da mão as informações e soluções quando estas se fazem
necessárias, procede da seguinte maneira: observa, sabe que é um conteúdo
importante e ponto, vamos para a próxima aula. Quando precisar, ele acredita
que terá acesso ao conteúdo ou explicação em questão de segundos, tocando na
tela! E aí está o problema. O conhecimento se constrói estabelecendo um diálogo
entre o que se sabia antes e o que está sendo encaminhado e elaborado. A
informação precisa ser digerida, degustada, refutada, questionada e reformada
até virar conhecimento. A consolidação do conteúdo requer a conjugação de
diversos verbos diante de um conceito qualquer: questionar, refletir, discutir,
tentar, errar e até buscar.
O que se percebe, diante dessa ilusória elaboração
de conhecimento, é que a dependência só aumenta, trazendo à tona a seguinte
preocupação: que tipo de cidadão estamos formando nas salas de aula?
Adilson Longen - doutor
em Educação, autor de livros didáticos de Matemática do Ensino Fundamental e do
Ensino Médio e professor de matemática no Curso Positivo.
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