Humilhação
talvez seja a palavra que melhor define a sensação que sentimos quando temos
que - forçosamente - admitir que estamos errados. Estudiosos do assunto afirmam
que isso acontece porque, naturalmente, enxergamos o erro como sinônimo de
incompetência e acreditamos que pessoas bem sucedidas nunca erram. De onde vem
essa crença? Em que momento de nossas vidas passamos a enxergar as coisas dessa
forma? Se voltarmos no tempo e recuperarmos a maneira como as gerações anteriores
eram ensinadas, vamos notar que a raiz desse pensamento pode ter brotado dentro
das escolas.
Professores costumavam - e alguns ainda insistem nisso - ensinar
que existia apenas uma resposta certa para cada questão apresentada. Quem não
conseguisse chegar ao resultado apontado pelo mestre, falhava - e ponto final.
Aquele que respondesse da forma esperada, ganhava pontos e a admiração de
todos.
Tal
constatação nos leva a refletir que, desde cedo, somos programados a não
permitir que o erro aconteça, quando, na verdade, o correto seria sinalizar
para crianças e jovens que todos têm a permissão de errar - não para
transformar o erro em hábito, mas como parte de um processo natural de
aprendizado que começa na escola e se estende para a vida. Entre os desafios
diários que líderes enfrentam à frente de uma equipe, organização ou país
talvez um dos mais difíceis seja aprender a lidar com os próprios erros.
Quantos gênios e prêmios Nobel erraram antes de acertar? Precisamos aceitar,
sem resistências, que cometer erros faz parte da natureza humana. Aprender a
enxergá-los de maneira positiva é o primeiro passo para errar cada vez menos.
Vamos agora
voltar nossa reflexão para o contexto escolar e as crianças. O processo de
desenvolvimento infantil envolve aprender e isso só se concretiza quando a
criança tem a oportunidade de experimentar e descobrir. O que pais e educadores
precisam ter em mente é que, de início, é normal e até esperado que ela não
acerte e não consiga ter êxito em suas tentativas. E a forma como as primeiras
falhas são encaradas é que será determinante para o sucesso futuro. Tomemos
como exemplo a matemática. A resistência em relação à disciplina vem da crença
de que é difícil demais e não é qualquer um que consegue ser bem sucedido na
resolução das questões e conceitos matemáticos. E como, culturalmente, temos o
receio de errar, a reação natural é resistir ou fugir da matéria.
Não por
acaso, o Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes mostrou que em 2016
o Brasil ocupava a 66ª colocação no ranking que avalia o desempenho dos jovens
em matemática - a colocação mais baixa alcançada pelo país nas últimas cinco
edições do programa. Mas, e se os alunos perderem o medo de errar? Podemos, com
certeza, melhorar essa realidade. O PED Brasil, um programa desenvolvido na
Universidade de Stanford em parceria com o Centro Lemann, propõe novas
abordagens para o ensino da disciplina, mostrando o quão produtivo pode ser o
aprendizado quando o erro é tratado em sala de aula como algo positivo. Sim, positivo!
Afinal, é possível aprender muito mais com o erro do que com o acerto. Quando
erramos, ficamos alerta, tentamos descobrir onde foi que erramos e o que é
necessário para acertar na próxima vez. Portanto, fica aqui um convite para
pais e educadores: vamos ajudar nossas crianças e jovens a enxergarem no erro
uma oportunidade para fazer sempre mais e melhor?
Celso Hartmann - diretor-geral do Colégio Positivo.
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