Que o aquecimento global está ameaçando a
existência de diversas espécies de animais e aves é algo conhecido e apontado
por inúmeros estudos. Ocorre que o fenômeno é mais grave do que se supunha,
como apontam os resultados de pesquisa recente.
Em estudo publicado na revista Plos
Biology em sua edição de 08 de dezembro deste ano fica evidenciado
que quase a metade (47%) das espécies de animais e plantas pesquisados sofreram
extinções locais recentes no mundo todo devido às mudanças climáticas. Os mais
afetados são os animais das zonas tropicais e em habitats de água doce.
A pesquisa realizada pelo professor John J. Wiens,
da Universidade do Arizona, Estados Unidos, constatou a extinção local de 47%
de 976 espécies de animais e vegetais estudados. Foram objeto do estudo 716
animais e 260 plantas de diversas regiões da Ásia, Europa América do Norte,
Oceania e América do Sul. A pesquisa considerou como extinção local
quando desaparecem as populações em um ou mais lugares de suas distribuições
regionais e se deslocam a latitudes mais altas do planeta em busca de habitats
mais frios.
O estudo confirma a suspeita dos cientistas
chineses de que o coelho lli PIka (Ochotona Iliensis), uma das criaturas
mais belas e mais raras do mundo é uma das prováveis vítimas da extinção local
provocada pelo aquecimento global. O coelho, que inspirou o personagem Pikachu,
foi descoberto em 1983 nas montanhas do noroeste da China e sua população foi
reduzida em 70% durante esses anos.
No Brasil foram descobertas várias espécies de
pequenos anfíbios nas áreas de Mata Atlântica nos últimos anos em regiões mais
altas de montanhas. Estes pequenos animais têm distribuição restrita e tem seu
habitat continuamente modificado pelas mudanças climáticas. A opção desses
pequenos anfíbios é migrarem para latitudes mais altas ou se adaptarem à novas
condições climáticas.
Nas regiões de altitude da Mata Atlântica, que por
si só é um bioma ameaçado, muitas espécies desconhecidas pela ciência poderão
desaparecer sem nunca se tornarem conhecidas. Há diversos anfíbios que foram
descobertos que se encontram em perigo de extinção.
Em 2015, pesquisadores brasileiros publicaram
um artigo científico na revista Peerj comunicando a descoberta de sete
novas espécies de minúsculos sapos endêmicos da Mata Atlântica e que habitam as
montanhas da Serra do Mar, entre Paraná e Santa Catarina. Segundo o relato os
animais são altamente sensíveis às mudanças climáticas e já são considerados
ameaçados de extinção.
O estudo revelando que a extinção local da
biodiversidade motivada pelas mudanças climáticas é importante para se
reavaliar as políticas de conservação no Brasil, considerando áreas até então
ignoradas como morros e montanhas que formam ecossistemas localizados contendo
espécies animais e vegetais endêmicas e de distribuição restrita. Essa
necessidade de reavaliação dos critérios para criação de unidades de
conservação se impõe de forma mais contundente pelo fato de que, por exemplo,
dos sete anfíbios descobertos somente um deles habita uma unidade de
conservação.
A persistente extinção localizada de
espécies, confirmada pelo estudo do pesquisador John Wiens, indica a
importância de se acelerar a pesquisa em locais de altitude levando em
consideração as possibilidades maiores de extinção relacionadas ao aquecimento
global.
Reinaldo Dias -
professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, campus Campinas. Doutor em
Ciências Sociais e Mestre em Ciência Política pela Unicamp. É especialista em
Ciências Ambientais.
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