Estudo realizado em São José do Rio Preto mostra
que 32,9% das pessoas com menos de 40 anos não têm imunidade contra a doença.
No grupo com mais de 50 anos, 99% estão protegidos ( imagem: Centers for
Disease Control and Prevention's Public Health Image Library)
Estudo realizado em São José do Rio Preto mostra
que 32,9% das pessoas com menos de 40 anos não têm imunidade contra a doença.
No grupo com mais de 50 anos, 99% estão protegidos ( imagem: Centers for
Disease Control and Prevention's Public Health Image Library)
Quase um terço dos indivíduos com idade entre 10 e
40 anos não apresenta anticorpos contra o sarampo na população de São José do
Rio Preto (SP). A descoberta foi feita em estudo populacional que testou 981
pessoas, de várias faixas etárias.
Os resultados indicam que, enquanto 32,9% das
pessoas com menos de 40 anos não têm imunidade contra a doença, a presença de
anticorpos no grupo com mais de 50 anos chega a 99%.
A pesquisa foi apoiada pela FAPESP e
coordenada por Maurício Lacerda Nogueira,
professor da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp) e
ex-presidente da Sociedade Brasileira de Virologia. Os dados foram publicados na revista Scientific Reports,
do grupo Nature.
“Considerando o total dos indivíduos vacinados,
39,3% não apresentavam imunidade contra o sarampo e 20,2% careciam de
anticorpos para rubéola. Esses percentuais são suficientes para proteger a
população da rubéola, mas não do sarampo. Vamos lembrar que a vacina combinada
contra sarampo, rubéola e caxumba [MMR, na sigla em inglês] faz parte do
cronograma nacional de vacinação do Brasil”, diz Nogueira à Agência FAPESP.
Segundo o pesquisador, o estudo sugere que há uma
correlação entre a criação de anticorpos, a vacinação e a exposição da pessoa
ao vírus. Os indivíduos com idade superior a 50 anos, que tiveram essa
exposição ao longo da vida, apresentaram um percentual de imunidade muito maior
do que os grupos mais jovens, mesmo quando vacinados.
“Essa taxa relativamente alta de soronegatividade
[ausência de anticorpos] precisa ser investigada. Mas a vacinação é o grande
recurso que temos e uma providência que não pode ser descartada de forma
alguma”, afirma Nogueira.
Apesar de ter sido considerado eliminado durante
anos, o sarampo reemergiu em vários países, inclusive o Brasil, exatamente
devido à redução das taxas de vacinação. No período anterior à vacina, o
sarampo era enfermidade comum em crianças com menos de 10 anos. E, apesar do
baixo percentual de letalidade, estima-se que tenha causado de 5 a 8 milhões de
mortes no mundo todo.
O grande problema estava – e está – no fato de o
sarampo ser uma das doenças mais contagiosas. Seu número básico de reprodução
(R0) é de 12 a 18, o que significa que cada pessoa infectada pode espalhar o
vírus para 12 a 18 outros indivíduos em uma população suscetível.
Comparativamente, o R0 do novo coronavírus (SARS-CoV-2) varia entre 2 e 3,
segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
“O sarampo pode ser controlado mediante programas
de imunização que atinjam 95% de cobertura com duas doses da vacina. E também
se os casos forem adequadamente identificados e medidas adotadas para conter a
propagação”, diz Nogueira.
Conforme o estudo em pauta, o Brasil começou a
sofrer um declínio nas taxas de sarampo em 1998, como resultado de seu programa
de imunização, e o último caso adquirido localmente ocorreu no ano 2000.
No entanto, um surto, entre 2013 e 2015, produziu
1.310 casos relatados. Depois que a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS)
implementou um plano de ação, a transmissão endêmica do sarampo foi considerada
eliminada nas Américas a partir de 2016. Mas, em 2017, quatro países das
Américas voltaram a registrar casos: Estados Unidos, Canadá, Venezuela e
Argentina. E o Brasil passou a sofrer uma recirculação do sarampo desde 2018.
Entre 2018 e 2019, 11.371 casos da doença foram confirmados no Brasil, dos
quais 12 resultaram em morte.
“A disseminação da recusa de vacina tornou-se um
fator de risco para surtos de sarampo. E a OMS identificou a hesitação da
vacina como uma das 10 principais ameaças globais à saúde em 2019”, escreveram
os pesquisadores no texto publicado em Scientific Reports.
O artigo Prevalence of Measles Antibodies in São
José do Rio Preto, São Paulo, Brazil: A serological survey model pode ser
acessado em: https://www.nature.com/articles/s41598-020-62151-3.pdf.