Ainda que diversos fatores estejam
envolvidos na manifestação da doença, a prevalência de casos em mulheres jovens
está diretamente relacionada ao nível de estrógeno
O lúpus eritematoso sistêmico é uma doença inflamatória crônica de origem autoimune. Mesmo que o aumento da incidência da condição tenha sido percebido nos últimos anos, ainda não se conhece a frequência entre os brasileiros. Nos Estados Unidos, estudos indicam entre 20 e 150 casos para cada 100 mil habitantes. Transportando esses dados para o Brasil, haveria algo entre 40 mil e 300 mil casos de lúpus no país.
Não existe um único fator para o desenvolvimento do lúpus. “A
doença resulta da interação de diversos elementos, como os fatores genéticos e
ambientais e os defeitos imunológicos. No entanto, o fato de haver uma
predominância do lúpus no sexo feminino, em torno de 10 mulheres para cada
homem, claramente pode ser atribuído a fatores hormonais”, explica o Dr. Dawton
Torigoe, reumatologista do Hcor.
Ainda de acordo com o especialista, o efeito do hormônio feminino estrógeno pode ser percebido pela distribuição do lúpus entre mulheres e homens em diferentes faixas etárias. “Em adultos jovens a relação entre mulheres e homens é de até 15:1. Em idosos, cai para 8:1. Em crianças, é de 3:1. Ou seja, em crianças, quando o efeito do estrógeno é menor, a relação M:H é menor. Na faixa etária de mulheres em idade gestacional, a relação é maior, para cair novamente em idosos”, revela o Dr. Torigoe.
Além da relação hormonal, existe um componente genético que
influencia na manifestação do lúpus. “Cerca de 20% dos pacientes têm algum
familiar com a doença. No entanto, ela não é causada por um único gene e sim
por múltiplos genes diferentes e em combinação com fatores ambientais, como
tabagismo, hormônios e exposição solar”, ressalta o reumatologista.
Isso significa que a probabilidade de um indivíduo desenvolver
lúpus, caso tenha um parente com a doença, é bastante baixa. “Sabemos que ter
um familiar de primeiro grau aumenta a chance de apresentar a doença, mas a
maioria dos pacientes não apresenta origem genética. Dessa forma, a chance de
ter lúpus e o filho também desenvolver a doença é relativamente pequena”,
esclarece o Dr. Alexandre Merlini, médico assistente da Clínica Médica do Hcor.
Quais são as principais complicações do lúpus?
“O lúpus pode levar a complicações nos mais diversos órgãos e tecidos, como insuficiência renal, principal causa de morte entre as pessoas com a doença autoimune. Também aumenta o risco de problemas cardiovasculares potencialmente fatais, como infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral, trombose venosa profunda e pré-eclâmpsia”, alerta o Dr. Merlini.
Além disso, sem o tratamento adequado, a doença pode causar
convulsões, depressão, psicose, cicatrizes na pele, deformidades articulares e
abortos espontâneos, entre outros.
Quais os tratamentos disponíveis?
O tratamento indicado varia de acordo com a idade, o estado de saúde, as comorbidades, os órgãos acometidos e a gravidade da doença. Entre as opções, estão os corticoides, imunossupressores (como a azatioprina e o mofetil micofenolato), antimaláricos (hidroxicloroquina), quimioterápicos (metotrexato, ciclofosfamida) e imunobiológicos (rituximab, belimumab).
“No entanto, há alguns princípios gerais que se aplicam. Do ponto
de vista da prevenção, por exemplo, a proteção solar é fundamental. Isso porque
a luz ultravioleta pode induzir ou piorar o lúpus. O tabagismo é outro fator
associado a uma doença mais grave e esforços devem ser feitos para cessar este
hábito”, destaca o Dr. Torigoe.
Quem tem lúpus pode engravidar? E amamentar?
“Sim, mas a gestação deve ser programada e acompanhada por um
reumatologista. O ideal é que a doença esteja controlada (em remissão) há, pelo
menos, seis meses, pois boa parte das medicações utilizadas para o tratamento
da doença é contraindicada na gestação”, orienta o Dr. Merlini.
É importante saber que existe uma chance um pouco maior de ocorrer pré-eclâmpsia, abortamento ou baixo peso ao nascer. A maioria das mães também poderá amamentar, desde que as medicações sejam seguras durante o período.
Hcor
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