A Política Nacional de Humanização do Luto Materno e Parental foi aprovada em abril de 2024 pela Câmara e agora está em análise no Senado
Com a aprovação da Política Nacional de Humanização do Luto
Materno e Parental pela Câmara, o atendimento humanizado e destinado às mães,
pais e familiares no momento do luto por perda gestacional, óbito fetal e
neonatal estará assegurado. Entre os diferenciais apontados pela nova política,
está a necessidade de as gestantes que sofreram com a perda de seus bebês serem
acomodadas em ala separada nos hospitais onde deram à luz. O texto é de autoria
da deputada Geovania de Sá (PSDB-SC), e aproveitou-se o material da Comissão de
Defesa dos Direitos da Mulher.
Dados divulgados pelo Painel de Monitoramento da Mortalidade
Infantil e Fetal, em 2023, mostram que foram registradas 20,2 mil mortes, o
menor de uma série histórica desde 1996. O número representa queda de 62% das
mortes até 1 ano, se comparado com o início do monitoramento, quando o total
ficou em 53,1 mil. Apesar da queda nos números, ainda é alarmante. Segundo a
psicóloga e especialista em luto, Lília Lavor, o luto é um processo natural,
uma reação esperada diante da perda de algum vínculo importante.
“Quando falamos de luto, falamos do rompimento de um vínculo que
estrutura nossa identidade de alguma forma, que nomeia nosso lugar no mundo.
Quando a questão é a perda perinatal, é sobre alguém que espera algo que não
chega, que não vai ser apresentado para a família, que não vai responder à
expectativa. A morte de um bebê é o fim de uma narrativa construída no
imaginário familiar, a interrupção de inúmeras possibilidades”, explica a
especialista que faz parte do Cuida, um projeto cujo objetivo é estimular a
prática do cuidado entre as pessoas.
Quais as principais necessidades que uma mãe enlutada
necessita?
A invalidação do luto tem potencial traumático e não é raro
perceber essa dinâmica em frases como “calma, você é jovem, poderá ter outros
filhos”, “pelo menos ainda não tinha nascido”. O não reconhecimento desse sofrimento
sufoca as emoções que envolvem a perda. “A vivência desse processo é complexa e
intensa, podendo ter impacto nas dimensões física, psíquica, espiritual e
social, mas é por meio desse processo que é possível construir novas formas de
funcionar no mundo sem a pessoa amada”, explica a psicóloga Lília.
A médica paliativista e intensivista, Carol Sarmento, complementa
que a maior ajuda e estratégia que as pessoas próximas podem ter é dar espaço
para que a pessoa entre em contato com a dor, fale dela, vivencie e sinta o
luto. “Somente assim a pessoa enlutada poderá elaborar e lidar melhor com o
luto. Não existe um tempo pré-determinado para durar o luto. O tempo necessário
para elaboração da perda e para a vivência do luto é individual e variável de
pessoa para pessoa; quanto mais validado o luto seja, melhor a capacidade de
elaboração da perda”, explica a idealizadora do projeto Cuida.
“Percebo uma tendência social em pouco validar o luto perinatal,
que inclui as perdas ocorridas na gestação a partir da 22ª semana até completar
29 dias de vida do bebê. Nessas questões do luto perinatal, especialmente, há
que se ter um cuidado extremo durante gestações de alto risco, nas comunicações
com a gestante e familiares, até nos cuidados e vigilância pós-óbito. A perda
gestacional/neonatal é socialmente desconsiderada, o que torna esse luto pouco
reconhecido, em que o enlutado não se sente autorizado a expressar a dor da sua
perda e seu luto”, conclui Carol Sarmento.
Sobre o luto perinatal e a relação do médico e paciente
A paliativista e intensivista, Carol Sarmento, explica que além de
uma comunicação empática e adequada para dar a má notícia, é preciso demonstrar
uma postura sem julgamentos das escolhas que a família ou a mãe tenham tomado
no cenário: “é importante estimular e encorajar o contato da mãe e do bebê, no
sentido de permitir que sejam criadas memórias e recordações. É preciso
permitir que a mãe fique com o filho o maior tempo possível, prover uma
estrutura física acolhedora para que essas interações sejam possíveis, preparar
a família para o contato com o bebê natimorto”.
“Explicar como vai estar a pele, o aspecto, se tem alguma má
formação, limpar sem dar banho, vestir o bebê, chamar o bebê pelo nome, estar
perto dessa família e especialmente dessa mãe com uma distância respeitosa.
Também é importante auxiliar a guardar recordações, fazer registros
fotográficos, estimular a caixinha de memórias do bebê com mechinha de cabelo,
fotos, impressão plantar e palmar, carimbo da placenta e pulseira de
identificação. Pode ser acolhedor e importante a equipe prover um cartão ou
lembrança carinhosa para essa mãe e família”, explica Carol sobre como o profissional
de saúde pode lidar com quem vive o luto.
O Cuida
carolasarmento e cuidagenteinsta no instagram.
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