“Não considero a mentira saudável, a fantasia sim, por isso é importante saber distinguir uma da outra”, explica Ivone Ferreira Santos
Quem nunca ouviu o reproduziu a frase
“Criança não mente”? Apesar de fazer sentido e precisarmos validar os
sentimentos e a fala dos pequenos, a mentira faz parte do universo infantil.
Ivone Ferreira dos Santos, Psicopedagoga do Colégio Novo Tempo, localizado em Santos, litoral de São
Paulo, lida diariamente com crianças e afirma que elas podem ultrapassar o
campo da imaginação e mentir.
“A criança usa o imaginário para se
comunicar, alcançar seus objetivos e satisfazer suas necessidades. Até 6 anos
podemos considerar como fantasias muitas vezes, mas é comum crianças faltarem
com a verdade, apesar da máxima muito difundida que diz que ‘criança não
mente’”.
Meu filho mentiu e agora?
Os pais são os adultos na situação e é preciso
que se comportem como tal, inclusive em situações em que detectam uma mentira.
Saber lidar com esses momentos através do diálogo é a chave para o sucesso.
“É importante dimensionar a situação trazida
pela criança sempre com a intenção de compreender qual a necessidade que de
alguma forma ela está sinalizando. Caso perceba contradições, incentivar
através de um diálogo tranquilo e respeitoso a veracidade e a coerência entre
os fatos trazidos pela criança”, detalha a psicopedagoga que fala sobre a
diferença de mentir e imaginar:
“A mentira se evidencia pelas contradições, por
elementos bem orquestrados, a criança tenta nos convencer do fato. A imaginação
é lúdica, tem um ar de inocência, quase uma brincadeira de ‘faz de conta’, o
contexto muitas vezes foge da realidade, é fantástico e não sugere prejuízo a
alguém”.
É só uma mentirinha...
Encobertar uma mentira, por menor que ela seja,
não é o ideal. Crianças são seres em formação e precisam que os responsáveis as
direcionem para o caminho do bem e, nele, não há espaço nem para mentirinhas,
como alerta Ivone.
“Não considero a mentira saudável, a fantasia
sim, porque ela auxilia o desenvolvimento emocional da criança, usando o
imaginário para adquirir repertório psíquico para aprender a se relacionar. Por
isso é importante distinguir mentira da fantasia”.
Seja por medo da bronca dos pais, vergonha de
algo que fez de errado ou mesmo por idealizar um momento, a criança faz uso da
falta de verdade. Ivone Ferreira dos Santos explica o que leva uma criança a
mentir:
“Algumas vezes a criança se utiliza da mentira
para minimizar o medo ou esquivar-se de um potencial repreensão, imaginando que
mentindo possa evitar algum sofrimento ou constrangimento. Ainda pode mentir
como tentativa de se apropriar de uma história que idealiza viver ou de algo
que deseja ter, como forma de suportar frustrações”.
Independente do motivo, a mentira precisa ser
repreendida de forma respeitosa e observada para que não vire algo prejudicial
a socialização dos pequenos. “A mentira pode tornar-se um hábito prejudicando a
construção da identidade, desencadeando sentimentos de culpa e ansiedade,
prejudicando a socialização por gerar falta de credibilidade por conta das
contradições e falta de coerência que em algum momento serão identificadas nos
relatos”, relata a psicopedagoga que finaliza com algumas dicas para pais
ensinarem seus filhos a não mentir:
1. A criança
aprende principalmente pelo exemplo, portanto não se deve descumprir combinados
ou promessas, nem falar pequenas mentiras;
2. As
crianças são muito observadoras, têm excelente memória e enxergam tudo ao
redor. É preciso estar muito atento às conversas para que a criança não perceba
pequenas mentiras dos adultos, mesmo que para se livrar de algumas situações
sociais desconfortáveis. Ou seja, os cuidadores devem sempre prezar pela
verdade;
3. Incentivar
sempre a criança a falar a verdade garantindo acolhimento independente do que
possa ter acontecido;
4. Estabelecer
com a criança um vínculo saudável, regado de muito amor, escuta e respeito.
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