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quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Problemas de coordenação motora afetam até 10% das crianças


Atrasos ou déficits motores podem ser sinais do Transtorno da Coordenação Motora

Já ouviu falar em criança desajeitada? Alguns pequenos podem apresentar dificuldades na parte motora durante o desenvolvimento, que por desconhecimento dos pais, podem passar despercebidas. Em alguns casos, essas crianças são consideradas desastradas ou desajeitadas.

Entretanto, quando a criança apresenta alguma dificuldade para realizar tarefas simples, como amarrar o tênis, fechar botões, apontar ou segurar um lápis, escrever seguindo a linha do caderno, recortar, segurar o garfo para comer sem derrubar a comida e participar de jogos e brincadeiras que exigem as funções motoras, é preciso avaliar se há algum tipo de atraso ou déficit no desenvolvimento na coordenação motora.

Segundo a terapeuta ocupacional Márcia Strabeli, alterações da coordenação motora estão associadas a diversos distúrbios do sistema nervoso central. Assim, crianças com paralisia cerebral, síndromes genéticas e deficiência intelectual, por exemplo, podem apresentar essas alterações que são conhecidas e esperadas. “Entretanto, quando não há nenhuma causa aparente para o déficit motor, ou seja, nenhuma condição que explique o problema, o ideal é consultar um especialista para uma avaliação”.

“A avaliação de um especialista poderá indicar se o déficit está ligado ao Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação (TDC). A condição se aplica quando na ausência de transtornos físicos ou neurológicos, há um desempenho abaixo do esperado para a idade e nível cognitivo da criança nas atividades que exigem coordenação motora”, explica a terapeuta.
 


Não existe criança desajeitada

 
“A falta de jeito é um sinal bem característico do TDC, assim como uma coordenação motora abaixo do esperado para a idade. Problemas de ritmo, tensão corporal e excesso da atividade muscular durante a execução de tarefas motoras são outros sinais importantes. É interessante observar que quando os pais contam a história da criança, quase sempre relatam que houve atraso nos marcos do desenvolvimento motor, como engatinhar, ficar de pé e andar”, comenta a fisioterapeuta Walkiria Brunetti.

Walkíria diz ainda que é comum que essas crianças tenham menos interesse por esportes ou ainda por brincadeiras que exigem coordenação motora grossa ou fina mais desenvolvida. “Como são crianças com habilidades motoras restritas, em alguns casos podem até ser excluídas das brincadeiras pelos colegas, o que também afeta a interação social e o desenvolvimento emocional, podendo levar à ansiedade, baixa autoestima e depressão”.
 


Funções motoras e aprendizado

 
Segundo estudos, o TDC afeta entre 6 a 10% das crianças em idade escolar, portanto é um problema frequente na infância, que pode ter grande impacto no desempenho escolar e nas relações sociais. Entre as causas, alguns estudos apontam que problemas na gravidez, parto, prematuridade, baixo peso no nascimento e fatores ambientais podem estar ligados ao déficit motor.

“Além disso, os problemas motores quase sempre aparecem associados a dificuldades de aprendizagem e em crianças com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)”, diz Márcia.   



Como a Terapia Ocupacional pode ajudar

 
O tratamento do TDC é multidisciplinar, ou seja, é feito por diversos profissionais, entre eles o terapeuta ocupacional. A terapia ocupacional é uma intervenção fundamental, pois ajuda os pais, professores e cuidadores a compreenderem melhor as dificuldades da criança.

“Na terapia são estabelecidas estratégias para contribuir e para compensar o déficit motor. Assim, a criança tem oportunidades de praticar e de aprender novos caminhos para executar as tarefas que exigem a coordenação motora, graças a neuroplasticidade cerebral. A criança se torna mais consciente de seus pontos fortes e podemos trabalhar de forma positiva para que ela vença suas dificuldades”, ressalta Márcia.

“O objetivo final do tratamento é que a criança ganhe autonomia, aprenda a executar as tarefas escolares e as atividades da vida diária, como comer sozinha, vestir-se e, claro, participar das brincadeiras e esportes visando sua inclusão social. Em geral, a terapia ocupacional é realizada em conjunto com a fisioterapia, que irá trabalhar também as questões musculares envolvidas na coordenação motora”, comenta Walkíria.

Portanto, o alerta para os pais é prestar atenção aos marcos do desenvolvimento para entender o que é esperado para cada fase da vida da criança. Embora o diagnóstico do TDC só pode ser feito na idade escolar, ou seja, depois dos 6 anos, é possível intervir de forma mais precoce para aproveitar a neuroplasticidade que é mais intensa nos primeiros anos de vida.


Dificuldade em aprender rimas na pré-escola pode ser sinal de dislexia

Você acha engraçado quando seu filho fala errado? Ele costuma inverter as sílabas das palavras, como salada por sadala? E quanto às rimas, ele tem dificuldade para aprendê-las? ‘Um dois, feijão com arroz’, por exemplo? Estas podem ser algumas manifestações iniciais da dislexia, um Transtorno Específico da Aprendizagem, cuja origem é neurobiológica e afeta cerca de 7% da população em geral.

De acordo com a neuropediatra Dra. Andrea Weinmann, a dislexia se caracteriza pela dificuldade em reconhecer as palavras, ler e escrever. “A condição não está relacionada à inteligência, pois são crianças com as funções intelectuais normais. Também não está relacionada à falta de oportunidades ou ao ensino inadequado”.

“A dislexia está ligada a um déficit fonológico, ou seja, ela não desenvolve a consciência de que a linguagem é formada por palavras, as palavras por sílabas, as sílabas por fonemas e que os fonemas são as letras do alfabeto que representam os fonemas. Para que a leitura e a escrita ocorram, é necessário que todo esse processo seja entendido de uma forma automática”, explica a neuropediatra.


Dislexia, cérebro e genética
 
Vários estudos de imagem ao longo dos anos revelaram que pessoas com dislexia apresentam ativações anormais de estruturas cerebrais envolvidas no processamento da linguagem. Além disso, pesquisas genéticas já identificaram mutações genéticas envolvidas na dislexia, presentes em vários membros de uma mesma família. Há ainda os fatores ambientais, como nível socioeconômico dos pais, estimulação ao letramento, entre outros, que podem levar à condição.  


Atraso na fala é sinal de alerta
 
O diagnóstico da dislexia só é feito depois dos 6 anos, idade em que a criança começa a ser alfabetizada. Entretanto, na idade pré-escolar, algumas manifestações podem sugerir um quadro de dislexia. “Em alguns casos, a criança pode apresentar atraso no desenvolvimento da fala, ter um comportamento mais desatento ou disperso, pode ter mais dificuldade em aprender músicas ou rimas simples, por exemplo”, cita a neuropediatra.

A dislexia também pode afetar a pronuncia de palavras mais complexas. A criança pode omitir ou inverter os sons das palavras. “Alguns pais, por desconhecimento, podem achar engraçado quando a criança diz uma palavra errada. Claro que na aquisição da linguagem isso vai acontecer. Porém, é preciso dar o modelo correto da palavra. Se mesmo assim, os erros de pronúncia se repetirem ou a fala estiver atrasada ou defasada, o ideal é consultar um especialista”, comenta Dra. Andrea.

Já na fase escolar, os sinais ficam mais evidentes e a escola certamente irá transmitir aos pais informações importantes. “Além da dificuldade de ler e escrever, são alunos com níveis mais altos de distração, costumam confundir as direções, esquerda com direita, podem ter mais dificuldade para copiar tarefas de livros ou do quadro. Também podem apresentar um vocabulário mais empobrecido, usando frases curtas ou ainda muito longas e vagas”, diz a especialista.
 

Dislexia e Comorbidades
 
Na última versão do DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, todos os transtornos de aprendizagem foram classificados dentro do diagnóstico geral do Transtorno Específico de Aprendizagem, incluindo dislexia, discalculia, disgrafia, disortografia, entre outros.

Isso porque em cerca de metade dos casos, a criança pode apresentar mais de um transtorno. Outro diagnóstico muito prevalente nessa população é o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Estima-se que de 25 a 40% das crianças apresentam os dois diagnósticos, ou seja, de TDAH e de dislexia, concomitantemente.  


Diagnóstico e Tratamento 
 
O diagnóstico é feito pelo neuropediatra, em parceria com uma equipe de profissionais, como um neuropsicólogo, um geneticista, entre outros. Quanto ao tratamento, é importante dizer que a dislexia não tem cura. Mas, a intervenção precoce é fundamental para ajudar a criança no processo da aprendizagem.

“Essas crianças podem e conseguem aprender, mas para isso é preciso adaptar os materiais, o método de avaliação e de ensino, assim como é preciso que os pais façam treinamentos específicos e estejam engajados no processo de aprendizagem para contribuir para o sucesso na vida acadêmica da criança e do adolescente”, conclui Dra. Andrea.

“Socorro, meu filho não lê!”


 O hábito da leitura, ou melhor, a falta dele, é um dos assuntos que mais afligem pais e mães de crianças em idade escolar. Preocupados, os adultos muitas vezes pressionam seus filhos ou cobram da escola alguma medida milagrosa que contamine o aluno com o “vírus leitor.” Os resultados produzidos por ambas as medidas costumam ser bastante insatisfatórios.

Mas, afinal, haveria algo de prático que os pais poderiam fazer para que seus filhos desenvolvam o gosto pela palavra escrita? Sim! Seguem algumas dicas preparadas especialmente pelo professor de Leitura Crítica do Colégio Stockler:


Dica #1: Não critique os títulos preferidos por seus filhos.

Deixe de lado a lista de obras cobradas pelos vestibulares e lembre-se que um dos fatores que determinam a construção de qualquer hábito é justamente o quanto de prazer extrai-se daquela atividade. Em vez de criticar as preferências literárias do jovem, experimente aproximar-se do universo dele perguntando o que o atrai naquela obra ou naquele autor.


Dica #2: Não faça do acervo da sua casa um depósito de livros.

Abra mão do compromisso de montar aquela estante bonita, cheia de autores consagrados cujas obras você jurou para si mesmo que lerá algum dia mas que, muito provavelmente, ficarão lá juntando pó. Nada contra a alta literatura, aquela que nos desafia e provoca. Muito pelo contrário! Mas se a sua intenção é incentivar o hábito de leitura em seu filho, de nada adianta criar um depósito de livros que jamais serão abertos ou comentados pela família.


Dica #3: Leia mais por prazer e dê o exemplo.

Apoiados em um sem número de pretextos, das demandas do trabalho aos compromissos familiares, os adultos também deixam os livros para amanhã. Sabemos que as crianças aprendem muito pelo exemplo. Ver os pais imersos na leitura de algo que, de fato, os interessa, é essencial para que elas valorizem o contato com a palavra escrita.

Dica #4: Torne a ida à livraria ou ao sebo um passeio em família.
A visita à livraria convida a criança e o jovem a degustarem os títulos expostos. Quem nunca foi seduzido por uma capa bonita? Saborear a obra antes de comprá-la, ter que escolher entre dois livros bacanas e deixar o outro para depois (olha aí a desculpa para visitar, novamente, a livraria!), puxar conversa com outras crianças que estejam espiando a mesma estante, pedir dicas à equipe de vendedores (eles costumam ser muito bem preparados e dispostos a ajudar!) são apenas alguns dos motivos para ir com os filhos a uma livraria. 


Dica #5: Incentive seu filho a compartilhar livros com os amigos.

Além de permitir a descoberta de afinidades, trocar livros leva ao desenvolvimento de inúmeras habilidades como a capacidade de expressar opiniões, de discordar com respeito e até de lidar com a frustração de o outro não se entusiasmar pela nossa indicação. Para os mais velhos, trocar livros pode render ótimos papos, além de abrir portas para a discussão de temas tão importantes quanto delicados, como amizade, sexualidade e inseguranças sobre a vida adulta.

“Em comum, todas essas estratégias tem a valorização da leitura de fruição. Sabemos que a análise teórica costuma ser o foco das aulas de Literatura na escola. Contudo, se o jovem não conseguir estabelecer um vínculo pessoal com o texto, seja ele um dos livros do Harry Potter ou Sagarana, é improvável que aquela experiência seja significativa para ele,” explica Castro. “No Colégio Stockler, por exemplo, criamos o Clube do Livro para que alunos de todas as séries do Ensino Médio pudessem ler, juntos, títulos de sua escolha. Nosso objetivo é que a análise e a discussão fiquem por conta deles e não do professor.” 






FonteVicente Castro, doutor em Literatura pela USP, professor de Leitura Crítica do Colégio Stockler


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