Dados compilados no estudo Global AI Adoption Index, revelaram que 67% dos profissionais de TI de Brasil, Chile, Argentina, Colômbia, México e Peru testemunharam a aceleração da implantação da Inteligência Artificial (IA) em suas empresas nos últimos dois anos. A urgência por soluções com o uso dessa tecnologia não é novidade. O mesmo não se pode dizer sobre algumas conclusões que a realidade está impondo aos negócios.
Um grande cliente
do setor de meio de pagamentos recentemente me confidenciou a necessidade de
melhorar o perfil de custos da IA Generativa. É uma plataforma de LLM (Grande
Modelo de Linguagem, na sigla em inglês) das mais conhecidas, cujo custo tem se
mostrado alto. Isso nos faz parar e pontuar algumas dúvidas que a utilização da
IA em larga escala nos coloca:
· Vai
caber no nosso orçamento?
· Qual
é o perfil da aplicação em que faz sentido usar?
· Como
combinar modelos novos e antigos?
· Há
outros modelos com bons retornos e custos menores?
Diante do hype que vivemos em torno da IA, sobretudo a Generativa, e as suas infinitas possibilidades de produção de soluções, ofertas e oportunidades, pouco se discutem os resultados experimentados por alguns setores que, por questões diversas, adotam determinadas plataformas, sem considerar a fundo questões como custo, equilíbrio, latência e necessidade.
Por tudo isso, creio que estamos no fim dessa corrida incessante de trilhões de parâmetros, “neurônios” e tudo o que vem a reboque disso. Como um consultor experiente no mercado de tecnologia, procuro sempre me colocar sob o ponto de vista do cliente, pensando naquilo que possa de fato trazer ganho a ele. Há plataformas de IA Generativa que trabalham, por exemplo, de maneira combinada as suas arquiteturas de LLMs. E, dependendo de cada caso, podem funcionar tão bem quanto um ChatGPT, para ficar na ferramenta mais conhecida.
Um debate que
precisa ser melhor considerado dentro e fora do ambiente corporativo diz
respeito ao quão caro é treinar essas plataformas de IA Generativa. Existe a
demanda por mais e mais informações para isso, com uma criação interminável de
parâmetros por esses sistemas. Entretanto, não é possível fazer isso com
qualquer informação: é preciso dos chamados dados curados, confiáveis e que,
uma vez enriquecidos, possam entregar as melhores respostas.
Quanto mais
parâmetros, mais dados são necessários. Estudos acadêmicos já indicam,
inclusive, que existe uma escassez ou quase inexistência de dados confiáveis para isso – discussões sobre o uso de conteúdo protegido por direitos
autorais, por exemplo, passam justamente por tal demanda. Ao mesmo tempo,
para quem controla essas plataformas de IA Generativa, é preciso que pessoas e
empresas as usem, em larga escala, uma vez que o custo para desenvolver todo
esse infinito arcabouço (chips, computadores, energia elétrica, etc.) é muito
alto. Assim, o que parece se colocar é: vale a pena? Para onde iremos desta
forma?
Algumas big techs
já realizam experimentos que adicionem publicidade ao uso das suas plataformas
de IA Generativa. Talvez seja possível, mas não sei como isso seria feito de
maneira efetiva. É algo a se observar. Na mesma medida, acredito que os
lançamentos de novos modelos de LLMs não devam ser esperados, ao contrário de
outras iniciativas, como aquelas envolvendo SLMs (Pequeno Modelo de Linguagem,
na sigla em inglês).
Os SLMs podem ser
explicados, resumidamente, como um modelo de linguagem treinado por meio de uma
base de dados menor, com comparação com os LLMs. Tratam-se de modelos que, por
serem menores, são mais leves e mais fáceis de implantar em dispositivos com
recursos limitados. Desta maneira, podemos usar a IA Generativa para construir
arquiteturas mais especializadas, segundo a nossa conveniência, orçamento e
demanda. Se as plataformas como o ChatGPT visam “responder a tudo”, as de SLMs
podem atender um determinado setor com o devido arcabouço de dados que lhe for
essencial.
Vejo uma tendência
no mercado em buscar possibilidade com a IA Generativa que sejam mais baratas,
mais focadas, com níveis de cobertura muito altos, nos domínios a serem
atendidos. Ouso dizer que, em alguns casos, possamos ter resultados até
melhores do que plataformas demasiadamente generalistas.
É evidente que
essa leitura do mercado atual de IA Generativa pode mudar. A tecnologia está aí
para nos desmentir ou criar novos caminhos ainda inexistentes o tempo todo.
Acredito que seja sintomático que se mantenha a demanda por serviços de
altíssima qualidade, super eficientes, mas talvez não precise ser uma big tech
a oferecer a plataforma que eu ou você precisamos. Há oportunidades em nichos
menores e, não menos importante, a chance de uma democratização dessas
ferramentas, abrindo a competitividade para outros países (como o Brasil)
entrem neste mercado com as suas próprias soluções, de LLMs, SLMs ou ambos.
Se baixarmos a
barreira de entrada de novas empresas e negócios neste setor da IA Generativa,
poderemos ter muitas boas novidades. Para os profissionais de TI, já imaginaram
poder trabalhar em modelos multi LLMs, nos mesmos moldes do que vemos no multi
cloud? E tudo muito bem calibrado com bons algoritmos e machine
learning. Eis uma leitura um tanto preditiva, cujo futuro próximo
se revelará generativo ou não.
Fernando Ramos - Chief Technology Officer (CTO) no Brasil da GFT Technologies
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