Com o aumento da busca por tratamentos de fertilidade, entenda
como a ciência está transformando as opções para quem deseja ter filhos
A fertilidade é
um tema frequentemente cercado de desinformação, o que impacta diretamente o
planejamento familiar e as decisões reprodutivas. Em um cenário em que mais
casais buscam tratamentos para realizar o sonho de ter filhos, Viviane Santana,
especialista em reprodução humana e gerente médica da Organon farmacêutica,
esclarece os principais mitos sobre o assunto. Ela aborda questões como a
relação entre idade e fertilidade, congelamento de óvulos, sucessos das
técnicas de reprodução assistida, além dos avanços recentes na área. Em sete
perguntas, a especialista oferece informações valiosas para aqueles que estão
em busca da maternidade ou paternidade. Confira:
1. A infertilidade é uma condição feminina, masculina ou de ambos?
A infertilidade pode afetar tanto homens quanto mulheres, ou ambos em um mesmo
casal. Nas mulheres, a idade é o fator crítico, pois a fertilidade começa a
declinar após os 30 anos com a perda gradual natural dos óvulos ao longo da
vida. Além disso, muitos outros fatores podem contribuir com esse declínio:
alimentação, sedentarismo, estresse, tabagismo, obesidade, doenças que podem
afetar ovários, útero e trompas - como a endometriose - além de alterações
genéticas e qualquer condição que gere disfunções hormonais.
No caso dos homens, além dos mesmos fatores de um estilo de vida não saudável,
a infertilidade pode ocorrer por questões testiculares, dos canais que conduzem
o sêmen, problemas de ejaculação, alterações hormonais e causas genéticas. O
uso de anabolizantes, que vem crescendo muito nos últimos anos, também é um
fator crucial que tem gerado altas taxas de infertilidade masculina.
Existe ainda a chamada "esterilidade sem causa aparente" (ESCA), em
que nenhum fator é identificado, mesmo após investigação completa de ambos. De
qualquer forma, o importante é que sempre a investigação inclua o casal,
evitando diagnósticos incorretos e tardios.
2. Se eu sou saudável, por que posso ter dificuldade para engravidar?
Embora um estilo de vida saudável contribua para a manutenção da fertilidade,
ele sozinho não garante sucesso para engravidar. Há fatores que vão além do
controle individual, como condições médicas subjacentes ou causas inexplicáveis
de infertilidade. Exames regulares e acompanhamento médico são fundamentais
para o tratamento de cada caso.
Para mulheres, mesmo com ótimos hábitos de vida, a idade permanece sendo um
fator determinante para a fertilidade. O que ocorre é que cada mulher já nasce
com todos os óvulos que terá ao longo da vida, em escala de milhões, e vão perdendo
centenas por mês naturalmente. Essa perda mensal não pode ser evitada. O ideal
é que todas as mulheres façam seu planejamento reprodutivo, de forma a
acompanhar sua reserva de óvulos e conseguir se programar quanto ao momento
ideal para sua gestação.
3. É possível prever a fertilidade com um exame simples?
É possível ter uma noção da fertilidade por meio de exames, mas eles não
fornecem respostas definitivas. Em mulheres, dois exames principais que ajudam
a avaliar a reserva de óvulos são o ultrassom para contagem de folículos – onde
ficam os óvulos dentro dos ovários - e a dosagem do hormônio antimülleriano.
Com esses exames é possível ter uma ideia inicial de como está a capacidade
reprodutiva, de forma a criar um planejamento de quando seria o melhor momento
para a gravidez. Nos homens, um espermograma simples já consegue fornecer um
bom panorama de como está a qualidade seminal. No entanto, muitos médicos,
infelizmente, não têm o hábito de solicitar esses exames para o casal.
Além disso, a idade continua sendo determinante para a fertilidade
feminina e, muitas vezes, a mulher só recebe essa informação tardiamente, aos
38 anos ou mais. Dessa forma, a correta orientação médica é essencial para o
planejamento da gravidez de forma a aumentar as chances de sucesso.
4. Fazendo tratamento de reprodução assistida, posso ter certeza
de gravidez?
Há a ideia de que a reprodução assistida poderia resolver todos os problemas de
fertilidade e garantir uma gestação. No entanto, é importante ajustar essas
expectativas: a reprodução assistida é um tratamento médico que tenta alcançar
uma gravidez para aqueles que não conseguem de forma natural, mas sem garantia
total de sucesso. Muitos fatores estão envolvidos em casos de infertilidade e
cada pessoa pode reagir de forma diferente ao tratamento. Além disso, mesmo com
os constantes avanços, as técnicas sempre irão possuir limitações. Dessa forma,
a taxa de sucesso pode variar muito, e é fundamental avaliar as chances caso a
caso com um médico especialista.
5. Até que ponto é possível planejar a maternidade no
futuro?
O planejamento reprodutivo vai além do uso de métodos contraceptivos: é muito
importante também incluir a reflexão sobre quando se deseja engravidar. Muitas
mulheres utilizam métodos contraceptivos eficazes por muitos anos e priorizam
outros aspectos de suas vidas, e acreditam, aos 40 anos, que ainda têm um longo
tempo para planejar uma gravidez. No entanto, é essencial entender os limites
biológicos e buscar orientação médica desde cedo.
Há o mito que anticoncepcionais poderiam prolongar a fertilidade por mais
tempo. A realidade é que, quando a mulher faz o uso de anticoncepcionais, ela
apenas está evitando que ocorra a ovulação de um dos óvulos recrutados naquele
mês, sem interferir na perda de centenas que vai ocorrer de forma natural todo
mês.
Uma opção importante para ajudar a adiar a maternidade é o congelamento de
óvulos, preferencialmente antes dos 35 anos. Apesar de a maioria das mulheres
buscarem essa opção mais tardiamente, após os 38 anos, o ideal é que o
congelamento seja feito o quanto antes, quando a qualidade e a quantidade dos
óvulos são melhores. Após os 35, e especialmente após os 38 anos, os óvulos
estão mais envelhecidos, o que pode impactar as chances de sucesso em uma
gravidez futura.
Também é um mito que o congelamento de óvulos atrapalharia uma gestação de
forma natural por “gastar” os óvulos do futuro. Quando é realizado o
congelamento de óvulos ou alguma outra técnica de reprodução assistida, ocorre
apenas a estimulação da ovulação dos óvulos que já seriam recrutados naquele
mês, sem afetar a quantidade total. Ou seja, os óvulos que já seriam perdidos
naquele mês conseguem ser utilizados nessas técnicas, sem prejudicar ciclos
futuros ou levar a menopausa mais rapidamente.
6. Quais são os avanços mais recentes em reprodução
assistida?
A reprodução assistida é uma área em constante evolução, impulsionada por
avanços científicos e tecnológicos, como a inteligência artificial (IA). Essa
tecnologia está transformando etapas do processo, incluindo a seleção de
embriões que podem ter maior chance de sucesso, e na personalização do
tratamento, definindo medicamentos, doses hormonais e protocolos específicos
para cada paciente.
Outra inovação importante são os testes genéticos, que identificam alterações
nos embriões, aumentando as chances de uma gestação saudável. Esses avanços
refletem a busca por tratamentos mais eficazes e individualizados, unindo
ciência e tecnologia para ajudar pacientes a realizar o sonho de ter filhos.
7. Por que o número de casais que buscam tratamento
de fertilidade está aumentando globalmente?
Os estudos apontam que o aumento na procura por tratamentos de fertilidade está
diretamente relacionado a dois fatores principais: mudanças no estilo de vida e
o adiamento da maternidade. Hábitos como estresse, poluição, tabagismo,
obesidade, uso de anabolizantes e alimentação, impactam negativamente a
fertilidade de homens e mulheres.
Além disso, o adiamento da maternidade, impulsionado pela maior participação feminina
no mercado de trabalho e priorização da carreira, é outro fator importante. Sem
planejamento reprodutivo, engravidar pode ser mais difícil, mesmo com
tratamentos de reprodução assistida.
Planejar a maternidade é tão importante quanto planejar outros aspectos da
vida, como carreira ou viagens. O essencial é planejar com antecedência e estar
bem informada.
Organon
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