Análise feita a partir de dados da Fundação Oncocentro de São Paulo revela que homens com câncer de mama são, quando comparados com as mulheres, diagnosticados em idades mais avançadas e em estágios mais críticos da doença, mas a radioterapia pós-operatória reduz em 33% a taxa de mortalidade
Multicêntrico, o estudo reuniu pesquisadores do
Hospital Sírio-Libanês, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo (FMRP-USP), do Latin America Cooperative Oncology Group
(LACOG) e das instituições canadenses Queen´s University e Juravinski
Cancer Centre. A proposta foi compreender as características do
câncer de mama na população masculina, além de analisar os fatores que poderiam
impactar no desfecho desses pacientes, em especial na sobrevida global. Na
análise multivariada ajustada para prática (pública ou privada), escolaridade
(baixa ou média/alta), idade, estágio no diagnóstico e modalidades de
tratamento, o preditor independente significativo para sobrevida global foi o
estágio da doença no momento do diagnóstico.
De acordo com o radio-oncologista Gustavo Nader
Marta, do Hospital Sírio Libanês, presidente da Sociedade Brasileira de
Radioterapia (SBRT) e um dos autores do estudo, o uso de radioterapia
pós-operatória reflete diretamente na melhora da sobrevida global dos pacientes
com câncer de mama masculino, principalmente a partir da fase intermediária de
agressividade da doença. Em doença não metastática, explica o especialista, os
pacientes são submetidos à cirurgia, com tratamentos complementares que podem
incluir a radioterapia. “Nos pacientes com estadiamento II e III, a realização
da radioterapia após a cirurgia diminuiu o risco de morte. Por outro lado, a
quimioterapia não impactou a probabilidade de sobrevivência desses pacientes. É
um achado importante, que serve como ponto reflexão para tomada na prática
clínica”, pontua Marta.
Mais comum dos 51 aos 70 anos
O trabalho mostrou que apenas 21,5% dos homens com
câncer de mama desenvolvem a doença antes dos 51 anos. Os dados mostram que em
51,5% dos casos o diagnóstico de câncer de mama foi feito entre os 51 e 70 anos
e 27% dos casos ocorreram após os 70 anos. Com base nesses números, Gustavo
Marta se questiona sobre o motivo para o diagnóstico de câncer de mama em
homens ocorrer em idade mais elevada e fase mais avançada de seu
desenvolvimento. “Uma das causas é o desconhecimento dos homens sobre o risco
de eles também poderem ter um tumor maligno na mama. A doença costuma se
apresentar inicialmente como um nódulo na região mamária, mas isso não chama a
atenção da população masculina. Somado a isso, quando se compara com as
mulheres – que são mais habituadas a ir, por exemplo, ao ginecologista – o
homem busca com menor frequência uma ajuda especializada”, ressalta Nader
Marta.
Sobrevida em 5 e 10 anos
Na amostra de 907 pacientes com câncer de mama
masculino, a sobrevivência em cinco e dez anos após o diagnóstico foi,
respectivamente, de 87,9% e 77,8% entre os diagnosticados em estágio I (quando
a doença está restrita à mama). Nos estágios II a IV, as taxas sobrevivência em
cinco e dez anos foram de 79,9% e 58,9% (II), 51,6% e 24,5% (III) e 20,0% e
5,6% (IV, quando há metástase.
Sintomas do câncer de mama
masculino
Semelhantes aos das mulheres, mas muitas vezes são
ignorados devido à raridade da doença. Os principais sinais incluem:
- Nódulo
na mama: o
sintoma mais comum é a presença de um caroço na região da mama, geralmente
indolor. Esse nódulo pode ser firme e aparecer de forma isolada.
- Mudança
na aparência da mama: alterações no formato ou no tamanho da mama,
como aumento ou assimetria, podem ser indicativos da doença.
- Alterações
na pele: a
pele ao redor da mama pode apresentar retrações, enrugamento ou
vermelhidão, semelhantes à casca de laranja.
- Secreção
no mamilo:
Secreção, especialmente sanguinolenta, proveniente do mamilo, pode ser um
sinal de alerta para o câncer.
- Dor: Embora a dor não seja um
sintoma comum, alguns homens podem sentir desconforto ou dor na região da
mama ou ao redor do nódulo.
Fatores de Risco
- Idade: A maioria dos casos ocorre
após os 60 anos, embora homens mais jovens também possam ser afetados.
- Histórico
familiar:
Ter parentes próximos, como mãe ou irmã, que desenvolveram câncer de mama
aumenta o risco.
- Alterações
genéticas:
Mutação no gene BRCA1 ou BRCA2, associado ao câncer de mama em mulheres,
também pode aumentar o risco em homens.
- Exposição
a hormônios:
Níveis elevados de estrogênio, causados por condições como cirrose
hepática ou uso de terapias hormonais, podem estar associados ao câncer de
mama masculino.
- Radiação: Exposição à radiação,
especialmente em tratamentos anteriores, também é um fator de risco.
Referência do estudo
de Oliveira Frederice R, Pereira AAL, Arruda GV, Gouveia AG, de Andrade FEM, Mori LJ, Linck RDM, Shimada AK, Hanna SA, de Moraes FY, Marta GN. Characteristics and Survival Outcomes of Male Breast Cancer in Brazil: A Large Population-Based Study. Clin Oncol (R Coll Radiol). 2024 Oct 5:S0936-6555(24)00415-1.
Disponível em https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0936655524004151.
Sociedade Brasileira de Radioterapia - SBRT
https://sbradioterapia.com.br/
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