Uma dor aqui, um mal-estar ali e a conclusão: está na hora
de ir ao médico. Após relatar nossas queixas, ele prescreve alguns exames e, na
consulta de retorno, vêm o diagnóstico e o tratamento, muitas vezes
medicamentoso. É nesse momento que precisamos estar atentos aos remédios e à
forma como devemos ingeri-los, e um olho na receita e outro nas bulas fazem bem
à saúde, pois há muitos cuidados que devemos tomar em relação ao horário de
cada medicamento, para evitar a interação medicamentosa, já que ela pode
aumentar ou diminuir os efeitos dos fármacos quando tomados simultaneamente ou
de forma incorreta.
Em uma entrevista, a farmacêutica Mariana Oliveira, do Hospital Edmundo Vasconcelos, de São Paulo, esclarece muitas dúvidas sobre o tema e traz informações relevantes para os pacientes em geral. Vale destacar que essas orientações podem ser alteradas de acordo com prescrição médica.
P: Sabemos que os medicamentos exigem cuidados para serem ingeridos, mas isso nem sempre está claro para os pacientes. Vamos perguntar sobre diversas classes de fármacos e começamos por aqueles que devem ser tomados em jejum. Por que isso acontece e como devem ser ingeridos?
Mariana Oliveira: Geralmente, os medicamentos prescritos para uso em jejum têm potencial maior de interação medicamentosa e qualquer interação droga-droga ou droga-alimento pode impactar na absorção adequada desses medicamentos. Existem àqueles que precisamos utilizar em jejum para proteger a mucosa gástrica também, que são os protetores gástricos, deixando o meio propício para iniciarmos nossas refeições.
P: E quando tomamos vários medicamentos diariamente, como devemos fazer a conciliação medicamentosa para não comprometer o efeito de cada remédio prescrito?
Mariana Oliveira:
Isso
pode variar conforme a classe terapêutica dos medicamentos, de paciente para
paciente e do quadro clínico. Seguindo uma ordem de fácil entendimento, visando
orientar principalmente os pacientes de múltiplas comorbidades e que fazem uso
de polifarmácia (mais de cinco medicamentos diariamente), pode-se sugerir a
utilização da seguinte maneira:
1 – Hormônios tireoidianos – jejum absoluto;
2 – Protetor gástrico – 30 minutos após os hormônios
tireoidianos;
3 – Hipoglicemiantes (diabetes) – 30 minutos antes do café
da manhã, se uma vez ao dia; se duas vezes, antes ou durante o almoço e antes
ou durante o jantar;
4 – Café da manhã – 30 minutos após o protetor gástrico;
5 – Antimicrobianos (antibióticos) – após as refeições,
seguindo a posologia prescrita. Ideal que não sejam utilizados com estômago
vazio;
6 – Hipertensivos – se for uma vez ao dia, tomar pela manhã,
após o café; se duas vezes, de manhã e à noite.
É importante saber que os antibióticos devem ser tomados
sempre no mesmo horário, mas caso aconteça algum imprevisto, eles podem ser
ingeridos até duas horas depois da hora habitual sem prejuízo significativo de
eficácia. Outra informação importante é que os hormônios tireoidianos devem ser
ingeridos obrigatoriamente antes do protetor gástrico para que sua absorção não
seja prejudicada.
P: Qual é a
diferença de uma prescrição de 12 em 12 horas ou duas vezes ao dia?
Mariana Oliveira: Se o médico prescrever o medicamento de 12 em 12 horas, ele obrigatoriamente
deve ser tomado a cada 12h, às 8 e às 20 horas ou às 10 e às 22 horas, por
exemplo. Se estiver prescrito duas vezes ao dia, a administração deve ser feita
em dois momentos do dia, podendo ser de manhã e à noite. É importante saber que
nesse caso não pode ser em horário próximo, como ao meio-dia e às 14 horas.
P: No caso das
pílulas anticoncepcionais, também é possível tomá-las mais tarde ou ingerir
duas no dia seguinte ao esquecimento?
Mariana Oliveira: Considerando que uma mulher tome seu anticoncepcional todos
os dias pela manhã e esqueça do medicamento em um determinado dia, lembrando
somente à tarde ou à noite. Tudo bem, utilizá-lo neste momento. Mas se ela
lembrou apenas no dia seguinte e quer utilizar dois comprimidos de uma só vez para
compensar o dia anterior, isso não é recomendado, pois existe o risco eminente
da superdosagem hormonal. No dia seguinte, ela deve continuar o tratamento,
mantendo apenas um comprimido e, se o esquecimento for algo rotineiro, é
importante a utilização de um segundo método contraceptivo pelo alto risco de
falha do primeiro método.
P: E os medicamentos
de uso contínuo para colesterol e cirrose? Como e quando devem ser ingeridos?
Mariana Oliveira: Os
medicamentos para hipercolesterolemia (colesterol) devem ser ingeridos à noite,
por conta do nosso ciclo circadiano (relógio biológico com produção de
colesterol pelo fígado mais intensa à noite) com melhor redução do colesterol.
Já os medicamentos para cirrose hepática devem ser administrados conforme prescrição
médica.
P: E os medicamentos
para dor aguda comprados livremente e tomados sem prescrição médica?
Mariana Oliveira: Esses medicamentos têm indicação pontual, ou seja, tomar quando sentimos dor. Quando ela passa, suspende a medicação. Se a dor persistir, é preciso procurar um médico.
P: Bebidas alcoólicas influenciam no efeito dos medicamentos?
Mariana Oliveira: A recomendação é que não façamos a ingestão de bebidas alcoólicas quando estivermos em tratamento com anti-inflamatórios, antibióticos, antidepressivos ou neurolépticos, principalmente esses dois últimos que são medicamentos que têm ação no sistema nervoso central e qualquer alteração de dose relacionada a metabolização do medicamento pelo fígado (redução ou aumento de dose disponível no organismo) pode ser prejudicial ao tratamento. As bebidas alcoólicas exigem do fígado um trabalho maior visto que ele trabalha mais rapidamente para eliminar essas substâncias que são tóxicas, consequentemente os medicamentos também serão metabolizados mais rapidamente e sua absorção pelo local de ação pode ser prejudicada, não atingindo o efeito esperado.
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