Segundo a
psicóloga Cecília Rocha, tais atitudes são essenciais para que elas tenham uma
relação menos conflituosa com os filhos nesta fase por si só já tão turbulenta
Há uma frase famosa, um tanto clichê, que diz: “mãe
é padecer no paraíso”. A sentença explica-se porque a relação entre as mães e
seus filhos é uma mistura de momentos de ternura e beleza e grandes desafios,
que muitas vezes testam os limites das forças. Em qualquer fase da vida de seus
pequenos, elas passam por apuros para criá-los, mas a adolescência, em
especial, é considerada, pela experiência humana e por estudiosos do tema, um
dos períodos mais difíceis no que diz respeito a isso.
A psicóloga e arteterapeuta Cecília Rocha explica
que a adolescência é uma etapa das mais complicadas na relação entre mães e
filhos porque é lugar de passagem, em que eles abandonam a infância, onde são
totalmente guiados pelos pais, e assumem uma posição de busca pela própria autonomia
e identidade. Neste período, ressalta Cecília, é natural que o jovem se afaste
da família, porque o reconhecimento de suas particularidades, sonhos e desejos
individuais exige muitas vezes esse comportamento. Além disso, segundo a
psicóloga, o chamado da vocação também costuma provocar muita angústia e
ansiedade nos adolescentes.
Nesta fase complicada, visando estabelecer uma
comunicação mais efetiva com seus filhos adolescentes e promover, assim, um
ambiente de confiança e compreensão mútua, a psicóloga e arteterapeuta sugere
que as mães pratiquem três ações. A primeira delas é escutar. “Precisamos
aprender a escutar nossos filhos. Escutar, além das palavras, os gestos, o não
dito”, orienta. Conforme Cecília, somente dessa maneira, a mãe consegue perceber
que muitos dos comportamentos dos filhos adolescentes não têm nada a ver com
elas e sim com as demandas que a própria fase impõe.
A segunda estratégia a ser adotada é respeitar quem
os filhos são, seus gostos, preferências, personalidade, interesses, estilo de
vestir etc. “As mães precisam compreender que seus filhos são seres únicos e
singulares, muitas vezes, diferentes delas, e respeitar isso”, diz a psicóloga.
A terceira ação que deve ser colocada em prática é participar. “Mesmo que o
tempo de convívio tenda a diminuir na adolescência, é importante se envolver
nas coisas que são realmente importantes para eles, tais como passatempos,
dificuldades, medos e sonhos”, recomenda.
Um ponto delicado entre os adolescentes e que deve
ser motivo de atenção das mães é a relação deles com a própria imagem, que,
dependendo como for, pode afetar negativamente sua autoestima. Para Cecília, é
de suma importância compreender que a adolescência é marcada por transformações
hormonais e físicas visíveis, que podem causar grande ansiedade e medo nos
filhos. Conforme a psicóloga, a questão fica ainda mais complicada na sociedade
em que vivemos, onde a perfeição é vendida como regra pelas redes sociais.
Assim, é imprescindível que as mães como espelhos, reflita para esse filho as
qualidades que ele tem, porque assim fica mais fácil de ele reconhecer essas
qualidades nele mesmo, ressaltando que cada ser humano é único e singular.
Cecília destaca que reconhecer as qualidades,
beleza e os potenciais dos filhos adolescentes, sem pautar seu olhar por
expectativas ou críticas, é também de grande importância para que eles
amadureçam de maneira positiva. “Quando as mães reconhecem qualidades nos
filhos, isso ajuda os ajuda a reconhecer neles mesmos essas qualidades”,
afirma. Da mesma forma, segundo a psicóloga, é relevante para o desenvolvimento
do adolescente que as mães confiem que ele seja capaz de fazer boas escolhas.
“Ao sentir essa confiança, ele segue mais autoconfiante pelo mundo”, diz.
Por exemplo, no que diz respeito ao desenvolvimento
de habilidades interpessoais, Cecília sugere que as mães se voltem para fatores
relacionados à inteligência emocional de seus filhos. Neste ponto, segundo a
psicóloga, ajuda bastante criar um ambiente familiar comunicativo, em que o
mundo interno é visto e expressado. “Sempre oriento as mães a estimular seus
filhos a falarem e expressarem suas emoções, e mais do que isso: aceitar e
validar o que expressarem, pois assim auxilia que eles se aceitem também”,
destaca.
Ainda com relação às emoções dos adolescentes,
Cecília comenta que eles costumam senti-las de forma muito intensa. Contudo,
ressalta, uma característica das emoções é que elas são passageiras. Assim, de
acordo com a psicóloga, se uma emoção se mostrar constante demais e de forma
exagerada, as mães devem acender o sinal de alerta. Da mesma forma se os
adolescentes apresentarem mudanças comportamentais, como dificuldade para
dormir ou sono excessivo, mudanças na alimentação para mais ou menos, irritação
constante e preferência ao isolamento. “Nestas ocasiões, acolha seu filho,
mostre que entende o que ele sente e pensa e deixa claro que está ali para
ajudá-lo e que essa ajuda passa pela procura de um profissional especializado”,
afirma.
No sentido de facilitar o caminho dos filhos em sua
caminhada pela adolescência, Cecília ressalta que as mães evitem cair em
armadilhas. A primeira delas é levar o comportamento dos filhos para o lado
pessoal. De acordo com a psicóloga, elas devem procurar se lembrar que seus
filhos estão numa das fases mais turbulentas da vida e com uma missão grande
pela frente, que é de se individualizar, encontrar-se, saber quem realmente
são. “Nessa fase, o social ganha força e é natural que muitas vezes eles
prefiram o grupo à família. Esse é um chamado da fase. Não tem nada a ver com a
gente”, explica.
A segunda armadilha é minimizar os conflitos e
problemas enfrentados pelos filhos. “O que ao nosso ver pode parecer pequeno e
simples, para eles pode ser oposto. Se sentirem que as mães não dão a devida
importância àquilo que tanto os aflige podem acabar se fechando ainda mais”,
diz. Já a terceira armadilha que deve ser evitada é rotular os filhos. “Isso é
muito nocivo e pode trazer consequências desastrosas a longo prazo. Costumo
comparar o rótulo a uma prisão. A cada dia que passa fica mais difícil de
sair”, comenta.
Conversar, partilhar e manter uma boa conexão com
os filhos, resumidamente, são as principais ações que, de acordo com a
psicóloga e arteterapeuta, as mães devem tomar para conduzir os filhos
adolescentes nessa fase repleta de desafios. Além disso, reitera Cecília, as
mães devem zelar por um ambiente de validação e acolhimento, para que os filhos
regulem as próprias emoções. Outra ação de grande importância é abrir espaço
para escutá-los sem julgamentos e críticas.
Minibio
Cecília Rocha – Psicóloga. Especialista em TCC
(terapia cognitiva comportamental) pela FMUSP. Arteterapeuta. Mediadora de
conflitos.