Recentemente,
uma amiga se viu espantada porque um prestador de serviços da empresa que ela
dirige realizou atividades não previstas em contrato e não as cobrou
posteriormente. Segundo ela, apesar de aqueles itens não estarem estipulados no
acordo formal, por escrito, haviam sido elencados na reunião de contratação,
mas, na redação do documento, por falha dos advogados, foram deixados de lado.
“Qualquer empresa teria o direito de não cumpri-los ou de cobrá-los à parte,
mas, o vendedor disse que se lembrava perfeitamente do acordo, que ele estava
incluso no preço e que sua palavra valia mais do que algumas frases escritas.
Fiquei muito bem impressionada e essa atitude nos incentivou a firmar novas
parcerias com essa empresa, que não só realiza serviços tecnicamente perfeitos,
mas, demonstra honestidade”, revelou ela.
A
questão deste case é um fato a ser analisado sob a ótica da confiança
empresarial: por que a honestidade desse profissional, que deveria ser uma
regra, tornou-se algo tão admirável?
As
empresas, atualmente, vivem um momento no qual títulos, especializações e o
conhecimento técnico são altamente valorizados. Se o profissional passou por
uma excelente universidade e a concluiu com louvor, domina outros idiomas, é
pós-graduado e tem MBA, Mestrado, Doutorado ou especializações em sua área e,
além dessas virtudes acadêmicas, fez carreira em boas e grandes empresas,
certamente tem méritos suficientes para ocupar cadeiras importantes nas
melhores corporações do planeta. Sem dúvida, ele tem o preparo necessário para
exercer o cargo e a função que o aguardam.
Porém,
além de tudo isso, o que se espera, atualmente, é que as empresas tenham
profissionais com os quais possam contar, depositar confiança e que as
representem de maneira ética, acima de tudo.
No
caso exposto por minha amiga, se o funcionário da empresa prestadora de
serviços agisse de maneira diferente, ele até poderia ter conseguido agregar
mais serviços ao contrato e ganhar mais com isso, porque a contratante,
provavelmente, não se daria ao trabalho de procurar uma nova empresa para
terminar o que já estava quase no fim. Mas, ele mancharia o nome da marca que
representa, fechando completamente as portas para contratações futuras e,
também, para ele mesmo, no caso de se associar a uma nova empresa. Esse é um
profissional no qual todos os elos da cadeia podem confiar, porque ele não
pensa em ganhar apenas uma vez, ele quer desenvolver relacionamentos duradouros
e honestos.
O
mundo empresarial precisa viver uma nova fase, que eu chamo de ‘era da
confiança empresarial’. Não é utopia, tampouco modismo: é apenas a constatação
de que, além de tudo o que o profissional precisa ter para ser valorizado, ele
necessita de gerar confiança.
Marcelo
Tertuliano - Administrador de Empresas, com 22 anos de experiência na função
financeira, dos quais, 15 anos em posição gerencial. Atualmente lidera a área
financeira de uma grande mineradora em Moçambique. É um estudioso do
comportamento empresarial mundial.