Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 4,7% dos brasileiros sofre de distúrbios alimentares, no entanto, na adolescência, esse índice chega até a 10%. A psicóloga e coordenadora do AMBULIM na USP, Valeska Bassan, comenta que nesse período da vida as pessoas passam por muitas mudanças hormonais que afetam diretamente o corpo, gerando insegurança e a busca por um padrão de beleza que na maioria das vezes é inalcançável.
“Um dos principais fatores que contribuem para o
desenvolvimento dos Transtornos Alimentares são as dietas restritivas que podem
agravar o quadro de obesidade pelo chamado efeito rebote, você se torna um
obcecado por comida, pensa nisso o tempo todo. E para chegar a esse objetivo é
bastante comum os jovens fazerem loucuras para estar com o ‘corpo ideal’”,
explica.
De acordo com Valeska, as redes sociais tem um
papel importante no desencadeamento dos transtornos, uma vez que muitos
influenciadores supervalorizam a magreza e o corpo perfeito, tornando-se um
gatilho para esses seguidores. “Não existe uma causa específica para os
transtornos, é uma combinação de fatores que variam caso a caso e afeta outros
aspectos da vida do paciente”. Muitos deles, especialmente os adolescentes,
apresentam resistência em reconhecer o quadro de compulsão, por isso, é
fundamental que os pais fiquem atentos e ajam o mais rápido possível.
Embora a distorção de imagem afete mais mulheres do
que homens, eles não estão isentos disso. A bulimia e a anorexia são
transtornos em que essa característica está bastante presente. A nossa
percepção de imagem se desenvolve na medida em que crescemos, na infância e
adolescência, começamos a receber observações de membros da família,
treinadores, amigos e namorados. Alguns traços de temperamento como o
perfeccionismo e a autocrítica também podem influenciar para o desenvolvimento
de uma autoimagem corporal negativa, e como consequência disso, os
transtornos alimentares.
Características dos Transtornos Alimentares
As pessoas com o Transtorno Compulsivo Alimentar
(TCA) não conseguem parar de comer mesmo tendo a sensação de saciedade e
desconforto abdominal, e é normal que ela prefira comer sozinha, pois sentem
vergonha da falta de controle durante os episódios de compulsão. A
especialista ressalta que o TCA é diferente da anorexia ou bulimia nervosa. “No
primeiro caso a pessoa para de comer, e no segundo a culpa pela compulsão
resulta em comportamentos compensatórios, como indução dos vômitos e/ ou
excesso de exercício. Todos tem tratamento”, diz.
É um mito achar que a doença está limitada a
pessoas obesas, podendo ocorrer em pessoas com um peso adequado e comenta que
existem sintomas que merecem atenção. Comer escondido, sentir-se culpado após
as refeições, sensação de inadequação junto à sociedade e tentativas
fracassadas de dieta são sinais que devem ser levados em conta sempre.
Valeska Bassan - psicóloga e
coordenadora do AMBULIM