Há décadas, os departamentos de Recursos Humanos (RHs) avaliavam e bonificavam os funcionários a partir da abordagem comportamental. Mas, hoje, entendemos que o comportamento é somente a ponta do iceberg. Cada vez mais presente nos RHs, a neurociência – que estuda o funcionamento do cérebro humano - mostra que entender como essa máquina de pensamentos trabalha é a maneira mais rápida e efetiva para lidar com o ser humano e extrair o que ele tem de melhor, trazendo grandes contribuições nos resultados das empresas.
A neurociência entende
que o comportamento do ser humano é uma consequência dos seus pensamentos,
sentimentos ou emoções e, a partir disso, os neurocientistas sugerem que a
empresa precisa criar e favorecer um ambiente harmonioso para que o colaborador
se sinta pertencente e crie uma identidade com o local onde trabalha. Ele
precisa sentir que seus valores são respeitados e, consequentemente, irá
produzir mais e ser recompensado por isso, gerando assim um circulo virtuoso.
Hoje, é preciso
adaptar-se para receber os novos colaboradores. Ao contrário das gerações anteriores,
os mais jovens (Millennials) escolhem as empresas que mais se identificam para
trabalhar. Dessa forma, é preciso trazer esse sentimento para dentro dos
ambientes corporativos.
A história vai
remodelando a nossa forma de trabalho. Herdamos um modelo baseado na era
pós-revolução industrial e fomos preparados para sermos operários, bater ponto,
deixando por muito tempo a vida pessoal de lado no ambiente de trabalho. No
entanto, não é mais possível lidar com o ser humano dessa maneira.
A neurociência já
constatou que o clima pesado, com muitas horas de trabalho, não é produtivo,
indicando que proporcionar ambientes diferenciados é essencial para estimular a
criatividade, bem como proporcionar pausas e momentos de relaxamento. São nesses
momentos que áreas cerebrais antes desconectadas, são acionadas fazendo com que
nosso cérebro trabalhe mais e de forma organizada. Assim, as grandes ideias não
vêm de grandes pensadores, mas de quando estamos nessa denominada rede de
repouso.
Entendendo a importância
de usar a neurociência a seu favor, gigantes como Google, por exemplo,
estabeleceram um tempo livre para que funcionários pudessem extrair aqueles
momentos conhecidos como “Uaus” – ápice de criatividade. A Google sabe que,
nesse tempo necessário para pensar em nada, é quando as ideias geniais surgem.
Nessas empresas de
conhecimento, com conceitos diferenciados, como Amazon, Google, Tesla, entre
outras, é observado ambientes interativos, como mesa de sinuca, bar, redes e
área para descanso e salas de estar. Tudo para trazer bem-estar e estimular a
criatividade dos colaboradores. Não é à toa que, hoje, as companhias de
conhecimento avançam entre as mais ricas do mundo substituindo os postos há
tanto tempo ocupados pelas empresas de commodities, como as de petróleo ou
mineradoras.
Aliás, a criatividade e
a empatia, segundo a neurociência, é o que difere o ser humano de máquinas.
Para esse campo de atuação, as escolas do futuro têm de preparar as próximas
gerações para enfatizar a agilidade mental e tudo aquilo que nos diferem da
máquina, uma vez que em pouco tempo a Inteligência Artificial (AI) vai assumir
quase que integralmente o trabalho operacional.
Passar por uma mudança
cultural como essa não é fácil, mas só sobreviverão aquelas empresas que conseguirem
se adaptar. Tudo fica mais fácil quando há um RH com mindset (pensamento)
voltado para o sentimento do ser humano, juntamente com o apoio de uma
liderança positiva, que também trabalha por meio das motivações e capacidades
dos funcionários para torná-los mais felizes e produtivos.
Pela neurociência é
possível, inclusive, identificar grupos similares para um determinado objetivo
no trabalho por meio de ferramentas, jogos e assessment (avaliação de
competências).
O estudo do
funcionamento cerebral para desenvolver o potencial humano é tão importante
que, nos Estados Unidos, desde a época do Governo Obama, há um projeto chamado
Brain Iniciative, cujo objetivo é compreender o funcionamento cerebral na sua
totalidade, inclusive como a atividade cerebral influencia nossas percepções,
decisões e e por último nossas ações.
Esse campo de atuação
ainda é embrionário no Brasil, mas observamos muito a neurociência nas
startups, que exploram essa nova abordagem para o sucesso do empreendimento.
Dessa maneira, precisamos
inovar e explorar novas formas de trabalho que possibilitem o maior rendimento
e as melhores ideias. O home office, por exemplo, acentuado na pandemia, é uma
forma de criar novas possibilidades de horários. Existem pessoas que produzem
melhor na madrugada ou a noite. Portanto, flexibilizar horário pode ser uma
alternativa para aproveitar melhor esse funcionário e extrair 100% dele.
O cérebro humano ainda é
um mistério, mas a neurociência está fazendo contribuições significativas para
explorar o potencial humano em diversas áreas, inclusive para o sucesso das
empresas. Assim, trabalhar o senso de pertencimento baseado nos sentimentos dos
colaboradores, no que eles precisam para se sentirem parte daquele ambiente, é
fundamental para sua evolução e produtividade. Precisamos nos reinventar para
sobreviver, e aliar a neurociência nas atividades do RH é o primeiro passo para
criar um círculo virtuoso dentro do ambiente corporativo.
Karin Panes - treinadora comportamental,
master coach especialista em Psicologia Positiva e Neurocientista e CEO da ATO
Solutions, empresa especializada em Consultoria, Treinamento e Desenvolvimento
Humano.
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