Relator na Câmara dos Deputados do Combustível do Futuro, o deputado federal Arnaldo Jardim (PPS-SP), destaca as oportunidades que a nova legislação, sancionada nesta terça-feira (08/10), traz para as usinas de etanol a partir da atividade de captura e armazenamento de carbono (CCS, na sigla em inglês), que recebeu capítulo específico na recém-sancionada lei.
Segundo Jardim, a novidade tem significativo
potencial para promover ganhos financeiros para as usinas tanto por meio da
geração e comercialização de créditos de carbono como também pela certificação
do biocombustível como “zero emissor” ou “emissor negativo”, o que pode ser
monetizado com sobrepreço em mercados que valorizam este diferencial.
A cadeia produtiva de captura e armazenamento de
carbono tem estimativa de atrair investimentos entre R$ 14 e R$ 20 bilhões
anuais no Brasil, com intensa participação do setor sucroenergético, indicam
dados da CCS Brasil, entidade especializada no tema e realizadora em parceria
com a Hidroplan do ‘Carbonless Summit’, evento que
acontece nos dias 04 e 05 de novembro na capital
paulista e que terá a participação do deputado Arnaldo Jardim na Cerimônia de
Abertura.
"O etanol de cana-de-açúcar reduz em até 90%
as emissões de gases que contribuem para as mudanças climáticas. Mas essa
pegada de carbono pode ser ainda menor, passando a ser negativa, com a captura
e o armazenamento do CO2 gerado durante o processo de produção do
biocombustível", acentua o deputado.
Na entrevista a seguir, ele dá mais detalhes sobre
esta nova fronteira de negócios que o CCS traz para as usinas de etanol.
1) A atividade de CCS consta do Combustível do Futuro. Como o senhor
enxerga as oportunidades da tecnologia para o setor sucroenergético?
O setor sucroenergético brasileiro, em particular o
etanol tem a digital, o “DNA” de ser sustentável. Produz biocombustível limpo e
renovável e no elo da lavoura é ancorado em boas práticas, com mecanização das
tarefas, aproveitamento de resíduos e sobras que são transformados em
fertilizantes, bem como funcionam como matéria-prima para geração de energia
elétrica, e assim por diante.
O etanol de cana-de-açúcar reduz em até 90% as
emissões de gases que contribuem para as mudanças climáticas. Mas essa pegada
de carbono pode ser ainda menor, passando a ser negativa, com a captura e o
armazenamento do CO2 gerado durante o processo de produção do biocombustível.
No Brasil, são mais de 360 usinas que produzem
etanol, tendo, portanto, oportunidade de acessar o mercado de créditos de
carbono e criar mais uma fonte de receita para as empresas. A atividade de CCS
no setor de etanol pode resultar em ganhos financeiros para as usinas tanto por
meio da geração e comercialização de créditos de carbono como também pela
certificação do biocombustível como “zero emissor” ou “emissor negativo”.
A nova lei vai dar o impulso definitivo do tema no
Brasil, destravando projetos já engatilhados, que avançam agora para a fase de
real implantação. O avanço do armazenamento de CO2 no solo no âmbito do
segmento da cana só vai reforçar ainda mais a sustentabilidade do setor.
2) O CCS tem potencial para
elevar ainda mais a sustentabilidade do etanol brasileiro, permitindo até a
pegada de carbono negativa?
Uma importante técnica que pode realizar a
neutralização de carbono é o uso da biomassa combinada com o CCS, chamada de
Bio-CCS (bioenergy with carbon dioxide capture and storage). A biomassa
utilizada para biocombustíveis é proveniente de plantas, ou seja, durante seu
crescimento já há a captura de carbono, mas este é novamente lançado na
atmosfera quando convertido em energia, mesmo que em quantidades menores que os
combustíveis fósseis.
Entretanto, se este CO2 for capturado e
transportado para um local de estoque permanente, como o subsolo, isso irá
resultar em uma remoção negativa de CO2, ou seja, será capturada uma quantidade
maior do que foi emitido. O carbono gerado na fabricação de etanol está praticamente
pronto para ser estocado, devido ao seu elevado grau de concentração –
diferentemente de outros setores em que o CO2 precisa ser separado de outros
gases.
3) As usinas poderão ter
adicional de renda com a implantação da atividade de CCS em suas operações de
fabricação de etanol?
A atividade de CCS no setor de etanol pode resultar
em ganhos financeiros para as usinas tanto por meio da geração e
comercialização de créditos de carbono como também pela certificação do
biocombustível como “zero emissor” ou “emissor negativo”. Isso permite que o
etanol seja monetizado com ágio em mercados internacionais que valorizam este
atributo.
O processo de captura, transporte e armazenamento
de CO2 no subsolo, ou CCS (captura e armazenamento de carbono em inglês), está
previsto na lei da Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio) e pode
significar oportunidade para a geração de um maior volume de Créditos de
Descarbonização (CBios) e consequentemente de renda para as usinas de etanol.
Projeções mostram que o mercado mundial de captura,
transporte e armazenamento de carbono no solo ou CCS – captura e armazenamento
de CO2, em inglês – tem potencial para movimentar US$ 3,54 bilhões em 2024, com
estimativa de atingir US$ 14,51 bilhões em 2032.
4) A novidade pode atrair
novos investimentos internacionais para o setor sucroenergético e
consequentemente para o agro brasileiro?
Certamente. O Brasil é o país mais bem
posicionamento quando falamos de descarbonização e transição energética. Nosso
potencial nesta questão é gigantesco porque combina oportunidades concretas de
produção de energia limpa e renovável em diversas rotas, o que vai ao encontro da
agenda global.
Neste sentido, o mercado brasileiro de CCS tem
perspectiva de movimentar entre R$ 14 e R$ 20 bilhões anuais, com participação
significativa do setor da cana, indicam estimativas da entidade CCS Brasil.
Investidores, fundos de investimento soberanos de países, assim como, claro,
empresas prestadoras de serviço na atividade de CCS, estão de olho neste
mercado.
Os principais projetos estão concentrados nos
Estados Unidos, lideres neste mercado e que anunciaram recentemente US$ 100
milhões para iniciativas de CCS com etanol. Com o novo marco, que traz
segurança jurídica, não faltarão investidores para o setor.
5) Qual sua visão sobre a
importância de reunir no Brasil alguns dos principais especialistas sobre CCS?
É uma oportunidade importante de levar esse assunto
às usinas de processamento de cana, que podem se beneficiar muito adotando o
CCS e com isso, ganhando mais uma alternativa de geração de receitas. É mais
uma forma de promover a economia circular, já tão praticada pelo setor
sucroenergético, onde nada é desperdiçado e cada resíduo é aproveitado. Não é
por acaso que a produção de etanol no Brasil é a mais sustentável do mundo, e
com o CCS essa sustentabilidade pode se tornar ainda mais impactante e significativa.
SERVIÇO:
Carbonless Summit
Dias 04 e 05 de novembro de 2024
Auditório do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de São Paulo (CREA-SP)
Avenida Angélica, 2364 – São Paulo, SP
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