Relatório revela que grandes marcas estão desistindo de metas de sustentabilidade; especialista em ESG alerta sobre os prejuízos globais e a necessidade de regulação
A promessa de neutralidade de carbono e de práticas mais
responsáveis para o meio ambiente, firmada por grandes marcas da moda, segundo
o relatório recente da plataforma Business of Fashion (BoF). Isso ocorre em um
momento de retração econômica pós-pandemia, quando o foco do mercado tem se
voltado para os resultados financeiros imediatos, deixando em segundo plano as
metas de sustentabilidade.
“O setor da moda é um importante emissor de gases de efeito estufa
e um dos grandes responsáveis pela presença de microplásticos nos oceanos. Além
disso, enfrenta problemas sociais graves, como o trabalho infantil e análogo à
escravidão em várias partes do mundo”, alerta o especialista em ESG, Gustavo
Loiola. "No boom pós-pandemia, muitas marcas assumiram compromissos
ambiciosos, como o de se tornarem carbono neutras até 2030 ou 2050. No entanto,
com o tempo, perceberam que os desafios são maiores do que imaginavam, tanto em
termos de inovação tecnológica quanto de transformação de suas cadeias de
valor", diz.
Para o especialista, um dos principais fatores para o abandono
dessas metas é a falta de avanços tecnológicos que suportem a transição para
uma produção de moda verdadeiramente sustentável. “As respostas para esses
desafios não são simples. É necessário um entendimento completo de toda a
cadeia de valor e uma inovação tecnológica contínua para reduzir emissões de
gases de efeito estufa e tornar o setor mais eficiente em termos de uso de
recursos”, explica.
Outro fator que contribui para o recuo das marcas é a crise
econômica. A recessão global afetou o consumo de bens terciários, como roupas e
acessórios, levando muitas empresas a priorizarem a recuperação financeira em
detrimento de suas promessas sustentáveis. "O consumo de moda não
diminuiu, mas o consumidor muitas vezes está optando pelo preço ao invés da
sustentabilidade. Já o investidor, mesmo consciente dos riscos ESG, volta a
pressionar por resultados financeiros de curto prazo. Em momentos de crise, a
lógica do lucro rápido tende a prevalecer, o que faz com que os compromissos
com o meio ambiente fiquem em segundo plano", pontua Loiola.
O impacto desse retrocesso não pode ser subestimado. A curto
prazo, a diminuição dos esforços para reduzir as emissões de gases de efeito
estufa contribui diretamente para o agravamento das mudanças climáticas.
“Precisamos nos preocupar, sim. O que estamos vendo no setor da moda não é um
caso isolado. Já temos outros setores, como o de aviação, que também estão
retrocedendo em suas metas de sustentabilidade”, ressalta.
Apesar do cenário desafiador, o especialista acredita que ainda há esperança. Uma das soluções apontadas é a regulação governamental mais rígida, que já começa a se fortalecer em diferentes países e setores. “O ambiente regulatório é uma ferramenta importante para garantir que as empresas sejam mais transparentes e responsáveis em relação às suas práticas. As metas de sustentabilidade precisam ser tratadas como uma jornada, com passos claros e possíveis de alcançar. As empresas devem fazer uma análise cuidadosa de suas capacidades e do ambiente em que estão inseridas antes de anunciar compromissos públicos”, complementa Gustavo Loiola.
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