Quando assumi o cargo de CEO, percebi rapidamente que estar no
topo é muito mais do que tomar decisões estratégicas. É ocupar um espaço
historicamente negado às mulheres e, ao mesmo tempo, abrir caminho para que
outras também cheguem lá. Neste Dia Internacional da Igualdade da Mulher, não
poderia deixar de refletir sobre o significado de estar aqui e o quanto ainda
temos para avançar.
Uma pesquisa realizada pela Bain & Company, intitulada como
“Sem atalhos: o caminho para a representatividade da mulher no topo e o valor
para as empresas”, aponta que a presença de mulheres em cargos de CEO no Brasil
dobrou entre 2019 e 2024, passando de 3% para 6%. Um avanço expressivo, mas que
deixa claro que ainda seguimos sendo minoria em posições de maior poder e
influência. O que esses números não mostram é a resiliência, a dedicação e as
barreiras invisíveis que enfrentamos para chegar até aqui.
Liderar como mulher significa, muitas vezes, ter que provar mais e
mostrar resultados de forma quase irrefutável. Significa também lidar com
vieses que nem sempre são explícitos, mas que se manifestam em reuniões, negociações
e até nas expectativas de comportamento. O caminho não é simples, mas é
possível, e, acima de tudo, necessário.
E não se trata só de uma questão de justiça social. Diversidade de
gênero na liderança traz benefícios concretos para as empresas: inovação mais
robusta, decisões mais equilibradas e maior capacidade de adaptação a mercados
em constante mudança. Quando diferentes perspectivas estão à mesa, a empresa se
torna mais competitiva e relevante. Estudos indicam que empresas com maior
diversidade de gênero em posições de comando tendem a apresentar desempenho
financeiro superior, maior capacidade de inovação e decisões mais assertivas.
Essa pluralidade não se restringe ao aspecto social, mas atua
diretamente como diferencial competitivo. Organizações que reconhecem e
fomentam a liderança feminina ampliam seu potencial de resposta a mercados
dinâmicos e a demandas complexas, tornando-se mais adaptáveis e resilientes.
Apesar disso, os desafios permanecem expressivos. A falta de
programas de desenvolvimento voltados à preparação de mulheres para cargos de
liderança, a escassez de políticas de retenção e ambientes de trabalho pouco
inclusivos continuam limitando a ascensão feminina, sobretudo em áreas
estratégicas como finanças e tecnologia.
O desafio é que, para chegarmos à igualdade, precisamos combater
barreiras externas e também internas, como a autocrítica que nos faz duvidar se
somos suficientemente boas ou preparadas. Essa insegurança é fruto de anos de
condicionamento social, e precisamos, cada vez mais, aprender a ocupar nossos
espaços com confiança.
O que não podemos negar é que o aumento da participação de mulheres CEOs no Brasil, ainda que tímido, é um sinal positivo de que mudanças estão ocorrendo. No entanto, para que esse crescimento se torne sustentável e exponencial, é necessário agir de forma deliberada e estratégica. Quando a representatividade passa de ser uma exceção para uma prática estruturada, mulheres e o mercado como um todo avançam e se fortalecem, beneficiando empresas, economia e sociedade.
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