Quando
falamos sobre infância, é comum que venha à mente uma imagem padronizada de
crianças brincando em parques, cercadas por livros e brinquedos coloridos, em
um ambiente seguro e afetuoso. Mas essa representação não condiz com a
realidade diversa e muitas vezes desigual que marca a vivência da infância em
um país como o Brasil. Por isso, neste mês é fundamental reforçar um conceito
cada vez mais necessário, de tratar infâncias no plural.
A
ideia de ‘infâncias’ reconhece que não existe uma única forma de viver essa
fase, mas múltiplas, influenciadas por aspectos como cultura, etnia, gênero,
território, acesso a direitos e condições socioeconômicas. Na Fundação
Bradesco, esse olhar ampliado e respeitoso tem guiado as práticas pedagógicas
em todo o país.
Historicamente
a criança já foi vista como um adulto em miniatura, muitas vezes privada do
direito de brincar, explorar e ser ouvida. Mas a partir do século XX esse
cenário começou a mudar. Com o avanço da educação, das políticas públicas e do
Estatuto da Criança e do Adolescente, passou-se a reconhecer a infância como
uma fase legítima da vida, com direitos próprios e necessidades específicas.
Mais
do que isso, as crianças deixaram de ser vistas como meros receptores de
conhecimento e passaram a ser reconhecidas como sujeitos ativos, capazes de
construir sentidos, dialogar com o mundo e influenciar o próprio processo de
aprendizagem. Esse entendimento é respaldado por estudos da antropologia da
infância e por uma série de pesquisas em educação e desenvolvimento infantil.
Ensino alinhado às diferentes culturas
Na prática, isso significa que respeitar a infância é também reconhecer o
contexto de cada criança. Uma menina ribeirinha da Amazônia vive experiências
completamente diferentes de um menino do centro urbano de São Paulo. As
crianças indígenas aprendem de forma integrada à natureza e à comunidade,
enquanto muitas crianças da periferia enfrentam desafios como a falta de acesso
à educação de qualidade, segurança ou espaços de lazer.
Nas
escolas da Fundação Bradesco espalhadas pelo país, essa pluralidade se
manifesta de maneiras singulares e encantadoras. Em Irecê (BA) é possível
observar crianças se encantarem com um jogo de luz e sombra, em uma atividade
sensível e investigativa. Em Gravataí (RS), elas se conectam à natureza ao
explorar árvores com pranchetas na mão, registrando cheiros, formas e texturas.
Já em Boa Vista (RR), a curiosidade é despertada com pintura sobre blocos de
gelo, uma experiência sensorial, divertida e cheia de descobertas.
Essas
práticas não acontecem por acaso, elas são cuidadosamente planejadas para
respeitar os ritmos e os repertórios culturais de cada grupo. Em Manaus, por
exemplo, fantoches de meia ganham vida em contações de histórias autorais. Em
Maceió, uma sequência didática sobre comidas brasileiras não apenas aproxima as
crianças dos alimentos, mas também das origens culturais e sociais daquilo que
é consumido.
Essas
vivências mostram o quanto a aprendizagem na Educação Infantil pode e deve ser
significativa, contextualizada e encantadora. Porque, afinal, é brincando,
explorando, imaginando e sentindo que a criança se desenvolve em sua
totalidade.
Respeito às infâncias com equidade
Falar
sobre infâncias no plural é, acima de tudo, uma forma de reconhecer
desigualdades e construir caminhos mais justos. É pensar em políticas públicas,
currículos e ações pedagógicas que não imponham uma única norma de desenvolvimento,
mas que acolham a diversidade de saberes, histórias e modos de viver.
Na
Fundação Bradesco, isso se traduz em práticas que combinam cuidado, proteção,
escuta ativa e valorização das múltiplas expressões culturais, afinal, uma
infância respeitada é aquela que se sente segura para ser o que é, brincar do
seu jeito, aprender com o que tem e sonhar com o que deseja.
No
Agosto Verde, mais do que celebrar, é importante refletir sobre a forma de
escutar as crianças, com a criação de espaços para que todas as infâncias, em
sua beleza e complexidade, possam florescer com dignidade, alegria e equidade.
Claudia Xavier - líder
de Educação Infantil na Fundação Bradesco
Nenhum comentário:
Postar um comentário