A reestruturação tributária que estamos vivendo no Brasil traz
mudanças profundas que vão muito além da esfera fiscal: elas transformam a forma
como as empresas vendem, compram, precificam e calculam seus custos. No setor
de moda, vestuário e calçados, conhecido como fashion e um dos pilares
da economia nacional, o impacto será ainda mais significativo, exigindo uma
adaptação sistêmica robusta, que vai do planejamento fiscal à atualização
tecnológica.
Neste setor, a alta volumetria de notas fiscais, a multiplicidade
de canais de venda (PDV, e-commerce, atacado, marketplaces), os regimes
tributários distintos por estado e o uso intensivo de benefícios fiscais tornam
a transição ainda mais complexa na unificação de cinco tributos (PIS, Cofins,
IPI, ICMS e ISS) em três novos: Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS),
Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e Imposto Seletivo (IS).
O cronograma de adaptação, de 2026 a 2033, prevê anos de
convivência entre os dois modelos tributários. Nesse período, empresas que
optarem por uma preparação gradual - testando sistemas, capacitando equipes e
revisando processos - terão vantagens competitivas. Já aquelas que deixarem
para a última hora correm o risco de enfrentar dificuldades operacionais, erros
fiscais e prejuízos significativos.
Para quem utiliza softwares de gestão empresarial, os chamados
ERPs (Enterprise Resource Planning), os desafios ganham uma camada extra porque
será necessário reformular as regras de determinação de impostos (Tax
Determination), criar condições fiscais para CBS, IBS e IS, revisar cadastros
de produtos e serviços, adaptar layouts de notas fiscais (NF-e, NFC-e, NFS-e) e
alinhar PDVs e canais digitais para identificar corretamente o perfil do
cliente e aplicar o tributo adequado. Além disso, a nova tabela unificada de
classificação de bens e serviços (CClasstrib-pf) demandará uma revisão completa
do cadastro mestre e do mapeamento fiscal no ERP.
Importante ressaltar que a complexidade não se resume à
tecnologia. Erros de classificação fiscal podem impedir o aproveitamento de
créditos, layouts desatualizados podem gerar rejeições, e a falta de integração
entre áreas fiscal, de tecnologia, comercial, compras e produção pode minar a
competitividade. A preparação para essa mudança precisa estar no mesmo nível de
prioridade que o planejamento de uma nova coleção.
Apesar do desconforto inicial com o fim de certas isenções, a
Reforma Tributária promete um ambiente mais claro, estável e previsível para
investimentos. A uniformização de regras e a recuperação integral de tributos
pagos ao longo da cadeia reduzem distorções e criam condições para um mercado
mais equilibrado.
Para as empresas de moda, a transição é uma oportunidade
estratégica: revisar processos, modernizar sistemas e fortalecer a governança
tributária. O caminho mais seguro é contar com parceiros que conheçam tanto a
realidade dos softwares de gestão do setor fashion, que carrega inúmeras
especificidades, assim como das exigências do novo cenário fiscal brasileiro.
Mais do que cumprir a lei, trata-se de usar a mudança para reforçar a
competitividade e pavimentar o crescimento.
Se a moda sempre soube se reinventar, este é o momento de aplicar
essa vocação não só no design e nas tendências, mas também na estrutura que
sustenta o negócio. Porque, no final, assim como nas passarelas, quem se prepara
melhor para a próxima temporada sai na frente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário