O Dr. Lucas Nacif, médico transplantador, explica as principais mudanças fisiológicas e cuidados necessários durante a recuperação
O fígado é responsável por mais de 500 funções vitais
no corpo humano. Quando ele não consegue mais desempenhar suas atividades
adequadamente, o transplante surge como uma nova chance de vida. Mas o que
exatamente acontece no organismo quando um novo fígado passa a comandar o
metabolismo?
"O transplante de fígado é uma das cirurgias mais complexas
da medicina, mas também uma das mais gratificantes", explica o Dr. Lucas
Nacif, médico transplantador e cirurgião gastrointestinal. "Diferentemente de outros órgãos, o fígado tem uma
capacidade única de regeneração, o que torna a recuperação particularmente
interessante de acompanhar."
Logo após o procedimento, que pode se estender por várias horas, o
novo órgão inicia um processo de adaptação ao organismo. Na maioria das vezes,
o fígado transplantado entra em atividade rapidamente, produzindo bile e
metabolizando toxinas. Há situações, porém, em que a retomada plena das funções
é mais lenta, exigindo acompanhamento médico intensivo.
Como
o corpo reage ao novo órgão
O sistema de defesa do corpo não reconhece o novo fígado como
“seu” e tenta rejeitá-lo. Para evitar que isso aconteça, entra em cena uma das
mudanças mais significativas na vida do paciente: o uso contínuo de
medicamentos imunossupressores.
“É uma espécie de negociação constante com o sistema imunológico”,
compara o Dr. Nacif., que também é membro titular do Colégio Brasileiro de
Cirurgia Digestiva (CBCD). “Precisamos
reduzir as defesas do organismo o suficiente para que ele aceite o novo órgão,
mas sem deixá-lo vulnerável demais a infecções e outras complicações.”
O tratamento deve ser mantido por toda a vida, seguindo horários e
doses com rigor absoluto, qualquer descuido pode levar à rejeição aguda ou
crônica do enxerto. Entre os possíveis efeitos colaterais estão maior
predisposição a infecções, alterações na função renal, hipertensão e, em alguns
casos, aumento do risco de certos tipos de câncer. “Por isso, o acompanhamento
médico periódico é indispensável”, complementa o especialista.
A adaptação metabólica do organismo
Com o fígado transplantado em pleno funcionamento, o organismo
passa por uma verdadeira revolução metabólica. O novo órgão assume de imediato
suas múltiplas funções: processa proteínas, produz bile para a digestão de gorduras,
filtra toxinas do sangue, regula os níveis de glicose e sintetiza fatores de
coagulação.
Nos primeiros meses, exames laboratoriais frequentes monitoram a
adaptação do fígado, e é comum observar uma melhora progressiva nos níveis de
bilirrubina, enzimas hepáticas e outros marcadores de saúde. Segundo o Dr.
Lucas Nacif, um aspecto notável é a capacidade regenerativa do órgão
transplantado: “Mesmo quando apenas parte do fígado é transplantado, como nos
casos de doador vivo, ele cresce e se adapta às necessidades do receptor.”
A recuperação até retomar atividades normais leva, em média, de três a seis meses. Nesse período, é essencial adotar novos hábitos, como alimentação equilibrada para evitar sobrecarga hepática, proibição absoluta do consumo de álcool e cuidados extras com higiene devido à imunossupressão.
“A qualidade de vida após um transplante de fígado bem-sucedido é excelente, pois pacientes que antes não conseguiam sair de casa devido à fadiga extrema e outros sintomas da insuficiência hepática, recuperam energia, disposição e podem retomar suas atividades profissionais e sociais”, finaliza o médico transplantador.

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