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| IMAGEM: DC - gerada com IA Gemini |
‘O setor de Serviços é um dos que mais sentirão os efeitos. Em 2024, o consumo de energia nesse segmento subiu quase 22%. Pequenos negócios, como salões de beleza e restaurantes, já destinam quase 20% das despesas operacionais para o pagamento da energia elétrica’
A recente derrubada de vetos presidenciais ao marco
legal da geração de energia offshore, a Lei 15.097/2025, expõe os
brasileiros a um aumento expressivo nas contas de luz. A decisão do Congresso
Nacional reacende o debate acerca dos chamados “jabutis” legislativos, emendas
sem relação com o tema original da lei.
Assim, voltam a valer medidas como a prorrogação de
contratos do Proinfa e decisões que sobem artificialmente a oferta de
eletricidade em um mercado já saturado — como contratações compulsórias de
Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), eólicas no Sul e plantas de hidrogênio
a partir do etanol.
O planejamento energético deve ser prerrogativa do
Executivo, com base em dados técnicos e projeções reais de demanda, e não em
interesses pontuais que desorganizem o setor e promovam o desperdício. O
Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) já faz o chamado curtailment,
desligando usinas eólicas e solares quando há excesso de geração. Forçar ainda
mais capacidade ao sistema só agrava os desequilíbrios técnico e econômico.
Segundo estudos amplamente divulgados pelo Grupo
Equilíbrio, união de 17 entidades organizacionais representando consumidores,
distribuidores, geradores, entre outros, os vetos derrubados já representam um
reflexo de R$ 197 bilhões sobre a conta de energia ao longo de 25 anos, o que
equivale a um aumento imediato de 3,5% nas tarifas. Há, também, outros
dispositivos vetados, mas que ainda podem ser retomados. Estudos apontam que
esse impacto pode chegar a R$ 545 bilhões até 2050, elevando a luz em 9% e
pressionando ainda mais o orçamento das famílias e a competitividade empresarial
brasileira.
O setor de Serviços é um dos que mais sentirão os
efeitos. Em 2024, o consumo de energia nesse segmento subiu quase 22%, puxado
pelas altas temperaturas e pela recuperação econômica. Pequenos negócios — como
salões de beleza e restaurantes— já destinam quase 20% das despesas
operacionais para o pagamento da energia elétrica. Em um ambiente de juros
altos, inflação persistente e carga tributária crescente, a elevação nas
tarifas reduz ainda mais a margem para investimentos e geração de empregos.
Se os demais vetos forem derrubados, a decisão do
Congresso comprometerá não apenas o bolso do consumidor, mas também a própria
credibilidade do país no quadro climático mundial. Com a 30ª Conferência das
Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30) no horizonte, o favorecimento de
fontes menos eficientes (ou já superadas), como carvão mineral e térmicas
inflexíveis, poderá prejudicar a chance do Brasil de reafirmar compromissos com
a transição energética e atrair investidores interessados em fontes renováveis.
Diante de um cenário que mistura retrocessos regulatórios, implicações econômicas e riscos ambientais, a mobilização da sociedade, das entidades representativas e do setor produtivo torna-se fundamental. Mais do que uma questão técnica, a energia cara é um problema social — e todos pagaremos essa conta.
José Goldemberg
- Físico e
presidente do Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP
*com Cristiane Cortez, assessora do Conselho de
Sustentabilidade da FecomercioSP
Fonte: https://dcomercio.com.br/publicacao/s/contas-de-luz-mais-caras-as-consequencias-da-retomada-dos-jabutis-na-lei-da-energia-offshore
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responsabilidade dos autores e não coincidem, necessariamente, com as do Diário
do Comércio

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