A semana é santa porque nela celebramos os momentos mais importantes da nossa salvação. São João resume desta forma: “Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por ele” (Jo 3,16-17). E também: “Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo ao Pai, como amasse os seus que estavam no mundo, até o extremo os amou” (Jo 13,1). Com sua entrega por nós, Jesus santificou essa semana, e nós a santificamos com nosso compromisso cristão. Ao abraçar em seu coração humano o amor do Pai pelos homens, Jesus “amou-os até o fim” (Jo 13,1) “pois ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos que ama” (Jo 15,13).
Assim, no sofrimento e na morte, sua humanidade se tornou o
instrumento livre e perfeito de seu amor divino, que quer a salvação dos
homens. Com efeito, aceitou livremente sua paixão e sua morte por amor de seu
Pai e dos homens, que o Pai quis salvar: “ninguém me tira a vida, mas eu a dou
livremente” (Jo 10,18). Daí a liberdade soberana do Filho de Deus quando ele
mesmo vai ao encontro da morte.
Os dias da semana santa oferecem uma oportunidade muito
privilegiada para renovarmos nosso encontro pessoal e comunitário com Jesus
Cristo e experimentarmos a força e o ardor com que nos ama, a ponto de dar sua
vida por nós na cruz.
Essa semana deve ser vivida com intensa evangelização. A morte e a
ressurreição de Jesus estão no centro do querigma cristão, no centro do
primeiro anúncio, que a igreja retomou vigorosamente na nova evangelização.
Na oração, na meditação, na leitura orante do evangelho e na
participação das cerimônias da Semana Santa, teremos oportunidade de
encontrar-nos com Cristo vivo, fortalecer nossa adesão a ele e encher-nos do
fogo do Espírito Santo para sairmos em missão.
Celebrar a Semana Santa, para os cristãos, é aprofundar as
dimensões mais importantes da vida humana. É uma ocasião privilegiada oferecida
pela LITURGIA para a renovação de um COMPROMISSO com a vida, e com a fonte da
vida, a única que tem força para superar a morte e os esmagamentos que pesam
sobre o povo.
A Semana Santa comemora a Paixão de Cristo, sua morte e
ressurreição. O centro da Paixão de Cristo é a CRUZ, símbolo da fé e da
redenção.
Na sociedade atual, a Semana Santa vem perdendo o clima religioso
popular. Porém, sobrevivem manifestações de devoção centradas na Paixão de Cristo.
O povo venera Cristo como o "homem das dores", o nazareno sofredor e moribundo,
com ele vive a sua agonia, enquanto povo de oprimidos e deserdados. Por esta
razão que é a Sexta-feira Santa, não o Domingo da Ressurreição, a celebração
cristã popular de maior adesão na Semana Santa, para aqueles que não entendem
plenamente o evangelho. Para estes, a morte de Cristo é símbolo de todo o
sofrimento.
A identificação com o Crucificado leva o povo a plasmar em
imagens, gestos, cantos e orações a sua espiritualidade pascal. O símbolo
popular mais forte e comovedor da Semana Santa é a CRUZ, com sua mística:
"Em tudo somos oprimidos, mas não sucumbimos. Vivemos em completa penúria,
mas não desesperamos. Somos perseguidos, mas não ficamos desamparados” (2Cor 4,8-9).
Para entendermos a espiritualidade da Semana Santa, destaco três
pontos principais:
1-SACRAMENTAL: que corresponde à celebração do Tríduo Pascal,
segundo os livros litúrgicos, vivido pelas comunidades e paróquias;
2- SINAIS: são as representações dos acontecimentos históricos,
como a procissão de ramos e Domingo da paixão do Senhor; o lava-pés da
Quinta-feira santa; a adoração da cruz, da Sexta-feira santa; o lucernário
pascal, da Vigilia do sábado e na madrugada do Domingo da ressurreição com a procissão.
3- RELIGIOSIDADE POPULAR: constituída por diversos atos piedosos e
devocionais populares, baseados uns na agonia de Jesus, como a hora santa e o
sermão das sete palavras; outros descrevem a paixão inteira do Senhor, como a
via sacra, as representações teatrais e as procissões de semana santa.
Essas devoções ajudam a professar a fé, a descobrir o sentido do
pecado, a familiarizar-se com a cruz de Cristo, a encarar-se com as injustiças
deste mundo. Tudo converge para o exemplo de Cristo e sua entrega como dom
salvador.
"Em Cristo, morto e ressuscitado, temos a esperança de que
cada um de nós, de que nosso povo, esmagado por grandes sofrimentos, alcançará
a libertação total" (Cf. 1Cor 15,20ss).
Padre Anderson Marçal Moreira - sacerdote da Comunidade Canção Nova e Doutor em Teologia Pastoral Bíblica e Litúrgica.
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