No mês em que ocorre a Campanha Nacional da Voz, especialista alerta sobre condição rara que pode transformar o simples ato de falar em um verdadeiro desafio; quem depende da voz na carreira profissional deve ter atenção redobrada
Imagine você estar em uma
reunião importante, ou no meio de uma apresentação, e de repente sua voz começa
a falhar sem aviso prévio. Você tenta falar, mas a palavra não sai como
deveria, e o que deveria ser uma rouquidão passageira passa a ser uma
dificuldade constante para controlar os próprios sons que emite.
Pode até parecer uma situação saída de um filme de
ficção, mas trata-se de uma condição real! A chamada distonia laríngea é um
problema raro que provoca contrações involuntárias nos músculos da laringe,
dificultando o controle vocal e comprometendo a comunicação.
Especialmente a quem depende da voz para o
trabalho, como cantores, professores, locutores e apresentadores, essa
disfunção pode alterar profundamente a vida e a carreira profissional. Por isso
merece toda atenção por parte desse público – embora qualquer pessoa esteja
sujeita a desenvolvê-la.
“Gatilhos”
De acordo com o Dr. Domingos Tsuji,
otorrinolaringologista e diretor do Voice Center do Hospital Paulista —
referência nacional em saúde vocal — a distonia laríngea é uma condição
neurológica central cuja causa permanece indefinida na maioria dos casos,
sendo, portanto, considerada idiopática. No entanto, fatores como histórico
familiar, estresse crônico, uso excessivo da voz e traumas emocionais ou
físicos podem atuar como gatilhos para o desenvolvimento da doença. Ele também
ressalta que, em certos casos, a distonia laríngea pode manifestar-se após
infecções respiratórias.
“Como os sintomas podem ser confundidos com os de
outras alterações vocais, como aquelas causadas por tensão muscular ou fatores
psicológicos, o diagnóstico costuma ser tardio. Ele é clínico e deve ser
realizado por um otorrinolaringologista com experiência na área. Exames como a
videolaringoscopia ajudam a identificar os espasmos nas cordas vocais, mas o
processo é complexo, e o paciente pode levar anos até receber o diagnóstico
correto”, explica o médico.
Tratamento
Apesar de não haver cura definitiva para a distonia
laríngea, há tratamentos eficazes que ajudam a controlar os sintomas. O
principal método utilizado é a aplicação de toxina botulínica, mais conhecida
como botox, nos músculos da laringe. “A toxina botulínica reduz os espasmos
involuntários e melhora a fluência vocal. O efeito dura de três a seis meses, e
as aplicações precisam ser repetidas periodicamente para manter o controle dos
sintomas”, destaca o Dr. Tsuji.
Como alternativa à inconveniência das reaplicações
frequentes de toxina botulínica, o médico conta que desenvolveu uma técnica
cirúrgica chamada mioneurectomia do músculo vocal, que tem se mostrado bastante
eficaz, com resultados vocais comparáveis — e, em alguns casos, até superiores
— aos da toxina. “Já realizamos mais de 70 cirurgias com excelentes resultados.
O objetivo é proporcionar uma melhora vocal duradoura, especialmente para
pacientes que não desejam seguir com as aplicações repetidas de botox”, relata.
Prevenção
Embora não seja possível prevenir a distonia
laríngea de forma definitiva, o Dr. Tsuji recomenda algumas práticas que podem
ajudar a reduzir os sintomas e evitar o agravamento do quadro ocasionado pelo
esforço compensatório que o paciente costuma desenvolver sem perceber. “O uso
adequado da voz, técnicas de relaxamento para controlar o estresse e a tensão
muscular, além de evitar o abuso vocal, são fundamentais. A orientação de um
fonoaudiólogo é essencial, não apenas para pacientes em geral, mas
especialmente para aqueles que utilizam a voz profissionalmente”.
Ele também ressalta a importância da
conscientização sobre a doença. “Quanto mais as pessoas souberem sobre a
distonia laríngea, mais rápido será o diagnóstico e o tratamento. Isso pode
evitar anos de sofrimento e diagnósticos errados, comuns em doenças raras como
essa”, conclui.
Campanha
É justamente pensando nas consequências, seja da
distonia, seja de outras tantas doenças vocais existentes, que a classe médica
se mobiliza todo ano em torno da Campanha Nacional da Voz. As ações ocorrem
sempre em abril, quando é celebrado o Dia Nacional da Voz (16/4). E o objetivo
é chamar a atenção das pessoas quanto à necessidade de prevenção – algo que
pode fazer toda a diferença na vida de quem, porventura, tenha algum problema
do gênero.
O Hospital Paulista é apoiador da iniciativa, que
neste ano chega à sua 27ª edição e tem como lema a frase: Cuide da
sua Voz, o Som que Acompanha Você por Toda a Vida. A programação
completa consta nos sites e nas redes sociais da Associação Brasileira de
Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CF) e da Academia
Brasileira de Laringologia e Voz (ABLV), que são as organizadoras da
campanha.
Participe você também!
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