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O câncer de mama triplo-negativo se associa a um
alto índice de mortalidade no Brasil, especialmente entre mulheres jovens.
Diferentemente de outros tipos de câncer de mama, esta forma agressiva da
doença não responde a terapias hormonais, tornando a quimioterapia a principal
opção de tratamento. Para investigar a realidade de pacientes diagnosticadas
com este subtipo, especialistas da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM),
com a participação de pesquisadores de várias universidades e hospitais
brasileiros, realizaram um estudo que revela o impacto do câncer
triplo-negativo na sobrevida de mulheres atendidas no hospital público Pérola
Byington, em São Paulo (SP). O levantamento também dimensiona os custos do
tratamento no SUS (Sistema Único de Saúde).
Como primeiro autor do artigo “Sobrevida global e
impacto econômico do câncer de mama triplo-negativo na saúde pública
brasileira: Um estudo do mundo real”, publicado no periódico JCO Global
Oncology, o mastologista André Mattar, membro da SBM, destaca que o
subtipo agressivo da doença é de rápida evolução e apresenta uma taxa de
mortalidade no Brasil entre 30% e 40%.
A classificação “triplo-negativo” define a ausência
dos receptores de estrogênio, progesterona e HER2, que controlam o crescimento
do tumor, das células mamárias e da divisão celular. Mais incidente em jovens
com menos de 40 anos, também é comum em mulheres que apresentam mutação dos
genes hereditários BRCA1 e/ou BRCA2, responsáveis por proteger o corpo do
aparecimento de tumores. Ao sofrer mutação, a função destes genes diminui e as
chances de desenvolvimento do câncer aumentam.
O estágio em que o câncer triplo-negativo é
diagnosticado, segundo Mattar, representa uma grande diferença na chance de
sobrevivência das pacientes. O mastologista ressalta que entre mulheres que descobrem
a doença no estágio II, o risco de morte é 47% menor do que entre pacientes
diagnosticadas no estágio III. Além disso, acrescenta, quem consegue uma
resposta completa ao tratamento inicial, com o desaparecimento temporário da
doença, tem risco de morte reduzido em 79%.
O estudo conduzido pela SBM entre 2010 e 2019
analisou 710 mulheres com câncer triplo-negativo atendidas no hospital público
Pérola Byington. A média de idade no diagnóstico foi de 52,5 anos. Entre as
participantes da pesquisa, 50,8% eram negras e 46,1%, brancas. A maioria das
pacientes foi classificada como estágio III (46,6%), seguida por estágio II
(42,1%). De acordo com André Mattar, os regimes de quimioterapia consistiram em
tratamento baseado em antraciclinas e taxanos, com um total de 412 mulheres
submetidas à terapia neoadjuvante. “Neste universo, 232 (54,6%) foram tratadas
com carboplatina e 96 (22,6%) atingiram resposta patológica completa”, diz.
Para o mastologista da SBM, o estudo lança luz
sobre a importância de estratégias terapêuticas nos casos de câncer
triplo-negativo para atingir a meta nos tratamentos, ou seja, a resposta
patológica completa. “No sistema de saúde pública do Brasil, o tratamento deste
subtipo da doença é limitado à quimioterapia convencional”, pontua. “Entre as
novas drogas há o pembrolizumabe, imunoterapia usada especificamente para o
tripo-negativo, mas que ainda não está disponível no SUS.”
De acordo com o estudo, o custo do tratamento no
SUS aumenta conforme o câncer triplo-negativo avança. Para uma paciente em
estágio inicial (I), o gasto médio mensal com quimioterapia é de US$ 101,87
(cerca de R$ 570), enquanto para uma mulher com câncer avançado (estágio IV), o
valor sobe para US$ 314,77 (cerca de R$ 1.760) na primeira linha de tratamento
e pode ser ainda maior em fases mais avançadas. No total, o SUS pode gastar
mais de US$ 625 mil por paciente que precisa tratar a doença em estágio
avançado.
“Se conseguíssemos acesso e tratamento mais rápido
para as pacientes da rede pública de saúde, teríamos melhores resultados e o
orçamento poderia ser investido em tratamentos inovadores já acessíveis na
saúde suplementar”, avalia Mattar.
Atualmente, cerca de 75% dos brasileiros contam com
o SUS para assistência médica. Embora seja gratuito ao usuário, o sistema
enfrenta desafios, como limitações de recursos, longo tempo de espera e acesso
desigual a terapias avançadas. O setor privado, por sua vez, atende
aproximadamente 25% da população, oferecendo acesso mais rápido a serviços e
tratamentos e opções em geral indisponíveis no sistema público.
“Com a pesquisa que realizamos no hospital público
Pérola Byington, queremos reforçar a importância do diagnóstico precoce e do
acesso rápido ao tratamento”, diz André Mattar. O estudo demonstra ainda que
novas alternativas, como a imunoterapia, poderiam trazer grandes benefícios, se
disponibilizadas para pacientes na rede pública. “Sem dúvida, investir em
prevenção, rastreamento e no acesso a tratamentos inovadores pode salvar mais
vidas e reduzir os custos da doença para o SUS”, conclui o especialista da
Sociedade Brasileira de Mastologia.
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