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sábado, 1 de março de 2025

A angústia na folia: o assédio sexual no Carnaval e seus impactos na saúde mental

O assédio sexual é uma expressão da violência caracterizada como manifestação sensual ou sexual, alheia à vontade da pessoa a quem se dirige. Como já é de conhecimento – por meio das pesquisas e análises em ciências sociais –, esse triste fenômeno se alimenta de crenças misóginas, da hipersexualização e da falta histórica de conscientização e combate às violências de gênero nos seus mais diversos contextos. As vítimas mais vulneráveis são as mulheres negras, mas a violência sexual e o assédio definitivamente não se restringem a um único público no Carnaval.

De acordo com a pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva em parceria com a empresa QuestionPro, sete em cada 10 brasileiros têm medo de sofrer assédio no Carnaval – em torno de 50% das mulheres relatam já terem sofrido esse tipo de violência nos festejos. Além dos alarmantes dados, é possível observar como os estigmas negativos e distorcidos que parte da população projeta nas características das festas carnavalescas contribuem para um cenário que prejudica a redução de danos às vítimas de violência.

Em vista de que ainda justificam o assédio, culpabilizando a vítima pela presença na festa, pela roupa ou por algum comportamento considerado inadequado, é possível considerar que essa angústia e esse medo de sofrer assédio – presentes, principalmente, entre as mulheres – impeçam que as pessoas denunciem quando sofrem a violência. Essa conjuntura pode fazer com que as vítimas internalizem culpa, vergonha, raiva, tristeza e mágoa. Emoções e sentimentos que podem evoluir para quadros de pânico, ansiedade severa, agorafobia, entre outros traumas, prejudicando diretamente as relações com as pessoas, com o território, com a cultura e um possível rompimento com o senso de segurança e liberdade. 

Por tudo isso, é importante que as campanhas de combate ao assédio sexual nas festas sejam intensificadas e que os mecanismos de denúncia sejam simplificados e acolhedores. Além disso, as pessoas precisam se engajar no combate às violências sexuais e de gênero. A saúde mental e física de todo mundo tem a ganhar, com menos chances da angústia se juntar à folia.

 


JOÃO VITOR BORGES - Psicólogo e educador social, formado pela Universidade Guarulhos e especialista em Estudos Brasileiros de Sociedade, Educação e Cultura pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Membro do Conselho do Instituto Bem do Estar, o profissional é colaborador em programação socioeducativa do Sesc São Paulo.


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