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Pesquisa envolveu 22 voluntários com Parkinson Lakshmiraman Oza/Pixabay |
Estudo conduzido na Unesp de Presidente Prudente indica que a técnica não invasiva promove benefício duradouro, reduzindo o risco de queda
Estudo brasileiro publicado na revista Gait & Posture constatou que oito
sessões de estimulação elétrica transcraniana (tDCS, na sigla em inglês)
promovem a melhora da resposta postural de pessoas com a doença de Parkinson,
reduzindo assim o risco de quedas.
A técnica, considerada não
invasiva, consiste em aplicar uma corrente elétrica contínua de baixa
intensidade na cabeça para modular a atividade cerebral. Já tem sido aplicada
para tratar alguns casos de depressão, bem como testada na recuperação de
pessoas com desordens neurológicas, entre elas o acidente vascular cerebral
(AVC). No caso do Parkinson, a estimulação elétrica transcraniana também tem
sido empregada, mas segue sem um protocolo clínico definido.
“Trata-se de uma doença
complexa e os sintomas variam muito de um indivíduo para o outro. Além disso, o
controle postural é pouco responsivo ao medicamento. Nesse estudo, fomos além
da investigação sobre o funcionamento ou não dessa técnica nas respostas
posturais e demonstramos parâmetros neuromusculares envolvidos no controle da
postura”, conta à Agência FAPESP Victor Beretta, coordenador do Laboratório de Neurociência e Comportamento Motor
(Neurocom-Lab) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus Presidente
Prudente.
Financiada pela FAPESP, a pesquisa envolveu 22 voluntários com Parkinson. Os
resultados indicam que, logo após o término das oito sessões, o protocolo
resultou em melhoras na recuperação do equilíbrio frente a perturbação externa.
E nas avaliações feitas um mês depois os efeitos do tratamento ainda estavam
presentes.
Além da melhora na recuperação
do equilíbrio, o protocolo também contribuiu para o que os cientistas chamam de
“automaticidade no controle da resposta postural”, o que foi constatado pela
diminuição do tempo em que o cérebro do voluntário leva para ativar o músculo
envolvido na resposta postural e pela redução da atividade do córtex
pré-frontal.
“A melhora da automaticidade é
relevante no caso do Parkinson, uma vez que a neurodegeneração característica
da doença altera a capacidade dos pacientes de realizar atividades automáticas,
como as respostas posturais e o andar. Esse estudo foi importante por destacar
que um mês após o término do tratamento a melhora na manutenção do equilíbrio
persistia nesses indivíduos, que possuem risco elevado de quedas. Sendo assim,
demonstramos pela primeira vez uma possibilidade de tratamento complementar
para a instabilidade postural em pessoas com Parkinson”, comenta o pesquisador.
Protocolo
experimental
Ainda não há uma cura para a
doença de Parkinson, apenas um tratamento capaz de mitigar a deficiência de
dopamina – neurotransmissor que os neurônios dos parkinsonianos deixam de
produzir e cuja ausência desencadeia todas as alterações cerebrais.
Entre os sintomas que os
pacientes podem ou não apresentar está a instabilidade postural, que se traduz
na dificuldade em manter o equilíbrio em determinadas situações, decorrente da
dificuldade de gerar reações posturais automáticas adequadas por problemas na
interação do sistema sensório-motor com o ambiente.
O controle postural é um
requisito imprescindível para a execução das habilidades motoras durante as
atividades cotidianas. Em situações corriqueiras, como um desnível ou piso
irregular, algumas pessoas com a doença de Parkinson tendem a não apresentar
ajustes posturais suficientes para evitar a queda após um tropeço ou
escorregão.
A técnica utilizada na pesquisa
consiste em modular o funcionamento dos neurônios por meio de um aparelho com
dois eletrodos que geram uma corrente elétrica de baixa intensidade (2
miliamperes) que atravessa a região mais superficial do cérebro durante 20
minutos. No caso dos voluntários com Parkinson, ela foi aplicada sobre uma área
cerebral conhecida como córtex motor primário – associado à resposta postural e
ao controle do movimento.
“Ao gerar uma corrente elétrica
de baixa intensidade no cérebro podemos modular a prontidão dos neurônios. Essa
estimulação não gera transmissão de impulso nervoso, mas modula o potencial de
membrana para facilitar que ela aconteça”, explica.
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crédito: Victor Beretta Unesp |
De acordo com Beretta, a ideia
é, a partir dos eletrodos, aumentar a excitabilidade neuronal (e possivelmente
a atividade) do córtex motor, que está hipoativo nos pacientes com Parkinson.
“Essa modulação permite facilitar a atividade neural para que, quando
necessário, o cérebro dispare o que chamamos de potencial de ação [mecanismo
básico para a comunicação entre os neurônios e para a contração muscular],
fazendo com que aumente o número de disparos neurais nas áreas corticais e
subcorticais envolvidas na recuperação da estabilidade e do equilíbrio
postural”, diz.
Tanto antes quanto depois das
sessões de estimulação elétrica os voluntários permaneceram em uma plataforma
que se movia de modo imprevisível, provocando uma perturbação ao equilíbrio e,
por consequência, exigindo resposta postural para manter a estabilidade. “Com
isso, foi possível aferir o efeito dessas oito sessões de estimulação cerebral
não invasiva na resposta postural a uma perturbação, num teste que simula o
cotidiano dessas pessoas”, conta.
Segundo Beretta, foram
observadas nos voluntários mudanças neuromusculares e na atividade cortical.
“Constatamos que houve diminuição do tempo para ativar o músculo após a
perturbação [reação mais rápida], o que é importante para controlar o
desequilíbrio causado pela perturbação, podendo evitar possíveis quedas. Além
disso, constatamos que essas mudanças foram acompanhadas pela diminuição da
atividade de uma área cortical [córtex pré-frontal], o que sugere melhora da
automaticidade do movimento”, diz.
O artigo Eight sessions of transcranial electrical stimulation for postural response in people with Parkinson’s disease: A randomized trial pode ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0966636224005927?via%3Dihub.
Maria Fernanda Ziegler
Agência FAPESP
https://agencia.fapesp.br/oito-sessoes-de-estimulacao-eletrica-transcraniana-melhoram-a-resposta-postural-de-pessoas-com-parkinson/53889
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