Por meio da campanha ‘Futuro não se apaga’, entidade sem fins lucrativos reforça que pacientes estão tendo tratamentos negados diante da nova determinação
A
jornada de quem vive com uma doença rara é marcada por desafios que começam,
muitas vezes, antes mesmo do diagnóstico. “Não é incomum, por exemplo, a busca
de um diagnóstico preciso demorar mais de uma década. A escassez de
profissionais de saúde capacitados e a falta de políticas públicas estruturadas
são outros desafios que impõem obstáculos significativos na vida de quem
convive com uma enfermidade rara. E os desafios não param por aí. O acesso ao
tratamento continua sendo uma das maiores barreiras para essas pessoas”,
explica Antoine Daher, presidente da Federação Brasileira das Associações de Doenças
Raras (Febrararas).
Diante
desse cenário, a recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a
concessão judicial de tratamentos não incorporados ao Sistema Único de Saúde
(SUS) gera uma grande preocupação para a comunidade. “Os novos critérios
estabelecidos para a liberação de medicamentos via judicial representam um
sério retrocesso no direito à saúde e dificultam, ainda mais, o acesso de
pacientes a tratamentos essenciais”, complementa Daher.
Entenda
melhor a problemática. Entre as novas regras fixadas pelo STF para solicitações
de tratamentos via Justiça, está a exigência de evidências científicas
robustas, como estudos randomizados em larga escala. “Essa imposição do STF não
leva em consideração, por exemplo, que tratamentos inovadores, principalmente
para doenças raras, não contam com estudos amplos, na maioria das vezes, devido
à baixa prevalência dos casos. Outro ponto que precisamos chamar atenção é o
fato de que medicamentos registrados pela Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) já passaram por rigorosas avaliações de segurança e eficácia
(que incluem análises aprofundadas de dados clínicos, estudos de toxicidade, e
inspeções das boas práticas de fabricação que asseguram que os medicamentos
atendam aos requisitos mínimos necessários para proteger a saúde da população).
Ou seja, se a tecnologia já conta com registro regulatório, não cabe ao
judiciário questionar eficácia e segurança. Esse não é o papel da suprema
corte”, complementa Daher.
Foi
a partir deste contexto que a Febrararas idealizou a campanha ‘Futuro não
se apaga’, que visa dar luz ao tema no mês que marca o Dia Mundial
da Doenças Raras (28 de fevereiro). A iniciativa conta com
vídeo e carta aberta, disponíveis
no hub do movimento, que convidam a sociedade civil, gestores e
legisladores a refletirem sobre a importância de construir um sistema de saúde
que assegure o direito fundamental à vida e à saúde, priorizando soluções que
realmente atendam às necessidades da população.
“A
campanha é um alerta. A determinação do STF já está impactando muitas pessoas
que precisam de medicamentos de alto custo que não estão disponíveis na rede de
saúde pública. Não só a comunidade de doenças raras. Quem tem uma doença grave,
progressiva e incapacitante, tem pressa e não tem tempo a perder. Milhares de
vidas estão em risco porque estão tendo tratamentos negados - e a sociedade,
como um todo, precisa olhar atentamente para isso. Não podemos deixar vidas
serem apagadas”, finaliza Daher.
Evento de
encerramento
Para fazer o
encerramento da campanha, a Febrararas fará em 10 de março, das
8h30 às 12h30, na Câmara Municipal de São Paulo (SP), o evento Dia
Mundial das Doenças Raras 2025. O objetivo do encontro,
além dar visibilidade para a iniciativa, é elevar a conscientização a respeito
das enfermidades raras, bem como promover um espaço de reflexão sobre boas
práticas na área da saúde, com foco na população que vive com essas condições.
A participação no evento é gratuita. Basta se inscrever pelo site.
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