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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Polarização Política: o papel dos jovens na reconstrução da democracia

Se séculos atrás pessoas se dividam, matavam e morriam por religiões, negando a possibilidade da coexistência pacífica de pessoas que, apesar de terem crenças diferentes, poderiam compartilhar de uma mesma moral e interagir em harmonia em uma mesma sociedade, este fenômeno se adaptou à contemporaneidade de outra forma: hoje, não mais é a religião de nosso vizinho que define se gostaríamos dele ou não. É seu posicionamento político, sua ideologia. Evidentemente, este fenômeno radicaliza e impacta todas as gerações e deve ser compreendido e analisado de forma ampla e cuidadosa. No entanto, ao destacarmos o fator idade, existe um grupo que é mais vulnerável: os jovens. 

A polarização política é um dos fenômenos mais perigosos da democracia brasileira (e mundial) atualmente. Famílias se separando, amigos deixando de se falar e até agressões físicas por conta de posicionamentos políticos, infelizmente, não são casos raros e, em eventos mais extremos, até mesmo assassinatos ocorrem com motivações políticas, como observado no caso de Marcelo Arruda em 2022. 

No caso da juventude, este impacto pode ser gerado por uma necessidade do jovem de se sentir parte de algo (no caso, um movimento ou ideologia política) somada ao advento das redes sociais, que ajudaram a divulgar projetos e influências que incentivam a radicalização, enfraquecendo o debate democrático. Além disso, a entrada repentina no debate público para alguns desses jovens e a recente propagação da temida “cultura do cancelamento” aumentou ainda mais esse fenômeno, liderado, também, pela juventude.

A reflexão que fica, portanto, é de como os jovens podem se libertar dessa influência anti-democrática e nociva e se transformarem na vanguarda do resgate do debate democrático, provando sua capacidade de participarem da vida política? Para isso, deve-se ser primeiro reconhecido o fato de que a estrutura social atual facilita a polarização e a radicalização não só dos jovens, mas da sociedade como um todo. Desde as redes sociais, até debates políticos televisionados e figuras caricatas, incentivam e alimentam essa ameaça à democracia.
 

Vejo, portanto, a chave para reverter este fenômeno como sendo um bipé sustentado por dois fatores: o individual e o coletivo. Naturalmente, é impossível reverter uma tendência social sozinho como indivíduo. No entanto, o caminho inicial para reverter a polarização política que impacta a juventude passa sim por um uma reflexão filosófica individual de compreender a existência de diversos pontos e opiniões que, por mais contrastantes que sejam, são válidos e devem ser ouvidos e, em uma sociedade amadurecida, conciliados, visando o bem comum. Para aplicar isso, entra o fator coletivo, usando ironicamente uma ferramenta que causa este fenômeno para revertê-lo: as redes sociais. Isso porque, se parcela significativa da juventude se conscientizar deste fenômeno e começar a se levantar contra o mesmo no debate público digital, uma onda de reflexão e conscientização pode surgir nas novas gerações. 

Vivemos um momento complicado para o sistema republicano constitucional, ao passo que autocracias se consolidam e surgem por todo o mundo, como na Venezuela, Rússia, Turquia e Hungria. No Brasil, já não é raro encontrar nas redes ou em protestos palavras perigosas sugerindo perseguição, censura, vingança e violência, vindas de ambos os lados. Se queremos um futuro diferente, não vamos encontrar essa chave em outro lugar senão na conscientização individual e coletiva dos jovens que em breve irão liderar este futuro.
 

Felipe Vasconcelos - realizou mais de 60 cursos sobre temas como segurança internacional, terrorismo, guerra, entre outros. É criador do Observatório Atena, perfil que visa difundir conhecimento sobre geopolítica, história e economia para estudantes, além de já ter trabalhado na Coordenadoria Especial de Relações Internacionais e Cooperação da Prefeitura do Rio de Janeiro, lecionar cursos de Geopolítica para jovens e escrever sobre Política Internacional em diversos portais.

 

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