O Acidente Vascular Cerebral (AVC), popularmente conhecido como “derrame”,
é a doença não infecciosa que mais matou no Brasil nos últimos cinco anos. Já
representa 85% dos casos no país e, somente no ano passado, levou mais de 110
mil pessoas ao óbito. Pela Sociedade Brasileira de AVC, são diagnosticados
cerca de 232 a 344 mil novos casos por ano, equivalente a uma média de 978 por
dia.
Isso significa que, neste exato instante, alguém está dando
entrada numa unidade de saúde em algum lugar do Brasil. E daqui a dois minutos,
outra pessoa passará pela mesma experiência. Nos casos de maior gravidade, do
momento que as veias se rompem até a intervenção adequada para tratar do caso,
essa pessoa está perdendo 1,9 milhão de neurônios por minuto. Isso dá uma média
de 14 bilhões de sinapses, desencadeando uma verdadeira corrida contra o tempo.
Em termos de estatística, estamos enfrentando praticamente uma epidemia de uma doença que pode ser evitada e tratada, mas que requer acompanhamento médico e, principalmente, um atendimento de emergência realmente rápido e eficaz.
O que vai determinar em boa parte desses casos se o prognóstico é
mais ou menos positivo será o tempo de atendimento correto que essa pessoa irá
receber. Em muitos casos os pacientes precisam ser referenciados a outras
instituições para esse tipo de intervenção e o tempo que isso leva, somado com
o deslocamento e a burocracia, realmente pode ser fatal ou deixar sequelas.
E aí temos uma questão estrutural, sistêmica, bastante desafiadora
no atendimento a essa pessoa: a falta de neurocirurgiões em boa parte do
território brasileiro. Como aplicar corretamente os protocolos que, em muitos
casos, requer que o especialista de fato faça a intervenção cirúrgica? Ou mesmo
que aquele colega plantonista em uma região mais distante ou precária saiba os
recursos que ele pode se valer para ajudar a tratar do paciente?
A defasagem demográfica de especialistas no Brasil é alta. A última atualização feita pela Academia Brasileira de Neurologia (ABN) no ano passado indicava um total de 6.776 neurologistas no país, o que corresponde a nem três médicos da especialidade por 100 mil habitantes.
Para suprir a necessidade de profissionais, principalmente em cidades pequenas, regiões rurais e áreas de difícil acesso, é possível utilizar a tecnologia como grande aliada nesse contexto. Regulamentada pelo CFM desde 2022 (Resolução nº 2.314/2022 ), a telemedicina é aquele recurso que vem para somar ao trabalho de colegas mais generalistas e que estão na linha de frente em situação bem extremas.
O médico que está na emergência tem a possibilidade de entrar em
contato com o especialista, devidamente credenciado no CRM, para solicitar
orientação para fazer um diagnóstico, colher informação sobre determinado
medicamento ou, ainda, buscar opinião sobre determinado exame. A interação entre
os profissionais pode ser feita por telefone, videochamada ou via chat, com a
presença ou não do paciente. Pode, inclusive, ser numa mesa de operação com o
procedimento em curso.
Apesar de muitos colegas contarem bastante com esse recurso facilitador e que, de fato, salva vidas, vejo ainda alguns receios. Entre questões culturais nossas e familiaridade com recursos assistivos de tecnologia, há quem ainda siga nos processos tradicionais para esses casos, que normalmente contemplam a transferência do paciente para outra unidade mais preparada, desencadeando uma jornada burocrática que nem sempre garante o melhor desfecho para o paciente.
Vivendo essa realidade de perto no extremo norte do Brasil,
entendi há alguns anos que, para salvar vidas, é preciso inovar. E pensar nesse
tipo de solução pode ser algo simples, mas que melhora bastante a prática de
colegas da saúde quanto a recuperação de pacientes.
Desde 2021, a Doc4Doc já atendeu 2517 casos de AVC conectando um time de neurologistas a plantonistas em 5 estados brasileiros. Além do auxílio no diagnóstico e atendimento com base nos protocolos para esses casos, chegamos a realizar cirurgias à distância nos casos mais graves, juntamente com a equipe de saúde que estava com o paciente na emergência.
A ideia sempre foi oferecer especialidades médicas a uma ligação ou mensagem de distância, esteja onde médico e paciente estiverem. De modo geral, a Doc4Doc tem diminuído o número das transferências em 90%.
Quando o médico que está no atendimento in loco tem a
possibilidade de consultar uma equipe especializada em neurologia e
neurocirurgiões, todos ganham. O procedimento pode resultar não só em uma vida
salva, como também em uma melhor recuperação, além da redução de sequelas.
Diante de um AVC, cada minuto importa.
Dr. Ramon G. Andrade - CFO e fundador da Doc4Doc, neurocirurgião focado em inovação.
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