Professor de Educação Física do CEUB revela que novas modalidades representam jovialidade no esporte e a possibilidade de inclusão de novos atletas
Os Jogos Olímpicos de Paris 2024 são uma grande oportunidade para apresentar novidades do cenário esportivo mundial. Entre as novas modalidades, estão o breaking, versão competitiva da dança break, e o caiaque cross, variação extrema da canoagem slalom. Tácio Santos, professor de Educação Física do Centro Universitário de Brasília (CEUB), detalha a inclusão dessas modalidades, seu impacto nos atletas e no público.
De acordo com o especialista, a principal motivação para incluir tais modalidades é um movimento que o Comitê Olímpico Internacional vem realizando em busca de se aproximar do público jovem. As últimas edições dos Jogos já integraram esportes radicais e de natureza, que, segundo estudos estratégicos, despertam maior interesse entre essa faixa etária. “É uma tentativa de renovar o público que acompanha as Olimpíadas e o movimento olímpico como um todo”.
Confira a entrevista do docente do CEUB, na
íntegra:
Quais são as novas modalidades
que foram incluídas nas Olimpíadas mais recentes?
TS: Nos Jogos Olímpicos de Paris 2024, temos a
inclusão de um novo esporte, o breaking, que é basicamente a competição
esportiva da dança break. Além disso, há uma nova modalidade dentro do esporte
canoagem, chamada canoagem slalom, com a introdução do caiaque cross, também
conhecido como caiaque extremo.
Como tem sido a aceitação dessas
novas modalidades entre os atletas e o público em geral?
TS: A aceitação do breaking tem sido expressiva.
Isso ocorre porque a modalidade não atrai apenas os praticantes da dança break,
mas toda uma comunidade envolvida com a cultura hip hop, incluindo atividades
rítmicas, música, grafite e outros elementos culturais. O breaking ainda tem
despertado interesse de pessoas envolvidas com outros tipos de dança e ritmos.
Desta forma, atrai um público que, anteriormente, talvez não estivesse tão
interessado nos Jogos Olímpicos.
Já o caiaque cross enfrentou uma certa resistência
dentro do próprio meio da canoagem, com dúvidas sobre o futuro da modalidade.
No entanto, atletas como o brasileiro PP, que vai competir na divisão masculina
em Paris 2024, abraçaram a modalidade desde o início. Com o tempo, outros
praticantes ao redor do mundo também se envolveram no caiaque cross,
contribuindo para sua consolidação.
Quais são as principais
características técnicas e regras de cada uma dessas novas modalidades?
TS: No breaking, o maior desafio é formatar as
disputas da dança break dentro de um formato esportivo. Há também a questão da
sobrecarga psicológica e mental, especialmente por ser a primeira edição dos
Jogos Olímpicos em que estará presente.
No caso caiaque cross, o maior desafio é a exigência
mental e física. A modalidade é conhecida como extremo devido à sua
complexidade. Ao contrário do slalom, onde os atletas percorrem o trajeto
individualmente em águas mais tranquilas, no caiaque cross, eles enfrentam
águas agitadas e desafios, como passar por portões contra a correnteza e
realizar um giro de 360 graus no sentido vertical, o que exige concentração e
resistência. Além disso, os atletas competem simultaneamente em grupos de
quatro, o que aumenta a demanda física e o risco de colisões.
Como as novas modalidades se
diferenciam das modalidades tradicionais em termos de treinamento e preparação
física?
TS: O breaking se diferencia da maioria das
modalidades do programa olímpico por exigir mais das capacidades físicas
coordenativas, como ritmo e equilíbrio, em vez das capacidades condicionais,
como força e velocidade. Isso não significa que os b-boys e b-girls não
precisem treinar essas capacidades, mas a modalidade demanda mais atenção para
aspectos coordenativos, algo semelhante ao que ocorre em modalidades como nado
sincronizado e patinação.
Para o C cross, a preparação mental e física é
intensificada devido à complexidade da prova. Os atletas precisam desenvolver
maior aptidão muscular, pois os caiaques utilizados são mais pesados do que os
do slalom. Além disso, a necessidade de lidar com a presença de adversários
durante a prova e realizar manobras complexas exige uma coordenação motora mais
apurada.
Acredita que mais modalidades
serão adicionadas aos Jogos Olímpicos no futuro? Quais você acha que têm
potencial para serem incluídas?
TS: Sim, acredito que mais modalidades serão
adicionadas no futuro. Já sabemos que o Flag Football e o Squash serão
incluídos em Los Angeles 2028. Observando o movimento do Comitê Olímpico
Internacional, modalidades que atraem o público jovem e que se inspiram em
esportes de natureza, como o surf e a escalada, têm grande potencial de
inclusão.
Há algum grupo específico de
atletas que pode ser mais beneficiado com a inclusão dessas modalidades?
TS: Sim, as modalidades de canoagem, especialmente
o caiaque extremo, podem beneficiar povos originários que têm uma conexão
cultural com diferentes tipos de caiaques e barcos. No caso do breaking, ele
pode beneficiar as comunidades ligadas à cultura hip hop, que frequentemente
incluem minorias sociais, como negros e latinos nos EUA, imigrantes na Europa e
pessoas de classes economicamente menos favorecidas na América Latina.
O que tem sido observado em
termos de desempenho e competitividade dos atletas nas novas modalidades em
comparação com as modalidades mais tradicionais?
TS: Ainda é cedo para fazer comparações entre as novas modalidades e as mais tradicionais, pois precisamos de pelo menos uma edição completa dos Jogos Olímpicos para estabelecer parâmetros comparativos adequados. No entanto, o Brasil se destaca na produção de estudos científicos que analisam atletas com base em parâmetros gerais, como aptidão cardiorrespiratória e força muscular, mas esses estudos ainda não foram realizados especificamente para modalidades como o caiaque cross e o breaking.
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