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quarta-feira, 7 de agosto de 2024

Dia Nacional de Combate ao Colesterol: sem adesão ao tratamento não há benefícios na sobrevida livre de eventos

 Cardiologistas e Pesquisadores do Hospital Alemão Oswaldo Cruz destacam a importância do risco cardiovascular do colesterol, adesão ao tratamento e novas terapias para prevenção cardiovascular baseada no colesterol

 

No Dia Nacional de Combate ao Colesterol, celebrado dia 8 de agosto, é fundamental reforçar a conscientização sobre a importância do controle dos níveis de colesterol, que quando elevado é um dos principais fatores de risco para infartos (IAMs) e acidentes vasculares cerebrais (AVCs), sendo essencial adotar medidas preventivas e tratamentos adequados. 

Segundo o Ministério da Saúde, as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no Brasil, com 300 mil mortes anuais. Um fator crucial nesse cenário é o colesterol acima de níveis ideais, com prevalência de aproximadamente 50% da população brasileira. 

De acordo com Prof. Dr. Álvaro Avezum, cardiologista e Diretor do Centro Internacional de Pesquisa do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, os estudos InterHeart global, InterHeart América do Sul e InterStroke (Population Health Research Institute, Canadá, com participação do Brasil) mostram os seguintes resultados em relação ao colesterol como fator de risco cardiovascular:

  1. Normalizar os níveis de colesterol da população mundial reduziria o risco de infarto agudo do miocárdio (IAM) em 49%. No Brasil o impacto seria ainda maior, com uma redução de 57% (16% a mais de redução no Brasil, mostrando maior impacto clínico no país).
  2. Significado clínico do controle do colesterol no Brasil: aproximadamente 200 mil infartos a menos por ano.
  3. Normalizar os níveis de colesterol na população mundial reduziria o risco de acidente vascular cerebral (AVC) total em 27%, e se for AVC isquêmico o impacto seria ainda maior, reduzindo 34%.
  4. Significado clínico do controle do colesterol no Brasil: aproximadamente 150 mil AVCs a menos por ano. 

Segundo o Prof. Dr. Álvaro Avezum o grande desafio global e nacional envolve a adesão terapêutica. Ou seja, terapias comprovadamente eficazes, que reduzem taxas de mortalidade cardiovascular, IAM e AVC, não têm sido efetivamente implementadas na população. 

“Isto é complexo pois envolve fatores em 3 níveis: população, médico ou profissional de saúde e sistema de saúde. Portanto, neste momento, mais importante do que gerar novas evidências científicas é a implementação eficiente das terapias baseadas em evidências disponíveis”, explica. 

Além disso, o estudo PURE, (Population Urban and Rural Epidemiology), coordenado no Brasil pelo Prof. Dr. Avezum, mostrou que aproximadamente 90% das mortes e dos eventos cardiovasculares (IAM, AVC e Insuficiência Cardíaca) poderiam ser evitados com o controle efetivo sobre os fatores de risco modificáveis e simples de identificação, como hipertensão arterial, colesterol, tabagismo, obesidade abdominal, diabetes, dieta, atividade física, força muscular, estresse e depressão. 

O estudo acompanha 250 mil participantes em 27 países, e na América do Sul (incluindo Brasil) 25.000 participantes, entre 35 e 70 anos, de comunidades urbanas e rurais, com seguimento médio de 15 anos até agora. 

Segundo o cardiologista e Diretor do Centro Internacional de Pesquisa do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, no mundo, 12 fatores de risco são responsáveis por morte prematura e por eventos cardiovasculares (como IAM, AVC e Insuficiência Cardíaca). “O controle efetivo destes fatores poderia atrasar essas mortes e reduzir os eventos cardiovasculares em 90%”, conta. 

Na América do Sul, incluindo o Brasil, 10 fatores modificáveis são responsáveis por 90% das mortes e dos eventos cardiovasculares. “Portanto, é possível alterar a data da morte em 90% e reduzir eventos em 90% (360 mil de 400 mil IAMs por ano, 450 mil de 500 mil AVCs por ano e 450 mil de 500 mil internações por insuficiência cardíaca por ano)”, completa. 

De acordo com o cardiologista e coordenador de práticas médicas do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Dr. Fábio Gomes, os níveis de colesterol são influenciados por diversos fatores, incluindo genética e estilo de vida. “Mesmo pessoas com uma dieta balanceada podem apresentar dislipidemia [níveis anormais de gordura no sangue] devido a fatores genéticos. Portanto, é recomendado que todos os adultos façam exames regulares de colesterol a partir dos 20 anos”, explica. 

O colesterol é uma gordura encontrada em todas as células do corpo, necessário para a produção de hormônios, vitamina D e substâncias que ajudam na digestão dos alimentos. Os principais tipos de colesterol são:

  • LDL (lipoproteína de baixa densidade): conhecido como colesterol "ruim", pode levar à aterosclerose, que é o cúmulo de placas de LDL nas paredes das artérias, o que causa obstrução do fluxo sanguíneo.
  • HDL (lipoproteína de alta densidade): o colesterol "bom", ajuda a remover o LDL das artérias. 

As diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) estabelecem que os valores ideais de colesterol total devem ser abaixo de 190 mg/dl e HDL acima de 40 mg/dl, sem diferenciação por pessoas de baixo, médio ou alto risco. Para o LDL, os valores variam conforme o risco cardiovascular: abaixo de 130 para risco baixo, abaixo de 100 para risco intermediário e abaixo de 70 para risco alto. 

A manutenção dos níveis de colesterol inclui a adoção de hábitos saudáveis, como praticar atividades físicas, dormir bem, se alimentar de forma saudável e evitar o tabagismo e comidas ultraprocessadas. Porém, em muitos casos, principalmente devido a fatores genéticos, o tratamento medicamentoso, acompanhado do especialista da saúde, é recomendado e necessário.

 

As estatinas são as drogas mais comuns para reduzir o colesterol LDL, entretanto, segundo o Dr. Fabio Gomes, recentemente, novos medicamentos, como os inibidores de PCSK9, proteína responsável por degradar os receptores que captam o LDL do sangue, têm sido introduzidos como alternativas mais eficazes, especialmente para pacientes com hipercolesterolemia familiar, doença hereditária que provoca colesterol alto, ou intolerância às estatinas.

 

"Embora as estatinas tenham sido o pilar do tratamento do colesterol elevado por muitos anos, os inibidores de PCSK9 representam inovação significativa. Eles atuam de forma diferente ao bloquear uma proteína específica, reduzindo os níveis de colesterol em até 50%, enquanto as estatinas, sozinhas, reduzem até 25%”, comenta.

 

Mudança no estilo de vida é essencial

Dr. Álvaro Avezum ressalta que o maior desafio é a implementação da mudança de estilo de vida (não fumar, praticar atividade física [aeróbica e força muscular], alimentação saudável e gerenciamento da saúde mental) e adesão eficiente aos tratamentos baseados em evidências disponíveis. 

Entretanto, em análise recente do Estudo PURE, após 10 anos da primeira análise, as taxas de adesão terapêutica não melhoraram. Na América do Sul, apenas 18% dos pacientes pós-IAM estavam usando medicamento para redução do colesterol e 10% dos paciente pós-AVC, sendo que no Brasil 20% dos pacientes pós-IAM e 30% pós-AVC não estavam usando nenhum medicamento, há 10 anos. 

“Temos que ser criativos para implementar estratégias junto com a população, profissionais de saúde e órgãos governamentais para assegurar a implementação do conhecimento científico existente em benefício à população, e assim, aumentarmos a sobrevida livre de eventos cardiovasculares no Brasil”, completa. 

 


Hospital Alemão Oswaldo Cruz
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